segunda-feira, 1 de abril de 2019

Um comentário à altura


O texto de Salles da Fonseca merece bem as elegantes palavras com que Adriano Lima o comenta, por ser um texto de alguma picardia, no seu saber atento sobre o mundo dos interesses de gentes outrora já de nós bem conhecidas e simultaneamente repudiadas, que intervieram negativamente na acção do Gama, bastas vezes por manigâncias de Baco, é certo, (exceptuando o mouro Monçaide – que não era árabe -, indispensável como intérprete e auxiliar prestimoso junto dos portugueses, na chegada à Índia, atraiçoados que foram os navegantes pelas arábicas figuras que por aquelas alturas traficavam com as indianas gentes da costa do Malabar, junto do Samorim de Calecut.
Não quero ficar atrás no encómio - não em texto próprio, mas como dedicatória: lembrei-me de dedicar as estrofes seguintes do Canto VIII d’OS LUSÍADAS a Salles da Fonseca, que, com o seu espírito investigador, certamente, utilizou vários “Monçaides” para se elucidar, e extrair os seus conceitos pertinentes, em elegante cruzeiro hoje, e aparentemente perto da Costa do Malabar assim alcançada pelo Gama, Ormuz (e Goa e Malaca) sendo conquistas posteriores de Afonso de Albuquerque, recordo dos meus tempos da primária.
Mas as estrofes camonianas vão também como homenagem a esses descendentes dos portugueses de antanho, que SF refere, os quais ganham agora a vida menos lustrosamente mas decerto com igual coragem, pescando, e negociando cabras que o Irão tem e Meca não. Gente que talvez lembre rebotalhos sobrados de antigas glórias. Merecem que as estrofes camonianas lhes sejam dedicadas, que tão esplendorosamente dignificaram a “geração de Luso”. Salles da Fonseca aponta-lhes o abandono pátrio, mas o aventureirismo pode estar na razão desse habitat pesqueiro e comercial, de baixo calibre cultural e económico, por conta dos genes.
Canto VIII d’ OS LUSÍADAS
Estrofe 14: ……….Não faltarão Cristãos atrevimentos Nesta pequena casa Lusitana: De África tem marítimos assentos; É na Ásia mais que todas soberana; Na quarta parte nova os campos ara; E, se mais mundo houvera, lá chegara.
Estrofe 14: ……….Não faltarão Cristãos atrevimentos Nesta pequena casa Lusitana: De África tem marítimos assentos; É na Ásia mais que todas soberana; Na quarta parte nova os campos ara; E, se mais mundo houvera, lá chegara.
15: E vejamos, entanto, que acontece Àqueles tão famosos navegantes, Depois que a branda Vénus enfraquece O furor vão dos ventos repugnantes; Depois que a larga terra lhe aparece, Fim de suas porfias tão constantes, Onde vêm semear de Cristo a lei E dar novo costume e novo Rei.
16: Tanto que à nova terra se chegaram, Leves embarcações de pescadores Acharam, que o caminho lhe mostraram De Calecu, onde eram moradores. Para lá logo as proas se inclinaram, Porque esta era a cidade, das melhores Do Malabar, melhor, onde vivia O Rei que a terra toda possuía. ………
23: Chegada a frota ao rico senhorio, Um Português, mandado, logo parte A fazer sabedor o Rei gentio Da vinda sua a tão remota parte. Entrando o mensageiro pelo rio Que ali nas ondas entra, a não vista arte, A cor, o gesto estranho, o trajo novo, Fez concorrer a vê-lo todo o povo.
24: Entre a gente que a vê-lo concorria, Se chega um Mahometa, que nascido Fora na região da Berberia, Lá onde fora Anteu obedecido. (Ou, pela vizinhança, já teria O Reino Lusitano conhecido, Ou foi já assinalado de seu ferro; Fortuna o trouxe a tão longo desterro).
25 Em vendo o mensageiro, com jocundo Rosto, como quem sabe a língua Hispana, Lhe disse: – «Quem te trouxe a estoutro mundo, Tão longe da tua pátria Lusitana?» – «Abrindo (lhe responde) o mar profundo Por onde nunca veio gente humana; Vimos buscar do Indo a grão corrente, Por onde a Lei divina se acrescente.» ………
30 Ele começa: – «Ó gente, que a Natura Vizinha fez de meu paterno ninho, Que destino tão grande ou que ventura Vos trouxe a cometerdes tal caminho? Não é sem causa, não, oculta e escura, Vir do longínquo Tejo e ignoto Minho, Por mares nunca doutro lenho arados, A Reinos tão remotos e apartados.
31: «Deus, por certo, vos traz, porque pretende Algum serviço seu por vós obrado; Por isso só vos guia e vos defende Dos inimigos, do mar, do vento irado. Sabei que estais na Índia, onde se estende Diverso povo, rico e prosperado De ouro luzente e fina pedraria, Cheiro suave, ardente especiaria.
32: «Esta província, cujo porto agora Tomado tendes, Malabar se chama;

Notas da Internet: “QUEM ESCREVEU o ALCORÃO”
Afirmar que o Alcorão foi escrito pelo profeta Maomé (também chamado de Mohammed) é uma meia-verdade. Segundo a tradição, ele era analfabeto – e considerava isso prova de que não tinha sido influenciado por outros textos sagrados. Mas ele é o autor do livro porque teria recebido as revelações do anjo Gabriel, enviado por Alá, e posteriormente recitado aos seus companheiros, que escreveram e reuniram as revelações em um só tomo. Maomé (570-632) nasceu em Meca, na Arábia Saudita. Aos 40 anos, começou sua pregação pública, encontrando uma crescente posição. Perseguido em sua terra natal, foi obrigado a emigrar para Medina em 622, acontecimento que entrou para a história como o marco inicial do calendário muçulmano.
“POR QUE MUDOU A HUMANIDADE”
O livro deu origem ao islamismo, a religião mais praticada no mundo, com cerca de 1,3 bilhão de adeptos. Serve como lei e código moral em cerca de 40 países e é base do principal conflito de civilizações da actualidade. O Alcorão também é usado hoje para justificar os actos de terroristas, que o citam apenas nos trechos em que se convoca para a luta, deixando esquecidos os versos em que se prega a paz e o entendimento. Quando o escreveu, Maomé convivia com uma guerra em larga escala em sua terra, o que explica por que muitas passagens do livro sagrado dos muçulmanos tratam de conflitos armados, execução de inimigos e guerras em nome da fé.
TEXTO:
 HENRIQUE SALLES DA FONSECA  A BEM DA NAÇÃO 01.04.19
A mostarda no nariz
Ainda a propósito do Ibadismo, alternativa ao Sunismo e ao Xiismo, fiquei a saber que Omã vem servindo de intermediário entre aquelas duas facções do Islamismo não só em termos diplomáticos na guerra (civil?) que actualmente assola o Iémen mas também nas coisas mais comezinhas que se pode imaginar. Por exemplo, a Arábia Saudita tem falta de cabras e o Irão é um grande produtor desses simpáticos cornúpetos pelo que se servem da intermediação omanita para fazerem o comércio que não ousam estabelecer directamente. E quem gere essa intermediação? Pois bem, foi-me dito pelo guia egípcio que são esses tais «portugueses abandonados» lá pelas paragens do Estreito de Ormuz que, para além da actividade pesqueira, vão buscar carregamentos de cabras ao Irão e as vendem aos encarniçados sunitas de Meca. Se esta informação se confirmar, dá para recordar que o Império Português teve o comércio como uma das suas bases essenciais pois havia que ganhar dimensão «lá fora» para resistir à pressão raiana exercida por «nuestros hermanos».
A propósito da guerra em curso no Iémen, contou-me outro egípcio que, mais do que uma divergência religiosa, se trata duma quezília com motivos bem prosaicos.
Assim, recordou-me ele que a etnia árabe teve a sua origem no Iémen o que dá aos iemenitas um sentido de grande superioridade em relação aos outros árabes, os que eles consideram na diáspora. E aqui entra em acção o conceito de que é aos filhos que cumpre cuidar dos pais aquando da velhice destes. Como assim?
Pois saiba-se que o Iémen não tem petróleo (se o teve, já o consumiu – não fui investigar) e que a Arábia Saudita ainda não explorou uma gota das suas reservas centrais. Então, os iemenitas querem uma redefinição das fronteiras de modo a que possam chegar à vertical dessas tais reservas inexploradas. Está-se mesmo a ver que os sauditas vão mobilizar todos os topógrafos à superfície da Terra para redesenharem o traçado da fronteira como os iemenitas paternalisticamente exigem.
FOTO: Sanaá, capital do Iémen
E o que tem Omã a ver com tudo isto? Então, não esqueçamos que o petróleo é a principal fonte das receitas omanitas e que logo no início do reinado de Kaboos, houve uma invasão iemenita do seu território cujo objectivo anunciado era o proselitismo comunista mas que, na verdade, já era a cobiça petrolífera.
Felizmente para Kaboos, não lhe foi pedido que assumisse uma posição no conflito em curso pelo que o Sultão se limita a fazer como aquele fulano muito magrinho que tentava passar entre os pingos da chuva sem se molhar. Até quando? Até que a Arábia Saudita se farte disto tudo, assuma o poder em Sanaá e diga ao mundo que o Iémen foi um país que em tempos existiu no extremo sul da sua Península. Já vimos como o príncipe herdeiro saudita age, não estranhemos que lhe chegue rapidamente a mostarda ao nariz.
A ver, como se diz em Oftalmologia…         Março de 2019
(continua)
Comentário de Adriano Lima  01.04.2019: Não quero abusar nos encómios, mas é extraordinário fruir uma lição de cátedra como esta que mal chega a uma folha A4, tal a forma como o discurso sintético se funde com a arte da palavra. Está aqui tudo para que possamos compreender as linhas sinuosas com que se cosem por aquelas bandas as políticas e os jogos estratégicos. E de permeio, os "portugueses", como sempre identificados com a sua velha e natural vocação, desta feita traficando cabras em vez de especiarias. Sim, são supostamente seus descendentes, mas os genes estão lá e são inconfundíveis.


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