sábado, 6 de abril de 2019

Histórias de encantar



Para além da consulta de mapas que a viagem de SF suscita e que a Internet fornece em profusão, muitos outros textos procuro para que as suas observações apelam. É o caso da fertilização de áreas desérticas, com o abastecimento de água pelo processo de dessalinização, da competência israelita, é o caso da referência a Lawrence da Arábia cujo filme há relativamente pouco tempo revi, num dos canais televisivos, pelo que transcrevo aqui um texto biográfico sobre a curiosa personagem, desempenhada magistralmente por Peter O’Toole, no filme de David Lee... Um bem-haja, pelo “passeio turístico” em várias frentes.


HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 06.04.19

Um “cul-de-sac”

Como dizem os franceses, Aqaba é um «cul de sac» ou, à nossa maneira, um beco. E já foi o fundo de um saco de gatos assanhados pois ali se encontram os extremos de Israel, Jordânia, Arábia Saudita e Egipto. Para já, tudo calmo, até prova em contrário.

Note-se que se trata do único porto marítimo jordano pelo que é vital para o país que se estende por ali acima com tudo longe através duma paisagem que nos faz duvidar se se trata de Marte ou da Lua. Agora, acaba em Aqaba (ou começa, conforme o sentido da marcha) o caminho de ferro construído no tempo do Império Otomano que liga a Amman e que de início se estendia bastante mais para Sul pela Península Arábica além… É por Aqaba que a Jordânia exporta fosfatos e é por ali que importa tudo, até turistas.

MAPA

Trata-se duma cidade aprazível na época em que por lá passámos (Março) mas que no Verão alcança vulgarmente os 50º Centígrados com a água do mar a rondar os 30º. Já lá vai o tempo em que não havia ares condicionados; já lá vai o tempo em que até os camelos se davam mal por ali. Não me informaram se também há estábulos para camelos com ar condicionado. Mas tiveram o cuidado de nos lembrar que aqueles a que habitualmente chamamos camelos são dromedários (apenas com uma bossa) e que os verdadeiros camelos são os da Ásia profunda e que têm duas bossas. Já sabíamos, mas é sempre bom recordar. Como se isso fizesse alguma diferença para o nosso propósito de apreciação do estado daquela Nação. E mais nos disse o guia que os camelos são animais de carga e que os dromedários são animais de sela ou de corrida. Os guias anteriores já no-lo tinham dito com mais erudição do que este jordano mais interessado nas comissões que os lojistas lhe dariam nas compras que nós, turistas, fizéssemos.

Uma curiosidade histórica: Lawrence da Arábia conquistou Aqaba aos otomanos vindo por terra quando os atacados esperavam o inimigo pelo lado do mar. Sim, o segredo é a alma do negócio da guerra.

Para além de porto marítimo, Aqaba é também uma estância turística que se está a fazer muito cosmopolita mas fica a menos de um tiro de obus da israelita Eilat.

FOTO: Eilat, Israel

E se este extremo de Israel é o acesso ao Mar Vermelho e a todos os mares do Sul, agora adquiriu novo valor estratégico quando está em vias de se tornar no ponto de abastecimento de água (a dessalinizar) que irrigará todo o Deserto do Neguev e o transformará integralmente em terra muito mais produtiva do que tem sido até ao presente.

A meia dúzia de quilómetros de Eilat fica a fronteira com o Egipto e a 17 de Aqaba fica a da Arábia Saudita. Ficámos a saber que há muito movimento turístico transfronteiriço de Israel com a Jordânia e com o Egipto mas não me informaram se o mesmo acontece entre Israel e a Arábia.   Abril de 2019

 (continua)

COMENTÁRIO DE Adriano Lima 06.04.2019 14:20: Delicioso, este relato. Embora dum modo geral já conheçamos estes episódios da História, aqui nos é oferecida uma síntese perfeita entre a História e a Geografia. Ficamos assim a perceber ou a relembrar que os povos que habitam aquelas paisagens lunares têm os mesmos sonhos de felicidade que os que beneficiam de outra abastança da natureza. E então vem-me à mente o filme Lourenço de Arábia, um dos meus épicos preferidos, onde o príncipe Faiçal confessa a alguém mais ou menos nestes termos: "pensam que os árabes gostam do deserto, mas não é verdade, sonhamos com pomares e jardins floridos".A propósito de Aqaba, relembro no mesmo filme o momento em que a força inglesa e as tribos árabes carregaram contra a cidade portuária. Lourenço da Arábia (Peter O' Otoole), Sherif Ali ibn el Kharish (Omar Sharif) e o chefe tribal Auda abu Tayi (Anthony Quinn), desembainham a espada e gritam: Aqabaaa!!!

TEXTOS DE APOIO:

Quem foi Lawrence da Arábia?  Foi um dos principais personagens da Primeira Guerra Mundial           Por Redação Mundo Estranho

Foi um grande aventureiro britânico do início do século 20, um misto de arqueólogo, estrategista militar e escritor. A sua vida foi tão movimentada que acabou transformando-se em um filme de grande sucesso na década de 60. Thomas Edward Lawrence, ou simplesmente T.E. Lawrence, iniciou a trajetória que o tornaria mundialmente famoso entre 1911 e 1914, período em que trabalhou numa expedição arqueológica no Oriente Médio. Ele aproveitou a oportunidade para aprender árabe e conhecer os costumes da região. Quando a Primeira Guerra Mundial começou, em 1914, ele alistou-se nas Forças Armadas e, devido aos seus conhecimentos sobre o Egito e o Oriente Médio, passou a fornecer informações estratégicas para o Exército britânico. O seu principal papel na guerra, porém, foi outro. Lawrence ajudou a enfraquecer o Império Turco-Otomano, inimigo dos ingleses, incentivando tribos árabes a rebelarem-se contra os turcos. Nem tudo, porém, saiu como ele queria. Em 1917, o aventureiro foi capturado pelos otomanos e, antes de conseguir escapar, foi torturado e sofreu violências sexuais. Ao final da guerra, em 1918, traumatizado por suas experiências e desiludido com o tratamento dado pelos ingleses aos seus velhos aliados árabes, recusou condecorações e abandonou o Exército.

Durante a década de 20, Lawrence dedicou-se a escrever as suas memórias, organizadas no livro Os Sete Pilares da Sabedoria. Embora a obra seja um pouco inexacta e fantasiosa em vários pontos, ela adquiriu grande importância histórica e artística. “É um dos poucos trabalhos escritos em inglês no século 20 a apresentar uma visão épica de personagens contemporâneos, revelando as complexas transformações por que passou o seu autor”, diz o crítico e historiador Stanley Weintraub, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Lawrence morreu em 19 de maio de 1935, aos 47 anos, em consequência dos ferimentos que sofrera seis dias antes, num acidente de moto.

Árabe por opção:

 Para enfrentar os turcos, ele passou a viver como seus aliados no Oriente Médio

Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Turco-Otomano, aliado da Alemanha e inimigo dos ingleses, ocupava boa parte do Oriente Médio. Isso colocava em risco o funcionamento do canal de Suez, no Egipto, importante ligação marítima usada pelos britânicos para chegar às suas colónias asiáticas. Como várias tribos árabes estavam insatisfeitas em ver as suas terras sob o controle turco, os ingleses utilizaram essa revolta para instigar os árabes contra os invasores. T.E. Lawrence foi mandado ao Oriente Médio para fornecer uma pequena ajuda militar às tribos. Transformado em assessor do principal chefe árabe, Hussein ibn Ali, o aventureiro inglês comandou importantes ataques da guerrilha contra os turcos. A imprensa, então, passou a referir-se ao aventureiro como Lawrence da Arábia. Ele de fato passou a vestir-se como os seus aliados e a admirar o povo que lutava ao seu lado. A revolta árabe enfraqueceu decisivamente o Império Turco. Após o fim da guerra, porém, os ingleses e as outras potências europeias vitoriosas dividiram o mapa do Oriente Médio de acordo com os seus interesses, ignorando as reivindicações das tribos árabes, apesar das promessas de autonomia que haviam feito àquelas.

Sucesso nas telas: História do lendário britânico virou um filme premiado com vários Oscars

A movimentada vida de T.E. Lawrence foi transformada em clássico de Hollywood nos anos. No filme Lawrence da Arábia, dirigido por David Lean, o actor Peter O’Toole interpretou o papel do aventureiro britânico. A obra facturou sete Oscars, mas está longe de ser uma representação fiel das complicadas relações entre árabes e ingleses durante a Primeira Guerra. “O filme lança mão de estereótipos e clichés. É o caso, por exemplo, da generalização de todos os árabes como uma espécie de bando desorganizado, desconhecedor de princípios básicos da ‘civilização. Que os árabes o considerassem uma espécie de profeta, então, é o fim da picada”, diz o professor de literatura árabe Mamede Mustafa Jarouche, da USP.

1962 Drama/Ficção histórica 3h 48m

Descrição Graças ao seu conhecimento dos beduínos, o oficial britânico T.E. Lawrence é enviado à Arábia para encontrar o príncipe Faisal e servir de ligação entre árabes e ingleses na luta contra os turcos. Com a ajuda do nativo xerife Ali, Lawrence se rebela contra as ordens de seus superiores e enfrenta uma jornada através do deserto para atacar um porto turco bem protegido


Elenco: Peter O Toole; Omar Sharif; Anthony Quinn, Jack Hawkins

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