sábado, 18 de abril de 2020

Utopia?


Carlos Traguelho disse o que eu também penso sobre uma provável união económica entre os países da CPLP. Se já a confusão se reflecte nas bacoradas de um AO rastejante, que mais não viria a suceder entre povos que, pese embora os laços criados na colonização anterior, em caso de união económica tudo seria bem trágico, dadas as cisões e as diferenças de mentalidades entre os respectivos povos, estes, além do mais, com as suas próprias divergências internas, de foro, quantas vezes, tribal, em que não poderíamos meter o bedelho, nem aceitar que o metessem eles no nosso curto espaço europeu? Não sabemos o que vai acontecer no pós covid-19, talvez vá suceder o que se preconiza e Salles da Fonseca bem descreve. Não sei o que será de nós sem a U E, e com uma dívida atroz, e gentinha nossa a exigir aumentos, sabendo que tais aumentos implicarão uma dívida maior, em labirinto inextricável de desaires e rebaixamentos sem fim à vista. Teremos que aguardar e trabalhar num sentido de assunção de responsabilidades e lutando por uma continuidade no inter apoio anterior, pelo menos até ao ressarcimento da dívida, em trabalho de facto sério, sem as usuais prevaricações. Seriedade, sim, precisa-se.

HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 17.04.20
Tout passe, tout casse, tout lasse (tudo passa, tudo acaba, tudo cansa)
* * *
Louvo-me na opinião do Embaixador Francisco Henriques da Silva que resumo por palavras minhas, não por transcrição, no que respeita ao novo mundo, o pós-viral:
A globalização vingará sobre o globalismo dada a falta de eficácia (leia-se utilidade, prestígio) das instituições multilaterais tais como a ONU e a UE que tenderão a desaparecer ou a serem marginalizadas;
Tendo-se a China conduzido à posição de inimiga do resto do mundo, deverá ser objecto de embargo global;
Uma vez que os EUA se remeteram à política do «America first», retiraram-se da liderança do mundo ocidental;
A Rússia ainda carrega o fardo de potência despótica e imperialista no leste europeu pelo que concita a desconfiança dos seus vizinhos e não está em condições de assumir qualquer líder regional;
A União Europeia tem dado mostras de total incapacidade na resolução de problemas gerais (sanitários – pandemias; financeiros, - dívidas soberanas; humanos – imigrantes) em que os Estados-membro recorrem a políticas próprias sem qualquer coordenação entre si numa de «sauve qui peut».
A partir deste cenário, creio que:
Está na altura de nos deixarmos de hipocrisias e reconhecermos Taiwan como Estado soberano oferecendo-lhe protecção militar internacional;
Devemos tentar remodelar a UE para a salvarmos do colapso de que se aproxima, criar a NATO europeia e apostar fortemente no Euro mas aproveitando a ocasião para repensarmos o Espaço Schengen de tal modo que possamos dar livre estabelecimento em Portugal aos cidadãos da CPLP;
Devemos reforçar a CPLP com uma estrutura militar e uma moeda comum;
Seria bom que tentássemos começar a pagar a dívida brutal que vamos acumular no presente stress, antes que os juros subam.
Tudo isto que digo poderá ser pura fantasia mas o mundo que se aproxima depois desta pandemia que veio para nos destruir, vai ser muito diferente do antes dela.
A ver vamos…
Abril de 2020
FIM
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIO
Anónimo 17.04.2020:  Por anunciares que é o teu último post sobre clausura e pelas provocações nele contidas, gostaria de o comentar, a título de aditamento ao teu artigo “clausura 14” e ao meu respectivo comentário. Sabendo que a mesma água não passa duas vezes sob a mesma ponte, nem que a História se repete nos exactos termos, tenho que concluir que o teu desejo, Henrique, sobre Taiwan não é repetível. Foi uma experiência que, quanto a mim, teve a sua época e por aí ficou. Mas mais profundo do que isso, está a problemática geoestratégica em que actualmente vivemos – num lado uma potência estabelecida (EUA) e noutro uma potência emergente (China). A História ensina-nos que quando isso ocorre, há sempre tensões entre elas, pois a emergente tende a imiscuir-se em algumas esferas até então tratadas como domínio reservado pela potência estabelecida, e aquela suspeita de que esta pretende travar-lhe o crescimento antes que seja tarde. Henry Kissinger, no seu livro “A Ordem Mundial” (2014), descreve bem este fenómeno e recorda que, segundo um estudo de Harvard, nos 15 casos históricos em que uma potência emergente e uma estabelecida interagiram, dez acabaram em guerra. Não estamos em guerra de armas tradicionais ou nucleares, mas podemos estar perante uma arma biológica. Não estamos só perante uma panóplia de notícias do FOX (às quais dou pouca credibilidade), propagandeadas pelo Sr. Donald Trump. Às dúvidas sobre o verdadeiro papel da China na origem desta pandemia, juntaram-se esta semana, pelo menos, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico (actual Primeiro-Ministro em exercício de funções) a instar que se saiba se o vírus foi ou não criado em laboratório, e o Presidente Francês, Senhor Macron, a reconhecer “que há coisas que aconteceram e que não sabemos” e que “há áreas cinzentas”. Uma investigação por entidade credível e independente (temo que a OMS não reúna, de momento, essas características) impõe-se. Exigem-no os familiares de cerca de duas centenas de milhares de mortos, para já, do COVID – 19, os mais de dois milhões de infectados e as muitas centenas de milhões de vítimas (atuais e futuras) económicas e sociais. Quanto aos demais aspectos que citas, tendo a inclinar-me para a sua não viabilidade, embora reconheça que a pandemia é ´susceptível de trazer um mundo algo diferente, não sei se pior ou melhor. A Europa já deu prova que não consegue constituir uma alternativa à NATO, e com a ausência do Reino Unido pior, salvo se considerasse uma NATO europeia e não, necessariamente, dentro da UE. Quanto a CPLP, fora do contexto cultural (e, por vezes, até nele – pensa, por exemplo, no acordo ortográfico e nas suas vicissitudes), há tantas divergências e não menos limitações financeiras e económicas, bem como interesses não afins (o que os países fundadores têm, em geral, a ver com a Guiné Equatorial?), que me interrogo como será possível, mesmo a longo prazo, haver um reforço comum militar e uma moeda comum. Este último aspecto, se bem entendo, implicaria que Portugal deixasse de ter o Euro. Angústia é o cenário que se aproxima, particularmente o que invocas – a dívida. Mas termino como tu – A ver vamos. Forte abraço. Carlos Traguelho


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