quarta-feira, 3 de abril de 2019

«Conversas em família»



De vez em quando o Público impede-me o acesso aos seus textos on-line, e tenho pena, pois há muitas crónicas que gostaria de guardar. A seguinte, de Pacheco Pereira, é uma dessas, que li na íntegra, mais uma vez sentindo quanto ele vai, sofismadamente, fabricando argumentos onde pretende que sobressaia a sua competência intelectual aliada a uma seriedade de homem probo. Há muito, já, que o percebi, o seu discurso, quer oral quer escrito, brandindo sempre uma qualquer acha bem afiada de aparente ódio antigo, combinado com um espírito de superioridade, que quanto a mim, o inferioriza. Neste seu texto, foi buscar a figura de Marcelo Caetano, como exemplo de paralelismo comportamental de um professor da Direita, na questão tratada, do nepotismo do governo, para melhor alargar o âmbito de aplicação desse truque endogâmico, generalizando-o a outros partidos, e simultaneamente buscando o seu aviso moral para com esses jovens do PS, que se casam no partido, em judiciosas ambições de luta pela vida, comparando-os grosseiramente às chitas, que também se casam demasiado entre elas - “qui se ressemble s’assemble” – mas ficam expostas a doenças e a predadores, por serem demasiado corredoras, o que acontecerá com esses membros socialistas juvenis – que depressa encontrarão os seus predadores, Pacheco Pereira avisa-os paternalmente, e aos seus chefes. Vê-se que Pacheco Pereira está feliz neste governo, que ajudou a criar, de resto, não convém largá-lo, embora se diga PSD, tendo sido outrora do PCP, adepto do maoísmo, vem na Internet.
Mas se o Público não me deixou transpor o texto de PP, permitiu-me fazê-lo aos seus comentadores, pelo que os coloco com gosto, muitos seus reverentes apoiantes, mas outros menos efusivos, que talvez o conheçam melhor -  e sem os festejos da veneração partidária.
 “Conheci muito bem o seu pai, foi meu aluno”
Nos partidos não se deve viver a não ser com muita moderação. E fora deles é que estão a maioria das “famílias” dos predadores.
JOSÉ PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 30 de Março de 2019,
O actual tema das “famílias” é um típico tema de campanha eleitoral. Há quem o trate a sério e há quem com ele faça campanha eleitoral. Não gostaria de me misturar com uma direita que, como não consegue criticar o núcleo duro das políticas do governo, na economia e nas finanças, atira ao lado. Acontece que não tem qualquer autoridade para falar, até porque tem demasiadas “famílias” bem mais perigosas do que aquelas que criticam e, sobre elas, nem uma linha. Acresce que têm também o mesmo tipo de “famílias” governamentais e arredores do PS. Admito que, no passado, mais diluídas do que a actual concentração governamental. (...)

43 COMENTÁRIOS
Pedro Augusto, 02.04.2019 :Excelente retrato da realidade nacional. Parabéns.
cma.advoga, 01.04.2019: A propósito, Pacheco. Perca um pouco de tempo e vá ler o artigo de hoje do Joaquim Miranda Sarmento no jornal ECO. Aí está bem retratada a realidade socialista, o que é o socialismo e como são os socialistas
Aónio Eliphis, Algures nos pólderes da ordem de Orange! 30.03.2019: A comparação endogâmica entre o PS e as chitas é interessante, mas não tem validade taxonómica, considerando que as Acinonyx jubatus são o resultado da seleção natural remontando ao Pleistoceno, ou seja, as chitas andam pela savana há pelo menos 2 milhões de anos, enquanto o Homo Sapiens tem apenas cerca de 150 mil, e o PS cerca de 50. Eu compararia a endogamia política à endogamia da etnia cigana, quer pelo agrado que o povo lhe reserva, quer pela conhecida ética nos negócios!
Maria Moreira, 30.03.2019: Mais uma vez tem toda a razão PP. Portugal, continua a ser o Portugal dos pequeninos. De qualquer forma não se pode aceitar a desfaçatez desarmante e songa de António Costa, do tipo: Toda a gente sabe que é assim em todas as instituições, por isso vamos ser transparentes e assumi-lo, quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra. Não vale, temos pelo menos que fazer o número de que somos civilizados e quebrar o círculo da endogamia. O governo tem de dar o exemplo. Já sei que o esforço de António Costa é grande para levar o seu barco a porto seguro e que a endogamia é o cimento que aperta o cerco e segura as fugas, mas isto não é a República e não vale tudo.
Nuno Silva, 30.03.2019: Preocupa-me mais um político tolerante e com futuro, como o Adolfo Mesquita Nunes do CDS, não ter resistido ao charme da Paula Amorim da Galp, e saído da direcção... É verdade que este governo tem muitos casos de familiares. Mas são todos competentes na área, incluindo a maior parte dos assessores de confiança política. Mas enfim, a direita acha que os políticos caem do céu, e que conseguem convencer a malta só com ódios, sem formarem devidamente os seus quadros...
paulocarnaxide30.03.2019: Já percebemos há muito tempo que o Pacheco não gosta de se misturar com a direita porque é de esquerda, embora nunca admita. Então para o Pacheco é normal num país civilizado sermos governados por famílias, ok?
Umaizum, Porto 30.03.2019: Claro que não é de direita, sempre tive respeito pelo intelecto do Pacheco Pereira!
Aónio Eliphis, Algures nos pólderes da ordem de Orange! 30.03.2019: Pacheco tem aquela visão crítica da qual por vezes partilho, que é: isto não é um tema somenos, mas não é o mais importante.
Tiradentes, Castelo Cernado 30.03.2019: Eu por acaso acho que é por outro motivo, é pelo pouco mundo que têm estes dirigentes socialistas, só conhecem o que os rodeia, são pouco viajados e gostam de viver na mesma casa a vida toda (alias, estão a querer passar uma lei de gente com pouco mundo, esta mesmo). Só não propõem o emprego para a vida (o estado ainda esta montado assim) porque ja nao têm coragem.
PdellaF, Terra 30.03.2019:Tanta conversa para dizer o que todos sentem desde sempre, em muitos domínios da vida portuguesa. Claro que não faltou começar por escrever que a "direita" também é endogâmica. Mas isso é o que distingue a "direita" da "esquerda": o 1.º sempre afirmou os valores da família (ironia, ok?) e os segundos, sempre mais inteligentes, cultos e modernos (+ironia), afirmam o valor da República e de outras coisas iluminadas. Porém, quando se vai ver bem, a tal "esquerda", apanhada em falta ética muito grave, desculpa-se com os pecados da "direita". Se a esquerda acaba a repetir o que a "direita" dizem que pratica (austeridade, protecção de determinados grupos económicos, corrupção, nepotismo, desprezo pela cultura, etc.), mais vale deixarem a "direita" governar, já que ganhou as eleições, afinal.
Maria Moreira, 30.03.2019: É uma esquerda muito à direita
Jorge Sm, Portugal 30.03.2019: Abismal a diferença com que este assunto é tratado por Pacheco Pereira e por um básico, superficial, populista e tendencioso como um João Miguel Tavares. Obrigado Público por ainda termos Pacheco Pereira por aqui.
PdellaF, Terra 30.03.2019: Muito incomoda JMT por dizer coisas básicas, superficiais, populistas e tendenciosas. Talvez porque, na sua simplicidade, aponta logo ao âmago das questões e com muito menos palavras. Ainda bem que há um JMT para escandalizar.
paulocarnaxide, 30.03.2019: Pois o JMT não é um intelectual de esquerda, e ainda bem.
Jorge Sm. Portugal 30.03.2019: Pacheco Pereira é um "intelectual de esquerda? Essa é a piada do dia.


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