Sobre o texto de Salles da Fonseca, eu só
lembro o poema de Eugénio de
Andrade – Urgentemente – ainda que
pareça não vir a propósito, excepto no significado de urgência: É urgente permanecer – daí que seja
urgente reconstruir, segundo o modelo do apelo de SF: E que
tal chamar gente sabedora em vez de deixarem as decisões aos políticos ou a
técnicos que desconhecem o local?
Urgentemente
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de
Andrade (1923 – 2005), in "Até
Amanhã"
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA
NAÇÃO22.04.19
ENG. MORENO FERREIRA
QUEM É E O QUE DIZ
Para
além de portos, pontes, igrejas e edifícios de habitação, o Eng. Marcelo
Moreno Ferreira,
projectou e executou nas décadas de 1950/1970 em Moçambique grandes obras de
engenharia, algumas delas hoje ícones nacionais moçambicanos como é o caso da
famosa
FOTO: ESTAÇÃO DOS CAMINHOS DE FERRO
DA BEIRA.
Duas
obras suas constam da publicação da Ordem dos Engenheiros "100
obras da Engenharia Portuguesa no século XX".
Das
condições actuais da Beira e sua envolvente:
Foi
por decisão de Marcelino dos Santos que, por receio de ataques inimigos, se
destruiu o mangal na zona da Praia Nova, se autorizou a construção de casas
(precárias) onde era o mangal e na própria Praia Nova, encerrando um curso de
água;
MAPA: Zona destruída associada ao
ciclone Idai.
A Praia Nova invadida por habitações (FOTO
pós Idai)
Antes
da independência, a municipalidade ia gradualmente eliminando os bairros
degradados em redor da cidade;
À
altura da independência, o sistema de saneamento da Beira era dos mais modernos
de Moçambique.
Sobre
se os esporões ao longo da praia na Beira foram construídos naquela posição
(oblíqua) para conter as areias face à corrente do Rio Pungue no tempo das
cheias, ficámos a saber que a corrente que faz o transporte das areias é
chamada de deriva
litoral. Na Beira ocorre de NE para
SE, por isso a maioria dos esporões entre o Macuti e a Ponta Gea estão assim
orientados para conter as areias dessa deriva. A areia que alimenta este troço
costeiro da Beira vem do Rio Zambeze, a 300 km de distância.
As
descargas do Rio Buzi não influenciam a erosão na praia da Beira.
Quando
a amplitude das marés específicas da costa moçambicana é de cerca de 7 metros
(na costa angolana é de cerca de 4 metros), provoca movimentações de grandes
volumes de água e por certo que também influencia a erosão ao longo da praia.
Que sim, a Beira tem as maiores marés de todo o continente Africano, em 25 mil
km de costa, a grande amplitude de marés na Beira provoca vários efeitos na
costa.
(NOTA – desde a Foz do Rovuma à
Ponta do Ouro, a costa moçambicana tem cerca de 2770 kms)
A
Praia Nova foi criada no final dos anos 60 para receber a areia das dragagens
do canal de acesso ao porto e armazenar areia para posteriormente servir para
fazer aterros na cidade bem como o prolongamento dos cais no porto, assim
reforçando a função dos esporões sem interferir com o mangal. Os excedentes das
dragagens eram vendidos para aterro e para a construção (fabrico de betão,
etc.).
E
a questão é: - E que tal chamar gente sabedora em vez de deixarem as
decisões aos políticos ou a técnicos que desconhecem o local?
Abril de 2019
Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIO:
Adriano Lima 22.04.2019 12:11: Por ter estado em Moçambique de 1971 a 1974, aquela
terra conquistou o meu coração. Por acaso, mais do que Angola, por onde também
andara, uns anos antes. Talvez porque em Moçambique, já mais velho, a beirar os
30 anos, o meu olhar sobre as coisas fosse mais envolvente, apreendendo a
realidade humana numa dimensão outra. Com este texto, o Dr. Salles da Fonseca
mostra-nos que também não lhe foi indiferente a terra moçambicana, por onde sei
que também andou. Está aqui uma informação de utilidade para quem quiser estar
a par da reconstrução do que a natureza devastou na cidade da Beira e toda a
província. Desconhecia que as marés em Moçambique são as de maior amplitude em
todo o continente. Oxalá sigam o conselho aqui deixado: chamar gente sabedora
para ajudar na reconstrução. O eng. Moreno Ferreira estará disponível? É provável que sim. Fui à net
pesquisar e verifiquei que em 2015 almoçou na Beira com o presidente do
município, apresentando-se na fotografia da notícia em boa forma física. Não
posso deixar de registar a minha admiração pela variedade dos temas abordados
neste blogue e pela forma suave e simultaneamente profunda como são tratados.
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