O artigo de Rui Ramos, historiando as razões do Brexit, parece defendê-lo,
responsabilizando a U E na sua intransigência contra o RU. Logo provocou
comentários ferozes, cujas razões nos vão alertando para a fragilidade dos
conceitos de RR, sobretudo
o primeiro comentador, Miguel
Queirós, que se atira assanhadamente contra o articulista, em texto ainda mais
extenso do que o deste, desmontando os seus argumentos e combatendo-os. O mesmo
fazem muitos outros, tornando o assunto lição preciosa, que nos transmite
tantos dos cordelinhos que movem os vários intervenientes na farsa. Gostei da
lição e termino com o comentário seguinte, de William Smith, que coloco
antecipadamente, como uma nota de humor e graça, em que alinho: “Eu já não percebo nada
relacionado com o Brexit. Mas o pior é que já reparei que todo o mundo tem uma
opinião sobre o assunto. A minha, de certeza que é igual a uma delas. São
tantas! No entanto, se virmos bem, tem de haver alguém (se ainda não morreu)
que saiba realmente o que se está e irá passar.”
OBSERVADOR, 5/4/2019
O Brexit revela a vulnerabilidade da União Europeia, incapaz de lidar com questões políticas e diplomáticas, a não ser sob uma forma legalista e burocrática.
Se
houvesse dúvidas sobre a incapacidade contemporânea para enfrentar o lado mais
trágico da política, bastaria examinar os comentários sobre o Brexit, onde toda
a gente parece ficar satisfeita com descobrir “erros”, britânicos ou europeus.
É tempo de ir além dessa santa simplicidade.
A
ideia de David Cameron, com o referendo de 2016, não era provocar o Brexit.
Era, pelo contrário, matar de vez a questão europeia que desde a década de 90
divide e corrói a política no Reino Unido. Cameron esperava obter primeiro algumas concessões
da UE e assustar depois o eleitorado com a ideia da saída. Parecia uma
boa jogada, como no caso do referendo escocês. Acontece que os europeus
não lhe concederam nada e que a crise das migrações contrabalançou outros
receios. E se Cameron não tivesse arriscado? Talvez estivesse agora a ser
destruído pela questão europeia, tal como John Major em 1995, e todos
deplorassem ele não ter liquidado a questão com um referendo há três anos.
Theresa
May não tem força para impor acordos às facções no parlamento. Mas o problema
agravou-se precisamente pela tentativa de May, em 2017, para arranjar essa
força, através de eleições antecipadas. Todos contavam que ganhasse, até os
seus inimigos. De facto, teve uma enorme votação, que noutras circunstâncias
lhe teria dado uma bela vitória, não se desse o caso de os trabalhistas, pelo
seu lado, também terem conseguido mobilizar o seu eleitorado. Em vez de
aumentar a sua maioria, May perdeu-a e ficou mais fraca. E se não tivesse
arriscado? Provavelmente, estaria com os mesmos problemas de disciplina
partidária, mas com toda a gente a lamentar que não tivesse feito eleições em
2017 para submeter as facções.
Os
azares de Cameron e de May nunca, porém, teriam tido efeitos tão graves sem a
intransigência e incompreensão da UE, isto é, da França e da Alemanha. O Reino
Unido foi sempre um problema para o eixo franco-alemão. A UE funciona
essencialmente como um mercado agrícola e industrial protegido. É um bom
negócio para a agricultura francesa e para a indústria alemã. Mas a grande
especialidade britânica são os serviços. Ora, os serviços são o sector com mais
barreiras dentro do mercado único. Por isso, a UE tem servido sobretudo para
abrir o mercado britânico à agricultura e à indústria do continente.
Daí o enorme défice comercial do
Reino Unido com a UE. A
Alemanha e a França, porém, nunca gostaram de abrir excepções. Perante o
referendo e depois o Brexit, mostraram-se ainda mais duras. Primeiro, tiraram o
tapete a Cameron, não lhe fazendo concessões. Depois, recusaram-se a entender o
Brexit como uma questão política e diplomática, preferindo reduzi-lo a um
processo legalista e burocrático, com alguns vexames à mistura sobre a Irlanda
do Norte e Gibraltar (leia-se a esse respeito a
investigação do Político).
Como
noutros casos de arrogância, talvez aqui haja sobretudo consciência de uma
fragilidade. Os
governos da Grécia, da Itália, da Polónia ou da Hungria, cada um à sua maneira,
têm sugerido o que poderia acontecer se, de repente, houvesse flexibilidade. O
entendimento da política também não é o mesmo dos dois lados da Mancha. No
Reino Unido, há muitos políticos convencidos de que a UE não os deixa fazer
política da maneira como ela deve ser feita, soberanamente. Mas nos países
continentais, quase todos carregados com memórias de ditaduras fascistas ou
comunistas, as classes dirigentes têm medo de colocar grandes opções políticas
num horizonte de soberania. Daí, a tentação de fazer da integração europeia uma
fatalidade jurídica e técnica, em vez de uma matéria de debates e de escolhas
políticas e diplomáticas. Mas por vezes, o que não dobra acaba por partir-se.
Visto
desta maneira, talvez o Brexit seja menos motivo de indignação ou de chalaça.
Mas é tempo de ver as coisas como são, e não como nos convinha que fossem.
COMENTÁRIOS:
Miguel Queirós: … Rui Ramos é conhecido pelas suas crónicas de exaltação da extrema direita.
Por ele, o Observador era um pasquim de propaganda alt-right. Hoje
presenteou-nos com mais este dispensável exercício de desinformação, num artigo
pejado de ideologia populista e visões distorcidas da realidade. Analisemos
pois o seu conteúdo:
"A ideia de David Cameron, com o referendo de 2016 [...] era matar de
vez a questão europeia que desde a década de 90 divide e corrói a política no
Reino Unido."
ERRADO: A ideia de Cameron com o referendo era
ganhar as eleições roubando votos ao UKIP. No mandato anterior, Cameron
tivera de dividir o poder numa coligação com os Liberal Democrats e as
sondagens apontavam para um resultado ainda mais fraco dos Conservadores. O
Referendo foi uma promessa eleitoralista de Cameron. A questão da UE não
corrói a política do Reino Unido. A maioria do Parlamento é Remainer. A questão
da UE corroi é o Partido Conservador onde há quem tenha muito a ganhar com o
Brexit, em negócios pessoais. Isso sim, talvez preocupasse Cameron.
Rui Ramos defende que Theresa May ficou enfraquecida
por causa do fraco resultado das eleições antecipadas que ela própria convocou.
Mas isso foi o sintoma... Não a causa. Theresa May está enfraquecida em
primeiro lugar porque ela que era Remainer, vendeu a alma ao diabo a troco de
poleiro como PM. A fraqueza de May é
estrutural: Começa quando ela trai as suas próprias convicções, por ambições de
carreira, aceitando o presente envenenado de descalçar a bota indescalçável do
Brexit, que é um brutal disparate político, e um tiro no pé económico.
Ou seja Cameron para ganhar as eleições, largou uma
bomba e fugiu. May por ganância carreirística aceita agarrar a bomba e em vez
de a tentar desactivar, prefere dizer que a bomba talvez não rebente com muita
força. A isto, Rui Ramos chama "Os AZARES de Cameron e de May".
Veja-se bem... "Azares", coitadinhos que não tiveram culpa nenhuma.
Quem é mau aqui segundo Rui Ramos é a UE!.. Ou seja a França e a
Alemanha (dois partidos governados por Sociais Democratas centristas - tipo Rui
Rio, que o Observador odeia).
Já toda a gente sabe que o RU exporta mais serviços e a EU exporta mais
indústria. Mas a forma como Rui Ramos distorce as coisas dizendo que a UE é que
tem forçado o RU a aceitar condições desvantajosas, é demagógica e falsa. Para
começar o RU tem sido sempre um privilegiado na UE. Não está no Espaço Schengen, não aderiu ao Euro, etc... E Cameron
até já queria que a Libra fosse moeda oficial da UE a par do Euro, imagine-se!..
Os Britânicos, ainda vivem sob a fantasia nostálgica
de que são donos do mundo, como quando tinham um império que se foi no Sec XX.
A ficha ainda não caiu... E como tal continuam sempre presunçosamente a achar
que podem, fazem a mandam... E quando lhes dizem que não a mais caprichos,
fazem birra e viram as costas. Aliás é apanágio do RU no mundo: Entrar,
estragar e vir embora.
Mas Rui Ramos
ainda diz que a UE está a ser dura e intransigente com o RU, e que também o foi
com Cameron??!!.. Mas por acaso foi a UE que os mandou sair? E é sequer razoável esperar
que depois de sair, o RU continuasse a ter as vantagens sem contrapartidas,
ainda mais do que quando estava dentro da UE? Escolher "a la carte"
quais das "4 Liberdades Indivisíveis" da UE lhes interessam, e quais
não interesassam?
"Depois, recusaram-se a
entender o Brexit como uma questão política e diplomática, preferindo reduzi-lo
a um processo legalista e burocrático"
É claro que o Brexit é antes de mais uma questão legalista
e burocrática! Acham que um órgão de soberania supra-nacional como a UE pode
ser outra coisa? Questão política e diplomática??. Por que carga de água?..
Falar de "arrogância" da UE?.. MAs haverá maior arrogância do que a
do Reino Unido nesta história toda? Quererem tudo à maneira deles como se ainda
fossem donos do mundo? Quer dizer, depois de terem sido durante décadas um membro
privilegiado da UE com condições especiais de corrida para tudo, ainda querem
sair mantendo as vantagens mas sacudindo os compromissos. Tenham juizinho, que
já têm idade para isso.
Já não basta saber-se que a campanha do Leave mentiu
ao eleitorado e infringiu a Lei Eleitoral, que Arron Banks recebeu dinheiros
Russos para financiar a campanha Leave, que um Referendo na Lei Britânica tem
apenas carácter consultivo e não vinculativo, e que nunca se referendam
questões de tão complexas consequências económicas a uma população impreparada
para as avaliar... E Rui Ramos ainda vem defender o Brexit contra a UE??...
Esta posição de Rui Ramos
apenas pretende posicionar-se ideologicamente alinhada com Marine Le Pen, Nigel
Farage, e os emergentes movimentos populistas de extrema direita em geral.
"No Reino Unido, há
muitos políticos convencidos de que a UE não os deixa fazer política da maneira
como ela deve ser feita, soberanamente."
Não os deixa fazer política?.. Caro Rui Ramos, diga-me
uma, apenas uma lei que o Reino Unido não podia fazer dentro da UE e que agora
possa fazer?.. Claro que não consegue dizer porque, essa conversa é mais um slogan
populista.
José Barros: Que arrogância, Rui Ramos! Quem tem acompanhado o
Brexit sabe que ele tem sido uma chalaça. Os seus mentores (Johnson,
Rees-Mogg etc) são de uma desonestidade intratável e a May é de uma
mediocridade confrangedora e um boneco de trapos nas mãos dos hard brexiters.
Bastar-se com retórica tão superficial não é aceitável em si Rui
Ramos. Inteiramente em desacordo com este artigo de RR! E quanto a
arrogâncias, que pelo menos haja o decoro de não se apontar o dedo a este lado
do canal da Mancha!
António Eliphis > António Sennfelt: O "historiador
patriota" Rui Ramos esqueceu-se da história do ultimato e do mapa
cor-de-rosa.
Luís Soares Ribeiro: O Brexit não sei como vai
acabar. Mas pôs à vista de todos que os Governos, as famílias partidárias,
governam sem terem em atenção aquilo que as populações querem. Felizmente
na Inglaterra os deputados são eleitos tendo em conta as populações e não em
listas preparadas pelas famílias partidárias. Em Inglaterra os Governos
respondem perante o Parlamento, em Portugal e muitos outros Países Europeus os
parlamentares respondem perante os Governos e suas famílias partidárias. Vamos
ver como o Brexit vai acabar.
Cipião Numantino: Confusas as conclusões e abstracções avançadas pelo
nosso caro RR, tentando desculpabilizar Cameron por um devaneio irresponsável
que acabou por lhe rebentar no nariz. Quando se anda à procura de notícias como
foi o caso dele, deveria estar preparado também para absorver as más. E não foi
isso que aconteceu. Concedo que os ingleses sempre quiseram estar dentro e fora
da UE. Mas, até por isso mesmo, deveria sopesar e filtrar por antecipação a
eventual resposta do eleitorado Como diz o povão " quem não quer ser lobo,
não lhe vista a pele"!...
Ana Vasconcelos: Este espectáculo, lamentável, mostra a sombra de um
poder sem rosto que não quer cumprir a vontade popular porque ela não lhe
convém. É pior para a democracia que todos os populistas juntos, porque é um
desrespeito frontal à democracia. E o pior ditador é aquele que não vemos
porque se esconde atrás de instituições supostamente democráticas. Depois não
se queixem.
Ana Ferreira: Ao contrário do que pretende fazer RR, claramente
alinhado nesta, como noutras matérias, com a extrema direita que odeia a UE por
ser o único antídoto contra os nacionalismos xenófobos, o problema está na
falta de líderes à altura dos novos desafios. Cameron sempre foi o paradigma
disso mesmo. Protegê-lo para acusar a União, só vem provar que é exactamente
esse o tipo de liderança que convém aos saudosistas da direita mais
conservadora e reaccionária.
António Eliphis: É fácil identificar os pseudofascistas como Rui
Ramos, em contraste com os liberais, defensores de uma democracia liberal. Nas
questões europeias têm exactamente as mesmas ideias e críticas que os
comunistas! Este artigo poderia ter sido escrito por Pacheco Pereira! É
interessante observar que a Frente Nacional de Le Pen retirou imensos votos aos
Comunistas! Rui Ramos e a esquerda radical navegam na mesma lama da demagogia
barata e do medo, com os chavões típicos de qualquer demagogo e populista.
victor guerra: Um
chorrilho de disparates. O Brexit aconteceu, porque políticos de baixa moral, como
o Farage e o Johnson, conseguiram impingir à fracção mais primária do UK ,a ideia
de que a UE, onde apenas tinham "um pé", estava a oprimi-los. E como
o voto é a "arma do povo" saiu asneira, a tentativa do idiota
Cameron. O resto é incompetência da May e a típica hipocrisia inglesa
Mosava Ickx: O projecto económico comum, CEE, não funcionava
muito mal, era promissor. O projecto político UE decidido pelos socialistas
franceses em conluio com os alemães visa a estabelecer uma supremacia do eixo
Paris-Berlim em prejuízo de todos os outros membros, os mais prejudicados sendo
os britânicos. Muito claro e bem explicado nesta peça. Tão simples como isso. Juntem
a isso a arrogância do Macron e da Merkel, a rigidez dos aparatchiks
esquerdistas não eleitos da Comissão de Bruxelas, e terão a receita perfeita
para o desastre anunciado dessa UERSS!
Joao MA > Mosava Ickx: Sou
insuspeito de ser socialista e discordo de muita coisa na UE nomeadamente do
socialismo encapotado e forçado . Mas recomendo lhe uma temporada no RU (fora
de Londres) para perceber a mentalidade dos brexiteers, o seu projecto de
poder, xenofobia , imperialismo, egoismo, mania da superioridade, sentimento
anti-Europeu, desprezo completo por paises tipo Portugal.
Mosava Ickx > Joao MA: Acabou
de descrever também o povo francês.
António Eliphis > Joao MA: Correcto,
caro Joao! Nas questões europeias, os comunas e os fascistas andam de braços
dados! Veja o caso da Alemanha nazi. Os nazis só chegaram ao poder com o apoio
dos comunas, porque para os comunas não havia diferença entre nazis e social-democratas,
eram todos servidores do sistema capitalista.
Joao MA: Mas importa perceber quem dentro do RU advoga o
Brexit: Alguns Bilionários com off shores a quem não interessa estar sob leis
europeias que imponham algum controlo financeiro; Racistas, xenófobos ; Classe mais baixa /
subsídio-dependente com o mais baixo nivel de educação e até civismo;
intoxicados por uma comunicação social anti-Europeia; Saudosistas do
império; Combinação dos acima mencionados
Paulo F. > Joao MA: Têm
o mesmo direito a escolher que os emigrantes que também vivem a vida inteira a
receber subsídios, casa, etc, qualquer artista de artes performativas, e outras
"forças vivas da nação" sem sustento próprio, a viver de subsídios
também, pessoas a trabalhar para as instituições europeias, com interesse
directo no caso, multimilionários e muitos mais. Só que ganharam. Temos pena.
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