sexta-feira, 5 de abril de 2019

Quem não deve não teme


Uma consciência tranquila, vê-se que tem Salles da Fonseca, pois dorme, enquanto no cruzeiro e fora se processam movimentos sinistros que poderiam resultar em “escaramuça” pouco saborosa. Pelo sim, pelo não, fui procurar na Internet causas possíveis da perigosidade da zona, para melhor apreender o descritivo de SF, que confiou nos seus defensores sem mais problemas, contando a história por informações posteriores, e minimizando-as com graça, e o suspense ao retardador.


HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 04.04.19

ALERTA!

Foi então que vimos a estibordo um barco de «pescadores» sem redes nem linhas mas com uns quantos homens atentos ao nosso navio. Estavam parados e assim nos ficaram a ver. Os seguranças, que já estavam a postos por baixo de nós no deck 8, assestaram os binóculos sobre eles e alertaram alguém por walkie talkie. Mas esse alguém já devia estar mais do que atento porque logo de seguida vimos um semi-rígido que meteu motores a fundo e nos fez companhia por estibordo a uma velocidade que nos poderia ultrapassar. Assim nos observaram durante uns minutos mais do que suficientes para nos soltarem a adrenalina.

 

Foto: (imagem de piratas somalis que fui buscar à Internet pois não tive tranquilidade para fotografar e não ver a nossa cena directamente – os «nossos piratas» não estavam aparentemente armados como estes da foto)

 

Não se aproximaram mais do que uns 400 metros mas deixaram de acelerar tanto e afastaram-se a pouco e pouco. Não chegámos a receber ordem de retirada para o interior do navio mas a observação estava feita e certamente que transmitida a quem dela se serviria para…

Foi no dia seguinte que soube que, dormindo eu profundamente pelas 3,30 h da manhã, a música parou repentinamente na discoteca e os foliões foram mandados para os respectivos camarotes sem passarem pelos decks exteriores; espreitando por uma nesga da cortina, uma passageira de um camarote próximo do nosso, viu que estávamos parados em paralelo com outro navio; sem me acordar, a minha mulher ouviu uns barulhos que não identificou mas lembrou-se de que por cima de nós havia um dos postos de tiro dos snipers.

Com pena de tudo me ter escapado, ao acordar fui saber o que se tinha passado. Então, terá sido assim: o radar identificara 3 ou 4 barcos suspeitos na nossa rota, o Comandante dera ordem de alerta aos snipers e mandara fazer alto para ver no que a «coisa» dava. A companhia de outro navio (seria um «Costa» que há dias navegava por perto?) terá sido reconfortante não só por somarmos os meios de defesa como os putativos atacantes teriam que se dividir por dois alvos. Terá sido por este tipo de circunstâncias que os tais barcos suspeitos se afastaram da nossa rota para distância considerada segura e seguimos avante em toda a normalidade.

Os piratas devem ter ficado tristes por não terem feito «negócio» e eu fiquei triste por não ter participado nesta quase aventura. O que dá ter sono pesado, ser passageiro, não ser sentinela e não ter sido avisado de que alguma coisa se estava a passar.

Infelizmente (ou felizmente), não devo conseguir que nas minhas redondezas se volte a passar alguma coisa deste género porque não é assim tão comum sermos emboscados por piratas em alto mar. Mas como a esperança é a última a morrer, fico à espera duma próxima oportunidade.

Então, este foi o primeiro dia do resto do nosso cruzeiro.

(continua)

Abril de 2019

FOTO: Henrique Salles da Fonseca (próximo do posto de tiro dos snipers sobre o nosso camarote)

Comentários

Anónimo 04.04.2019 10:20: Quase romance de capa e espada!

Adriano Lima 04.04.2019 13:11: O relato foi tão excitante que mexeu também com a adrenalina do leitor. Fica-se com a sensação de que navegar turisticamente por lá não é isento de risco. Mas também dá a ideia de que as forças navais internacionais que por lá andam não são suficientemente dissuasórias ou numerosas para evitar que se ande à procura de uma agulha num palheiro. O certo é que os piratas parecem mostrar certa desfaçatez talvez por se convencerem da sua fluidez ou presumirem que os ocidentais não têm a mãozinha pesada como os russos. A verdade é que adorei este relato, tão realista e objectivo é o quadro pintado pelo turista navegante

Henrique Salles da Fonseca 04.04.2019 13:21 Meu prezado amigo, Quanta vontade para passar por uma aventura perigosa. No teu lugar dava graças a Deus por ter dormido sem sentir o medo de ser abordado por algum pirata ...somali ou não! Mas se queres realizar o teu desejo de passar por uma situação de risco, dá uma passada no Rio de Janeiro, percorre a linha vermelha, sobe uma favela, ... há uma grande chance de te veres atendido ! Heheheh - Eduarda Fagundes Nunes (Uberaba - Minas Gerais - Brasil)

Henrique Salles da Fonseca 04.04.2019 13:26...hoje em dia nunca sabemos se estamos em segurança ou nāo. Tem cuidado! Ab Zé E. S.

 

NOTAS De APOIO

Golfo de Áden

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Localização do Golfo de Áden

O golfo de Áden, golfo de Adem ou golfo de Adém é um golfo situado no Mar de Omã, no norte do oceano Índico, entre a Somália, no Chifre da África, e o Iémen, na costa sul da Península Arábica. O seu nome provém da cidade de Áden, na extremidade sul da península. O golfo conecta-se, ao norte, com o Mar Vermelho, através do estreito de Bab-el-Mandeb, com mais de 30 km de largura, e tem o mesmo nome da cidade portuária de Áden, no Iêmen.

Historicamente, o golfo de Áden era conhecido como "golfo de Berbera", em alusão à antiga cidade portuária somali, situada na margem sul do golfo, na atual Somalilândia. Todavia o desenvolvimento da cidade de Áden, durante a era colonial, fez com que o nome de "golfo de Áden" prevalecesse sobre a antiga denominação.

Características principais: Este mar marginal foi formado há cerca de 35 milhões de anos, com a separação das placas tectónicas africana e arábica e faz parte do sistema do grande Vale do Rift.

O golfo de Áden é uma via marítima essencial para o petróleo do golfo Pérsico, tornando-o muito importante para a economia mundial. Possui muitas variedades de peixes, corais e outras criaturas marinhas, devido a sua baixa poluição. Os principais portos são Áden (no Iémen), Berbera e Bosaso (ambos na Somália).

Ele não é considerado seguro, visto que a Somália que lhe é limítrofe, é um país instável, e o Iémene não possui forças de segurança suficientes na região. É uma das principais áreas de pirataria mundial, extremamente perigosa para a navegação. Além disso, vários ataques terroristas foram efectuados no golfo, como o do USS Cole.

 

Pirataria na Somália:

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A pesca ilegal e o lixo tóxico

No Oceano Índico barcos Europeus que pescam o atum sofrem com ataques piratas.

De acordo com a Convenção Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico, os países com conflitos armados, mas com águas ricas em pesqueiros têm sido usados por frotas de pesca pirata de países estrangeiros da Europa, Ásia, a tal ponto que "dentro das águas territoriais da Somália vieram uns mil navios deste tipo sendo identificados", disse Ricardo Aguilar. Alegações do despejo de resíduos tóxicos, bem como a pesca ilegal, têm circulado desde o início de 1990. Ahmedou Ould-Abdallah, o enviado da ONU para a Somália diz ter "informação confiável" sobre tais práticas. O porta-voz do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente UNEP, Nick Nuttall, disse que os somalianos sofrem com esse lixo tóxico desenterrado ao norte do país, após tsunami. Acredita-se que empresas internacionais tenham enterrado matérial tóxico na costa da Somália nos últimos 15 anos. Segundo o Grupo de Trabalho sobre Alto Mar (HSTF, sigla em Inglês), em 2005 mais de 800 barcos estrangeiros praticaram a pesca ilegal na região da Somália. O Greenpeace também denuncia esses possíveis acontecimentos

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