E aprendendo, alegremente, a curiosidade desperta…
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 29.04.20
Deixei-me
encantar por San Sebastian e
naquela idade não sabia nada do que, entretanto, aprendi. Achei a baía
esplendorosa mas adivinhei logo que àquelas águas deviam faltar pelo menos 10º
C para que eu me metesse lá dentro.
Não
me lembro ao certo por que horas da manhã lá andámos mas achei pouca gente nas
imediações da praia. Ainda deviam estar a dormir. Barkamena[i]!
A aristocracia frequentadora de San Sebastian não dorme, descansa.
Foi
pela arquitectura geral que me pareceu andar por ali muita
prosperidade e adivinhei que a aristocracia «a banhos» (gelados) seria bem
endinheirada e que viria de todas as Espanhas – daí, o cosmopolitismo que
referi no texto anterior. Algo me disse – imaginação pura – que os estrangeiros
que por ali andavam à babugem, talvez na gigolade, seriam uns pelintras
comparados com os espanhóis veraneantes.
Sim,
chique mas, vim a saber muito mais tarde, os segredos por ali guardados não
eram apenas mexericos e fofocas sociais ou de lupanares de luxo, eram também
dos pesados e conformes à lei da bomba. Os
contrafortes dos Pirenéus que para ali descem separam duas metades duma Nação
que não se enquadra nem com um dos lados da fronteira desenhada a seu
descontentamento nem com o outro. A
diferença entre as duas metades estava em que de um lado havia uma ditadura que
impunha uma vontade não negociável e do outro já então havia uma democracia em
que a maioria salvaguardava os direitos das minorias. Quem visitasse San Sebastian como eu estava a
fazer (e, sobretudo, com a idade que eu então tinha), não imaginava a «cultura
de fronteira» que por ali contava com décadas de clandestinidade cuja faceta
mais benigna seria o contrabando de produtos em falta aqui ou ali. Mas a
passagem de refugiados e de armamento, sim, era a especialidade daqueles
furtivos nacionalistas. Quem olhasse para todo aquele esplendor mundano, não
imaginava a presença de uma forte tradição maquisarde.
Não se julgue, contudo, que a
passagem «a salto» era só para fugitivos de cá para lá. Durante a segunda
guerra mundial, já com Franco no poder, muitos foram os membros da Resistência
Francesa que se acoitavam nos Pirinéus espanhóis das investidas do Regime de
Vichy nos Pirinéus franceses, muitos os judeus que ali chegaram com destino a Lisboa
atravessando Espanha em segredo. E, vencido Pierre Laval e regressada a paz a
França, então sim, muitos opositores aos regimes de Salazar e Franco que
passavam para o lado de lá. Tráfego
humano? Sim, mas também há quem lhe chame «fuga para a liberdade de cada um».
Fora a escravatura, tudo o resto era política.
E
foi ao lado de todos estes sítios que passei sem me aperceber de nada.
Hendaia à vista, lá vamos nós…
(continua)
Abril
de 2020
Henrique
Salles da Fonseca
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COMENTÁRIO
Francisco G. de Amorim 29.04.2020: Terras
de dois dos meus bisavós! Também lá passei a correr, mas não consegui procurar
parentes por San Sebastian estava sob um enorme inundação! Azar.
NOTA DA
INTERNET:
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
San
Sebastián (em castelhano) ou Donostia (em basco),
oficialmente Donostia/San Sebastián, é
uma cidade espanhola
localizada no País Basco espanhol, capital da província de Guipúscoa.
Rodeada pela Baía da Concha, à beira do golfo
da Biscaia, a cidade tem cerca de 183 000 habitantes, enquanto sua periferia
possui aproximadamente 400 mil residentes.
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