segunda-feira, 13 de abril de 2020

Numa penada



Dá-nos Salles da Fonseca uma lição de catequese sobre a quadra festiva que uma inesperada quarentena tornou mais solitária, extintos os habituais encontros festivos, reduzidos este ano às mensagens pelo telefone ou pelos tablets da visualização a distância. Que mais nos irá acontecer? Mas gostámos da lição, é claro. Para meditação.

CLAUSURA – 10   O TEMPO NOVO
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 12.04.20
Páscoa feliz para quem ler este escrito. E também para quem o não ler.
No meu escrito anterior prometi que desta vez seria mais objectivo e me deixaria de volatilidades literárias como aquelas de que nele tratei. Vamos, então, a temas concretos.
* * *
O Natal comemora a passagem do tempo do Pai para o tempo do Filho e a Páscoa celebra a passagem do tempo do Filho para o tempo do Espírito Santo, este em que estamos. E é neste tempo que ficaremos até à Parúsia e, então e só então, passaremos ao Juízo Final. E porque a Páscoa significa a ressurreição de Cristo com a Sua desmaterialização e passagem à imaterialidade espiritual, o Espírito Santo que permanece entre nós, esta é de facto a festa maior do Cristianismo. A ressurreição é o fundamento da fé cristã.
Mas o Cristianismo é mais do que a sua Religião pois há quem não se sinta ligado aos dogmas da fé mas cumpra “religiosamente” os seus preceitos morais e, por consequência, adopte o respectivo código ético. E, dentre estes, há-os certamente que nascem, vivem e morrem sem nunca terem assistido – e muito menos participado - a cultos religiosos.
E os outros, esses que não são religiosos – de qualquer religião - e não cumprem princípios morais nem regras éticas? Esses são casos de Polícia e foi sobretudo por causa deles que nasceram os quadros jurídicos em que todos navegamos.
No Ocidente, conseguimos laicizar a definição do bem e do mal, conseguimos avançar na parametrização do bem comum.
Mas não deixa de ser interessante recordarmos algumas questões em torno do bem e do mal.
O mal está no contrário do bem. Portanto, basta encontrarmos o bem para que, no seu oposto, nos deparemos com o mal.
E o que é o bem?
O bem é o que está conforme à ética e à moral sendo esta a questão dos princípios e aquela a dos factos.
A condição ética definida pela síntese do «eu, tu, ele», enquadra-nos na síntese do ideal social definido pela questão: o que é que eu quero, posso e devo fazer por ti sem o prejudicar a ele, esse terceiro que pode nem sequer ser nosso conhecido?
Uma atitude inicial que parte do voluntarismo traduzido pelo «quero», que reconhece – com mais ou menos humildade – as limitações pessoais através do «posso» e que se auto impõe o «dever»: altruísmo, humildade, sentido do dever.
Aí está ele, o contrário do bem, o mal representado pelo egoísmo, pela arrogância e pela irresponsabilidade.
E se passarmos do singular ao plural na síntese do «nós, vós, eles», chegamos ao bem-comum (a que também poderemos chamar «Sentido de Estado»): o que é que nós podemos fazer por vós sem os prejudicar a eles, esses terceiros que não sabemos sequer quem são.
Eis-nos assim regressados aos primórdios da distinção entre o bem e o mal.
Estes são temas sobre que nunca é demais pensar, sobretudo num dia em que celebramos a transição para um tempo anterior ao Juízo Final. Até porque, como dizia Pascal no seu argumento ontológico, mais vale crer, em que tudo se pode ganhar, do que não crer e tudo se perde pela certa.
(continua)
Abril de 2020
Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:
Francisco G. de Amorim, 12.04.2020: Muito bom. Obrigado
Henrique Salles da Fonseca, 12.04.2020: Gostei imenso. Helena Salazar Antunes Morais
Henrique Salles da Fonseca 12.04.2020: Estimado Doutor Henrique Salles da Fonseca,: Muito interessante mesmo a sua reflexão em tempo Pascal. Como bem diz a Páscoa celebra a passagem do tempo do Filho para o tempo do Espírito Santo e a Páscoa sempre representou a passagem de um tempo de trevas para outro de luzes, muito antes de ser considerada uma das principais festas da cristandade. No Médio Oriente a cerimónia do lava-pés é um dos pontos altos da comemoração: Na Quinta-Feira Santa, os padres convidam mendigos a entrar, lavam-lhes os pés e dão-lhes presentes, para lembrar o acto que Jesus Cristo também praticou.
Em contraste, as tradições pascais da Suécia e de outros países escandinavos lembram muito o Halloween norte-americano. Na Quinta-Feira Santa ou na véspera da Páscoa, as crianças suecas vestem-se como bruxos e visitam os seus vizinhos, deixando um cartão decorado (a "carta de Páscoa"), esperando receber um doce ou dinheiro em troca. Esse costume tem origem numa lenda local, que dizia que, durante a Páscoa, a actividade das bruxas e bruxos crescia.
Hoje, 11 Abril de 2020, tudo é diferente em todo o Mundo! A minha reflexão em domingo de Páscoa:
É domingo de Pascoa, está um dia lindo, cheio de sol, boa temperatura. Faz de conta: que vestiste o traje mais bonito que tens, e te enfeitaste com colares e brincos, que tens a mesa repleta de iguarias especiais, bolos, doces, amêndoas, folar, puseste a tocar ‘Aleluia’ de Bach convidaste amigos para festejar o dia  que os amigos trazem prendinhas, pequenos-nadas, que te oferecem sorrisos e abraços muito apertados que te dizem 'o teu cozinhado cheira tão bem' que todos se sentam à mesa e brindam à amizade, à saúde, à liberdade, à esperança, que a refeição é pascal pois imolaste um cabrito como manda a tradição* que não sobra nada que todos contêm as lágrimas por estarem juntos que é domingo de Páscoa  que um dia isto será realidade… lá para o ano de...
*Êxodo 12 O Senhor disse a Moisés no Egipto:Este deverá ser o primeiro mês do ano. Digam a toda a comunidade de Israel que no décimo dia deste mês todo homem deverá separar um cordeiro ou um cabrito, para a sua família, um para cada casa. ================
Receba, Caro Doutor os meus cumprimentos Pascais Mª Emília Gonçalves
Henrique Salles da Fonseca 12.04.2020: Gostei muito. Grande abraço, Nuno Tavares


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