Carlos Traguelho disse o que
eu também penso sobre uma provável união económica entre os países da CPLP. Se já a confusão se reflecte nas
bacoradas de um AO rastejante,
que mais não viria a suceder entre povos que, pese embora os laços criados na
colonização anterior, em caso de união económica tudo seria bem trágico, dadas
as cisões e as diferenças de mentalidades entre os respectivos povos, estes,
além do mais, com as suas próprias divergências internas, de foro, quantas
vezes, tribal, em que não poderíamos meter o bedelho, nem aceitar que o
metessem eles no nosso curto espaço europeu? Não sabemos o que vai acontecer no
pós covid-19, talvez vá
suceder o que se preconiza e Salles
da Fonseca bem descreve. Não sei o que será de nós sem a U E, e com uma dívida atroz, e gentinha nossa
a exigir aumentos, sabendo que tais aumentos implicarão uma dívida maior, em
labirinto inextricável de
desaires e rebaixamentos sem fim à vista. Teremos que aguardar e
trabalhar num sentido de assunção de responsabilidades e lutando por uma
continuidade no inter apoio anterior, pelo menos até ao ressarcimento da
dívida, em trabalho de facto sério, sem as usuais prevaricações. Seriedade,
sim, precisa-se.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A
BEM DA NAÇÃO, 17.04.20
Tout
passe, tout casse, tout lasse (tudo passa, tudo acaba, tudo cansa)
*
* *
Louvo-me
na opinião do Embaixador Francisco Henriques da Silva que resumo por palavras
minhas, não por transcrição, no que respeita ao novo mundo, o pós-viral:
A
globalização vingará sobre o globalismo dada a falta de eficácia (leia-se
utilidade, prestígio) das instituições multilaterais tais como a ONU e a UE que
tenderão a desaparecer ou a serem marginalizadas;
Tendo-se
a China conduzido à posição de inimiga do resto do mundo, deverá ser objecto de
embargo global;
Uma
vez que os EUA se remeteram à política do «America first», retiraram-se da
liderança do mundo ocidental;
A
Rússia ainda carrega o fardo de potência despótica e imperialista no leste
europeu pelo que concita a desconfiança dos seus vizinhos e não está em
condições de assumir qualquer líder regional;
A
União Europeia tem dado mostras de total incapacidade na resolução de problemas
gerais (sanitários – pandemias; financeiros, - dívidas soberanas; humanos –
imigrantes) em que os Estados-membro recorrem a políticas próprias sem qualquer
coordenação entre si numa de «sauve qui peut».
A
partir deste cenário, creio que:
Está na altura de nos deixarmos de hipocrisias e reconhecermos Taiwan
como Estado soberano oferecendo-lhe protecção militar internacional;
Devemos tentar remodelar a UE para a salvarmos do colapso de que se
aproxima, criar a NATO europeia e apostar fortemente no Euro mas aproveitando a
ocasião para repensarmos o Espaço Schengen de tal modo que possamos dar livre
estabelecimento em Portugal aos cidadãos da CPLP;
Devemos reforçar a
CPLP com uma estrutura militar e uma moeda comum;
Seria bom que tentássemos começar a pagar a dívida brutal que vamos
acumular no presente stress, antes que os juros subam.
Tudo
isto que digo poderá ser pura fantasia mas o mundo que se aproxima depois desta
pandemia que veio para nos destruir, vai ser muito diferente do antes dela.
A ver vamos…
Abril
de 2020
FIM
Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIO
Anónimo 17.04.2020: Por anunciares que é o teu último post sobre clausura
e pelas provocações nele contidas, gostaria de o comentar, a título de
aditamento ao teu artigo “clausura 14” e ao meu respectivo comentário. Sabendo
que a mesma água não passa duas vezes sob a mesma ponte, nem que a História se
repete nos exactos termos, tenho que concluir que o teu desejo, Henrique, sobre
Taiwan não é repetível. Foi uma experiência que, quanto a mim, teve a sua época
e por aí ficou. Mas mais profundo do que isso, está a problemática
geoestratégica em que actualmente vivemos – num lado uma potência estabelecida
(EUA) e noutro uma potência emergente (China). A História ensina-nos que
quando isso ocorre, há sempre tensões entre elas, pois a emergente tende a
imiscuir-se em algumas esferas até então tratadas como domínio reservado pela potência
estabelecida, e aquela suspeita de que esta pretende travar-lhe o crescimento
antes que seja tarde. Henry Kissinger,
no seu livro “A Ordem Mundial”
(2014), descreve bem este fenómeno e recorda que, segundo um estudo de
Harvard, nos 15 casos históricos em que uma potência emergente e uma
estabelecida interagiram, dez acabaram em guerra. Não estamos em guerra de
armas tradicionais ou nucleares, mas podemos estar perante uma arma
biológica. Não estamos só perante uma panóplia de notícias do FOX (às quais
dou pouca credibilidade), propagandeadas pelo Sr. Donald Trump. Às dúvidas sobre o verdadeiro papel da China na
origem desta pandemia, juntaram-se esta semana, pelo menos, o Ministro dos
Negócios Estrangeiros Britânico (actual Primeiro-Ministro em exercício de
funções) a instar que se saiba se o vírus foi ou não criado em laboratório, e o
Presidente Francês, Senhor Macron, a reconhecer “que há coisas que aconteceram
e que não sabemos” e que “há áreas cinzentas”. Uma investigação por entidade credível e independente
(temo que a OMS não reúna, de momento, essas características) impõe-se. Exigem-no os familiares de cerca de
duas centenas de milhares de mortos, para já, do COVID – 19, os mais de dois
milhões de infectados e as muitas centenas de milhões de vítimas (atuais e
futuras) económicas e sociais. Quanto aos
demais aspectos que citas, tendo a inclinar-me para a sua não
viabilidade, embora reconheça que a pandemia é ´susceptível de trazer um mundo
algo diferente, não sei se pior ou melhor.
A Europa já deu prova que não consegue constituir uma alternativa à NATO, e com
a ausência do Reino Unido pior, salvo se considerasse uma NATO europeia e
não, necessariamente, dentro da UE. Quanto a CPLP, fora do
contexto cultural (e, por vezes, até nele – pensa, por exemplo, no acordo
ortográfico e nas suas vicissitudes), há tantas divergências e não menos
limitações financeiras e económicas, bem como interesses não afins (o que os
países fundadores têm, em geral, a ver com a Guiné Equatorial?), que me
interrogo como será possível, mesmo a longo prazo, haver um reforço comum
militar e uma moeda comum. Este último aspecto, se bem entendo, implicaria que
Portugal deixasse de ter o Euro.
Angústia é o cenário que se aproxima, particularmente o que invocas – a
dívida. Mas termino como tu – A ver vamos.
Forte abraço. Carlos Traguelho
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