Para além da consulta de mapas que a
viagem de SF suscita e
que a Internet fornece em profusão, muitos outros textos procuro para que as suas
observações apelam. É o caso da fertilização de áreas desérticas, com o abastecimento
de água pelo processo de dessalinização, da competência israelita, é o caso da
referência a Lawrence da Arábia cujo filme há relativamente pouco tempo revi,
num dos canais televisivos, pelo que transcrevo aqui um texto biográfico sobre a
curiosa personagem, desempenhada magistralmente por Peter O’Toole, no filme de
David Lee... Um bem-haja, pelo “passeio turístico” em várias frentes.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 06.04.19
Um
“cul-de-sac”
Como
dizem os franceses, Aqaba é um «cul de sac» ou, à nossa maneira, um beco. E já
foi o fundo de um saco de gatos assanhados pois ali se encontram os extremos
de Israel, Jordânia, Arábia Saudita e Egipto. Para já, tudo calmo, até prova em
contrário.
Note-se
que se trata do único porto marítimo jordano pelo que é vital para o país
que se estende por ali acima com tudo longe através duma paisagem que nos faz
duvidar se se trata de Marte ou da Lua. Agora, acaba em Aqaba (ou começa,
conforme o sentido da marcha) o caminho de ferro construído no tempo do
Império Otomano que liga a Amman e que de início se estendia bastante mais para
Sul pela Península Arábica além… É por Aqaba que a Jordânia exporta fosfatos e
é por ali que importa tudo, até turistas.
MAPA
Trata-se
duma cidade aprazível na época em que por lá passámos (Março) mas que no Verão
alcança vulgarmente os 50º Centígrados com a água do mar a rondar os 30º. Já lá vai o tempo em que não havia ares
condicionados; já lá vai o tempo em que até os camelos se davam mal por ali.
Não me informaram se também há estábulos para camelos com ar condicionado. Mas
tiveram o cuidado de nos lembrar que aqueles a que habitualmente chamamos
camelos são dromedários (apenas com uma bossa) e que os verdadeiros
camelos são os da Ásia profunda e que têm duas bossas. Já sabíamos, mas é
sempre bom recordar. Como se isso fizesse alguma diferença para o nosso
propósito de apreciação do estado daquela Nação. E mais nos disse o guia que os
camelos são animais de carga e que os dromedários são animais de sela
ou de corrida. Os guias anteriores já no-lo tinham dito com mais erudição
do que este jordano mais interessado nas comissões que os lojistas lhe dariam
nas compras que nós, turistas, fizéssemos.
Uma
curiosidade histórica: Lawrence da Arábia conquistou Aqaba aos otomanos vindo
por terra quando os atacados esperavam o inimigo pelo lado do mar. Sim, o
segredo é a alma do negócio da guerra.
Para
além de porto marítimo, Aqaba é também uma estância turística que se está a
fazer muito cosmopolita mas fica a menos de um tiro de obus da israelita Eilat.
FOTO:
Eilat, Israel
E
se este extremo de Israel é o acesso ao Mar Vermelho e a todos os mares do Sul,
agora adquiriu novo valor estratégico quando está em vias de se tornar no ponto
de abastecimento de água (a dessalinizar) que irrigará todo o Deserto do Neguev
e o transformará integralmente em terra muito mais produtiva do que tem sido
até ao presente.
A
meia dúzia de quilómetros de Eilat fica a fronteira com o Egipto e a 17 de
Aqaba fica a da Arábia Saudita. Ficámos
a saber que há muito movimento turístico transfronteiriço de Israel com a
Jordânia e com o Egipto mas não me informaram se o mesmo acontece entre Israel
e a Arábia. Abril de 2019
(continua)
COMENTÁRIO
DE Adriano Lima 06.04.2019 14:20: Delicioso, este relato. Embora dum modo geral já
conheçamos estes episódios da História, aqui nos é oferecida uma síntese
perfeita entre a História e a Geografia. Ficamos assim a perceber ou a
relembrar que os povos que habitam aquelas paisagens lunares têm os mesmos
sonhos de felicidade que os que beneficiam de outra abastança da natureza. E
então vem-me à mente o filme Lourenço de Arábia, um dos meus épicos preferidos,
onde o príncipe Faiçal confessa a alguém mais ou menos nestes termos:
"pensam que os árabes gostam do deserto, mas não é verdade, sonhamos com
pomares e jardins floridos".A propósito de Aqaba, relembro no mesmo filme
o momento em que a força inglesa e as tribos árabes carregaram contra a cidade
portuária. Lourenço da Arábia (Peter O' Otoole), Sherif Ali ibn el Kharish
(Omar Sharif) e o chefe tribal Auda abu Tayi (Anthony Quinn), desembainham a
espada e gritam: Aqabaaa!!!
TEXTOS DE APOIO:
Quem foi Lawrence da Arábia? Foi um dos principais personagens da Primeira
Guerra Mundial Por Redação Mundo Estranho
Foi um grande aventureiro
britânico do início do século 20, um misto de arqueólogo, estrategista militar
e escritor. A sua vida foi tão movimentada que acabou transformando-se em um
filme de grande sucesso na década de 60. Thomas Edward Lawrence, ou simplesmente
T.E. Lawrence, iniciou a trajetória que o tornaria mundialmente famoso entre 1911
e 1914, período em que trabalhou numa expedição arqueológica no Oriente Médio. Ele
aproveitou a oportunidade para aprender árabe e conhecer os costumes da
região. Quando a Primeira Guerra Mundial começou, em 1914, ele alistou-se
nas Forças Armadas e, devido aos seus conhecimentos sobre o Egito e o Oriente
Médio, passou a fornecer informações estratégicas para o Exército britânico.
O seu principal papel na guerra, porém, foi outro. Lawrence ajudou a
enfraquecer o Império Turco-Otomano, inimigo dos ingleses, incentivando tribos
árabes a rebelarem-se contra os turcos. Nem tudo, porém, saiu como ele queria.
Em 1917, o aventureiro foi capturado pelos otomanos e, antes de conseguir
escapar, foi torturado e sofreu violências sexuais. Ao final da guerra, em
1918, traumatizado por suas experiências e desiludido com o tratamento dado
pelos ingleses aos seus velhos aliados árabes, recusou condecorações e
abandonou o Exército.
Durante
a década de 20, Lawrence dedicou-se a escrever as suas memórias, organizadas no
livro Os Sete Pilares da Sabedoria.
Embora a obra seja um pouco inexacta e fantasiosa em vários pontos, ela
adquiriu grande importância histórica e artística. “É um dos poucos trabalhos
escritos em inglês no século 20 a apresentar uma visão épica de personagens
contemporâneos, revelando as complexas transformações por que passou o seu
autor”, diz o crítico e historiador Stanley Weintraub, da Universidade Estadual
da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Lawrence morreu em 19 de maio de 1935, aos
47 anos, em consequência dos ferimentos que sofrera seis dias antes, num
acidente de moto.
Árabe por opção:
Para
enfrentar os turcos, ele passou a viver como seus aliados no Oriente Médio
Durante a Primeira Guerra
Mundial, o Império Turco-Otomano, aliado da Alemanha e inimigo dos ingleses,
ocupava boa parte do Oriente Médio. Isso colocava em risco o funcionamento do
canal de Suez, no Egipto, importante ligação marítima usada pelos britânicos
para chegar às suas colónias asiáticas. Como várias tribos árabes estavam
insatisfeitas em ver as suas terras sob o controle turco, os ingleses
utilizaram essa revolta para instigar os árabes contra os invasores. T.E. Lawrence foi mandado ao
Oriente Médio para fornecer uma pequena ajuda militar às tribos. Transformado em
assessor do principal chefe árabe, Hussein ibn Ali, o aventureiro inglês
comandou importantes ataques da guerrilha contra os turcos. A imprensa,
então, passou a referir-se ao aventureiro como Lawrence da Arábia. Ele de fato passou
a vestir-se como os seus aliados e a admirar o povo que lutava ao seu lado. A
revolta árabe enfraqueceu decisivamente o Império Turco. Após o fim da
guerra, porém, os ingleses e as outras potências europeias vitoriosas dividiram
o mapa do Oriente Médio de acordo com os seus interesses, ignorando as
reivindicações das tribos árabes, apesar das promessas de autonomia que haviam
feito àquelas.
Sucesso nas telas: História do lendário britânico virou um filme premiado com vários
Oscars
A movimentada vida de T.E.
Lawrence foi transformada em clássico de Hollywood nos anos. No filme Lawrence
da Arábia, dirigido por David Lean, o actor Peter OToole interpretou o papel do aventureiro britânico. A obra facturou sete
Oscars, mas está longe de ser uma representação fiel das
complicadas relações entre árabes e ingleses durante a Primeira Guerra. “O
filme lança mão de estereótipos e clichés. É o caso, por exemplo, da
generalização de todos os árabes como uma espécie de bando desorganizado,
desconhecedor de princípios básicos da civilização. Que os árabes o considerassem uma espécie de profeta,
então, é o fim da picada”, diz o professor de literatura árabe Mamede Mustafa
Jarouche, da USP.
1962 ‧ Drama/Ficção histórica ‧ 3h 48m
Descrição Graças
ao seu conhecimento dos beduínos, o oficial britânico T.E. Lawrence é enviado à
Arábia para encontrar o príncipe Faisal e servir de ligação entre árabes e
ingleses na luta contra os turcos. Com a ajuda do nativo xerife Ali, Lawrence
se rebela contra as ordens de seus superiores e enfrenta uma
jornada através do deserto para atacar um porto turco bem protegido
Data de lançamento: 28 de novembro de 1963 (Portugal);
Direção: David Lean Cinematografia: Freddie Young Música composta por: Maurice Jarre; 15 Prémios: Óscar de Melhor Filme,
(…)
Elenco: Peter
O Toole; Omar Sharif; Anthony Quinn, Jack Hawkins
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