Bastou um coronavírus para o demonstrar.
Helena Ramos historia.
Magistralmente. Recebeu muitos apoios, mas também as chufas dos que continuam a
estrebuchar, como moscas que são, em velhos slogans raquíticos que ao menos
deveriam respeitar, pelo silêncio, os sacrificados da não-quarentena.
O fim do tempo que disseram nosso /premium
As celebrações do 25 de Abril de 2020 são a cerimónia
da brigada do reumático do regime instituído em 1974. Agora, tal como há 46
anos, o país está bloqueado e a situação é a normalidade.
HELENA RAMOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR 19 abr
2020
Aqui
estamos em 2020 de volta à casa da partida: o regime nascido em 1974 está a
passar à História. O impacto da epidemia acabou a expor quase
obscenamente uma classe política de tal forma alienada e anquilosada que já nem
vê como é ofensivo ir celebrar a liberdade e a igualdade numa cerimónia em que
os participantes fazem tudo aquilo que foi proibido aos demais portugueses.
Eles,
os donos do que dizem ser o nosso tempo, nem percebem como reproduzem, passo
por passo, os tiques do regime cujo final querem celebrar: depois de anos,
décadas, quase meio século a troçarem da cerimónia da brigada a que chamaram do
reumático (a 14 de Março de 1974, oficiais-generais dos três ramos das Forças
Armadas mostraram o seu apoio a Marcelo Caetano numa cerimónia em que
sobressaíram as ausências de Spínola e Costa Gomes) também eles estão
transformados numa brigada do reumático e reivindicam a sua cerimónia como se
ela fosse um amuleto.
Sem soluções para o futuro, agarrados
à vacuidade das palavras tantas vezes ditas e cansadas pelo confronto com uma
realidade que se tornou escarninha, precisam de celebrar a data fundadora do
regime já não como uma vitória sobre o passado, ou de exaltação do presente mas
sim como um exorcismo face a um futuro que temem e para o qual não têm
propostas. O combate aos fascismos futuros cumpre agora o papel retórico de
anos de evocações e recriações dos fascismos passados: iludir o momento em que
alguém faça o balanço entre o prometido a 25 de Abril de 1974 e o concretizado
nos anos seguintes.
(A propósito das declarações de Ferro Rodrigues sobre a
celebração do 25 de Abril na AR– “A Assembleia da República não saiu do terreno da vida
política democrática com a pandemia, o estado de emergência ou a pressão de
saudosistas, anti-parlamentares ou seguidores de fake news“– alguém
consegue na muito longa carreira do actual presidente da Assembleia da
República descobrir um pensamento, uma frase ou uma ideia que se elevem um
pouco acima do constrangedor?)
Mas
o Covid expôs mais. Expôs na DGS uma administração pública cada vez mais servil
perante o poder político e menos apta para servir o povo. Expôs uma comunicação
social mais interessada em provar as suas teses sobre o mundo do que em
informar: assim os mesmos jornais portugueses que detalham com afinco o
falhanço da administração norte-americana no combate ao Covid-19 não conseguem
produzir uma notícia que seja sobre um país aqui bem próximo onde uma
catástrofe está a acontecer perante a indiferença geral: a Bélgica.
A Bélgica tem
uma população semelhante à portuguesa, fez muitos menos testes, tem duas vezes
mais casos e o número de mortos é quase sete vezes superior ao português. Como
é isto possível? E como é possível que não seja destacado?
A
pandemia expôs também uma fractura que não tem parado de crescer na sociedade
portuguesa: as
desigualdades crescentes entre o país do partido-Estado, de que
falava Medina Carreira, (esse país
não só se adaptou muito bem às medidas de confinamento como não lhe parece
inviável vivermos em quarentena enquanto existir um caso de Covid-19) e o outro país, o do sector privado, muito
particularmente esse sector privado que o estatismo-socialista
detesta: os micro e pequenos
empresários que ficaram privados de rendimento e agora ficam também fora dos
planos de apoio anunciados pelo Governo.
E
sobretudo os tempos da pandemia mostraram-nos o que já sabíamos: não é
necessário que existam censura ou polícia política para que na
sociedade portuguesa se crie um pensamento único, basta que o poder seja de
esquerda. Quarenta
e seis anos depois do 25 de Abril aqui estamos presos naquela patética
armadilha em que discordar do governo ou criticá-lo não é discordar do governo
ou criticar o governo mas sim criticar o país e estar contra Portugal. Noutros
tempos chamou-se a isto a situação. E agora será cidadania?
COMENTÁRIOS:
José Marques: Grande Helena! Dê-lhes forte, aos que mais
beneficiaram com o seu 25 de Abril. Uma cambada de parasitas que vivem do
Estado e da herança do 25 de Abril. Gente bem-falante, retórica vazia. A forma
como justificam as comemorações do 25 de Abril é exactamente a mesma que
serviria para não o permitir. Chupistas.
José Mendes: A revolução democrática de 25 de Abril de 1974 foi consequência de 48 anos
de luta unitária e revolucionária. Essa luta instalou as condições objectivas e
subjectivas que uniu os portugueses e os povos de Cabo Verde, Guiné Bissau,
Angola, Moçambique e Timor Leste. O que se comemora todos os anos no dia 25 de Abril é a
derrota militar do Império Colonial Fascista e a consequente libertação dos
povos subjugados por esse Império. Libertaram-se em simultâneo os povos português,
cabo-verdiano, guineense, angolano, moçambicano e timorense. Os presos
políticos foram libertados por pressão popular, os instrumentos de perseguição,
prisão, tortura e morte que suportaram o fascismo de Salazar e Caetano foram
destruídos. O poder de legitimidade revolucionária instituiu o sistema de
delegação de poder através do voto. Uma pessoa um voto sem discriminação de
nenhum tipo. Foi assim eleita uma Assembleia Constituinte de 250 membros que
inscreveu na Constituição da República Portuguesa a natureza da democracia
pluralista que é o regime político português. É um dos mais modernos Regimes
democráticos do mundo. Na sequência do 25 de Abril várias ditaduras na Europa e
no mundo seguiram o exemplo da Constituição da República Portuguesa. É isso que
se vai comemorar no próximo dia 25 de Abril de 2020. De gira ficam os tontos
desorientados, perdidos e confundidos, os que misturam tudo e se confundem a si
próprios. Tenhamos pena deles, coitados.
Pena Fidelis > José Mendes: És
um néscio. Nunca os povos das antigas colónias viveram tanta miséria e falta de
liberdade. A independência apenas aproveitou às respectivas nomenklaturas.
Alberto Rei > José Mendes: Padre
José Mendes, a missa acabou já, podes parar de dizer liturgia. Não te lembras,
Padre Mendes, de uma coisa chamada guerra fria? não te lembras daquelas
"ajudas" dos camaradas russos aos povos da autodeterminação e tal ?
eles e os cubanos; mataram o Machel, o Neto, e o Amílcar Cabral, gente que
começou a ver que a tal ajuda trazia borrasca. E os teus apaniguados do Partido
Comunista, Cunhal, Otelo e afins, apressaram a coisa para lhes entregar de mão
beijada aquele tesouro, que eles afincadamente trataram de secar, e os povos da
autodeterminação lá continuam sem futuro. Passadas décadas e décadas, a
narrativa para a miséria continuava a ser: estamos assim por causa da
herança do colonialismo. Aqui, é a mesma treta, só que agora,
como bem explica HM (soberba cronista), são
fascismos futuros, só existem na imaginação da brigada do reumático. Não leis da
história não, Padre Mendes, continua a dizer missa, e canta a Grândola.
Manuel Dias:
Parabéns Helena. Todo o seu artigo é um hino à revolta
de oprimidos pelas elites bem pensantes, porque se dizem de esquerda, mas têm
os comportamentos de donos de tudo.
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