domingo, 26 de abril de 2020

Leite derramado



 O Sr.Ganganeli Pereira explica o que sabemos, e foi assim que aconteceu. O Dr. Salles considera pura especulação a sua hipótese e é-o, de facto. Nós somos sempre a “Belle au bois dormant”, esperando a salvação do Príncipe. Não vale a pena esperar pelo príncipe, quando se vai dormindo no bosque. O que era necessário é que as camadas de jovens que vêm vindo crescessem em compostura e saber, mais entregues a uma formação real que não misturasse tudo no mesmo saco, em pura massificação anárquica que envencilha hoje a sociedade. Não, nunca seremos mais do que aquilo que somos, povo simpático mas impreparado, desde sempre, apesar das arremetidas de mudança nesse capítulo, que vão tendo alguns resultados aqui e além, mas que não criam raízes fundas, os que vão ao leme da barca, mesmo ilicitamente, usando os seus truques para o não perderem e o resto de nós acomodando-se ou largando os tiros do seu próprio humor que divertem e aquecem os corações, mas não saem disso. Também Eça e a sua geração nos descrevera, com graça inesperada, o encanto dos seus livros como resultado das suas vivências no exterior, entre outras razões, mas, de mudança política em mudança política, não de cem anos como la Belle, mas de vinte ou quarenta ou, neste momento já quase cinquenta, para continuar, nunca receberemos o beijo do Príncipe que nos desperte de vez, porque a nossa passividade nos leva à acomodação no sono. E hoje mais do que nunca, em quarentena amansada.

Como teria sido se não tivesse sido como foi? - O LEITE DERRAMADO
* * *
Reformulo a pergunta: - Que teria acontecido se nós, os que tínhamos esperança no Professor Marcelo Caetano, nos tivéssemos antecipado e feito um golpe de Estado contra os «ultras» do caduco Estado Novo?
Resposta: -Pura especulação.
Especulemos, pois…
- Teríamos apeado o Almirante Américo Tomás do cargo que ocupava e para que fora administrativamente nomeado por uma Assembleia Nacional também ela administrativamente nomeada pela caduca União Nacional transfigurada em Acção Nacional Popular;
- Teríamos pedido ao Professor Marcelo Caetano que assumisse a Chefia interina do Estado até que, num prazo de um ano, se realizassem eleições livres e, portanto, pluripartidárias;
- Teríamos pedido ao Dr. Sá Carneiro que assumisse o cargo de Primeiro Ministro de um Governo Provisório cujo mandato seria:
Preparar a realização de eleições livres e, como tal, pluripartidárias no prazo de um ano;
Preparar eleições livres e, portanto, pluripartidárias, em cada um dos territórios ultramarinos e consequente constituição de Assembleias Legislativas;
Redigir uma Constituição provisória que seria referendada na primeira legislatura da Assembleia resultante das eleições.
E se…
… o Professor Marcelo Caetano não aceitasse?
… o Dr. Sá Carneiro não aceitasse?
… apesar da jura de fidelidade ao Professor Marcelo Caetano, a Brigada do Reumático não colaborasse?
… ficávamos com o «menino» nos braços e alguma solução haveríamos de encontrar pois…
em democracia não há homens insubstituíveis
Na certeza, porém, de que as soluções alternativas não passariam pela sovietização de Portugal nem das suas colónias como esteve subjacente ao 25 de Abril de 1974 em que a liberdade, ainda hoje badalada, foi a que os comunistas adquiriram de prender os não comunistas.
São desconhecidos os resultados de experiências não experimentadas mas duvido que Moscovo pactuasse com o que deveríamos ter feito, a antecipação em dois anos do 25 de Novembro de 1975.
Deixemo-nos, pois, de carpir agora sobre o leite derramado e não percamos tempo com especulações inúteis mas paremos também com os cânticos absurdos à glória soviética.
25 de Abril de 2020
Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:
Francisco G. de Amorim 25.04.2020: Esses cantos a esquerda caviar não cala. Nem ela nem a mídia, porque isso é que dá dinheiro. Desse sonho do "como deveria ter sido" há muito despertei, e hoje cada vez mais desconfio que nunca mais vamos sair desta canalha!
Isabel Pedroso 25.04.2020: PALAVRAS PARA QUÊ tá aqui tudo resumido e bem. Mas era bom fazer alguma coisa e não ficar só pelas PALAVRAS é k a esperança é a última a morrer e a pobrezinha já tá tão Fraquinha 
Ganganeli Pereira 25.04.2020: Interessante especulação para dizer alguma coisa sobre o passado, mas vamos abordar aqui alguns factos que podem servir-nos para compreender alguma coisa sobre a realidade então vivida. Não sei o por quê do termo de chamar reumáticos aos militares de patente mais alta para além de capitães do quadro permanente que com as armas nas mãos defenderam um Portugal de Minho a Timor desde 1961 até à revolução de 25.4.74 em Lisboa, em colaboração com o governo e as mais altas patentes militares, e permitiram até lá o desenvolvimento como nunca dantes visto naquelas partes ultramarinas, com o apoio das populações locais nativas e sua tropa local que em 1974 já era quase 60% dos efectivos, que sempre mostraram suponho eu muito apreço aos jovens ultramarinos que por lá obrigados iam prestar serviço militar, com a aplicação dos planos de fomento iniciados na década de 1950, além dos primeiros 15 anos de lançamento das infraestruturas básicas e elementares, que a I República tinha deixado o país mais atrasado da Europa Ocidental e quase 90% analfabeto. Os povos ultramarinos estavam ainda pior. Até 1975 tudo isso tinha sido superado dentro do possível, em Portugal o analfabetismo era nessa altura 30%, ainda hoje é apreciada a Telescola de então iniciada na década de 1960 para levar o ensino básico e elementar aos sítios mais rurais e isolados. O 25.4.74 foi afinal a obra do próprio regime inconformado por não ter apoio maioritário na ONU e em 1973 com o uso dos mísseis soviéticos na Guiné através do PAIGC que hoje se encontra insulares, estão hoje nas ruas de amargura com o retrocesso do progresso económico e social que o anterior regime dos ditos reumáticos por lá ia executando, antes da democratização. A ideia da democratização surgiu com o livro, "Passado, presente e futuro" do então General Spínola na altura governador da Guiné, publicado em 1973, para assim após a abertura democrática e consultado o povo de cada território, instalar uma verdadeira democracia no seu todo. Foi o pontapé de saída para a revolução contra o anterior regime, mas o Spínola teve que fugir para a Espanha e o Portugal caiu nas garras dos mentores soviéticos ou comunistas pois estes conseguiram a transformação das mentalidades de alguns dos próprios militares golpistas que inicialmente queriam uma transformação pacífica para a democracia e tudo caiu nas mãos dos anti-democratas. O ultramar foi entregue aos mandantes dos grupos guerrilheiros que lá mentalizaram o povo para uma ditadura, durante o governo de transição que durou quase 1 ano. Mas Portugal libertou-se da ditadura comunista com o 25.11.75, enquanto os principais países, Angola, Moçambique e Guiné, ainda não se conseguiram obter uma democracia e progresso que todo o mundo almeja. E hoje todos os países estão da CPLP estão com uma brutal dívida pública externa, incluindo Portugal. Em Portugal ficou-nos apenas a liberdade, o desenvolvimento que tivemos foi uma continuação do ritmo anterior. Em Portugal apenas celebramos a liberdade, mas nos países em causa no ultramar não se celebra esse dia da liberdade que em vez de liberdade levam a porrada, fome e miséria.


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