Somos fatalistas, temos o fado como
nossa canção representativa, merecemos a crítica contida nas transcrições de SF que tão bem se nos aplicam, Santa
Bárbara! Não queiramos ser mais que os outros, mudando. A nossa realidade é
esta também, descrita por Blum e Aron, e transcrita por Salles da Fonseca, para
nos abrir os olhos, com perícia certeira. Mas não resulta. É assim mesmo,
também connosco. Creio que os outros se safam melhor, os de lá de fora. Nós é mais fado.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 13/4/19
Título – O PESO DA RESPONSABILIDADE
Autor – Tony Judt
Prefaciador – Rui Bebiano
Tradutora –Patrícia Xavier
Editora –Edições 70
Edição – Maio de 2018
A
bem da verdade, deveria ter juntado o subtítulo «BLUM, CAMUS, ARON E O SÉCULO XX FRANCÊS» na ficha técnica inicial mas ficaria uma paginação muito pesada
e optei por esta solução que me parece razoável.
Esta,
a minha leitura principal enquanto viajei pelo mundo de Mafamede assim me
fazendo recordar que nem tudo é Talião.
São
280 páginas de substância, fora, portanto, as habituais fichas técnicas,
título, índices e etc.
Trata-se
de uma apreciação da vida intelectual de três vultos da França do séc. XX, Léon Blum (que
foi primeiro ministro duas vezes), Albert Camus (que foi Nobel da Literatura) e Raymond Aron (que
foi um dos mais importantes filósofos modernos franceses).
Mas,
curiosamente, nenhum deles entrou neste livro por ter sido o que acima refiro:
Blum, por ter sido o civilizador do socialismo; Camus, entrou como o grande
moralista; Aron, pelo rigor da sua análise social.
E é sobretudo nestas
perspectivas que toda a obra se desenrola numa leitura fácil apesar de
constantemente abordar temas difíceis. Porquê difíceis? Porque todos eles
mobilizaram as elites intelectuais e políticas francesas durante quase todo o
séc. XX em discussões públicas, tanto políticas como académicas (as que
transpareceram cá para fora, que não foram poucas).
Não vale a pena ler a correr, o livro não foge. Eu não o li,
saboreei-o.
Uma
curiosidade que só pude constatar quando cheguei ao fim da substância: a
primeira frase e uma das últimas merecem a minha incondicional concordância.
A
primeira frase (pág. 25, primeira frase da substância relativa
a Blum): A História não é escrita como
foi vivida – que o diga quem, como eu, viveu o 25 de Abril de 1974 num
turbilhão comunista em que as loas à liberdade ainda hoje apregoadas mais não
são do que a liberdade que os comunistas adquiriram de mandar prender quem se
lhes opunha.
Frase
quase final (pág. 289, última página da substância relativa a
Aron): Os intelectuais franceses, observou [Aron] um dia, não procuram nem compreender o mundo
nem mudá-lo, mas denunciá-lo – eis ao que continuamos a
assistir tantos anos depois da morte de Aron (1983) em que a contestação
permanente tudo exige sem querer saber da plausibilidade das exigências nem das
consequências de uma putativa satisfação dessas mesmas pretensões às quais não
apresenta alternativas - talvez porque as não tenha e porque talvez mesmo nunca
tenha querido tê-las. Denúncias irresponsáveis, portanto, a que os órgãos da comunicação
dão muita cobertura criando uma tensão social que muitas vezes mais não conduz
do que a becos. Porquê? Porque a tensão factura e os
becos são problemas alheios, não das instituições da comunicação. Os outros que
se danem porque eles, entretanto, já tiveram as audiências, as tais que
facturam.
Muito mais haveria para contar
mas nada melhor do que ser o meu leitor a fazê-lo directamente.
NOTA FINAL – A reler, Camus
na sua perspectiva moral, sobretudo na da não ficção. Boa leitura!
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