A propósito do excelente pequeno texto
de Salles da Fonseca sobre a tal geração de intelectuais franceses que tanto
contribuíram para a abertura do mundo no campo da criatividade orientada por
princípios filosóficos revolucionários, posso contar das minhas próprias
emoções de leitura, nesses tempos ainda moços, Sartre com as suas peças de teatro, sobretudo, mas Simone de Beauvoir acima de tudo, com as
suas Mémoires d’une jeune-fille rangée
e seguintes, e L’Invitée, que eram
livros de juventude e rebeldia, mas de responsabilidade também, em espaços físicos
de mundos bem diversos da tacanhez do nosso. O existencialismo estava então na
berra, por esses tempos da minha leccionação em África, via-se nos filmes do
James Dean e do Marlon Brando, de uma juventude insatisfeita sobretudo contra a
sociedade preconceituosa de uma burguesia bem instalada. Mas essas ideias
libertárias não nos afectavam grandemente, na orientação que a vida de trabalho
de nós exigia, de a cumprir com empenhamento. Realmente, os efeitos de
convulsão social que a orientação marxista desses génios da cultura trouxeram,
que eu admirava segundo os trâmites da minha própria formação de liberdade sem
manipulações, contudo, revelaram-se catastróficos, mas só o percebemos na
altura do golpe de estado que pôs fim à passividade anterior. Outros tinham
agido na sombra e destruíram o edifício de uma sociedade que, apesar de tudo,
era mais equilibrada e seguidora de princípios do que a que se veio instalar
entre nós, portugueses. Mas natural é isso. Sartre pôde ser realmente livre,
numa sociedade de intelectuais sem fanatismos de tanta rigidez, ou discutindo-os
com argumentações de um saber próprio. Seguindo embora os trâmites da esquerda,
não se filiou no PCF, segundo as informações de R. Aron, veiculadas por Salles
da Fonseca. Por cá, a lucidez transmitida pela leitura, ficou-se pelas ideias
antigas, de marranço contínuo nos tópicos primeiros da doutrina, e sem ir mais
adiante na reflexão. As nossas greves destruidoras do país derivam daí. Desse
marranço. Bovino.
RECAPITULANDO
A HISTÓRIA - A CARTILHA DE STALIN
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 17.04.19
Escreveu
Raymond Aron (1905-1983) durante
alguns anos (1952-54) de grande meditação e profunda tristeza pessoal (morte de
uma filha) um livro que intitulou «L’opium des intelectuels» em
que explica a sua oposição aos intelectuais franceses de então. Globalmente
liderados por Sartre (que se servia de Simone de Beauvoir quando ele próprio
não queria «dar a cara»), todos esses intelectuais se perfilavam pela esquerda,
muitos deles de filiação comunista e outros lá perto mas sem filiação no PCF
(caso do próprio Sartre).
Sobre
este livro – de que estou a ler um resumo feito pelo próprio Aron nas suas
«Memórias» [i] e de que escreverei mais –
extraio da pág. 325 uma citação que Aron faz de um
escrito de Sartre sobre a actuação comunista em França naquela década de 50:
Estou certo de que boa parte da
estratégia da CGT [ii] na greve é muito mais comandada
por fins militares longínquos do que por objectivos sociais evidentes.
Repito
que se trata de escrito de Sartre que Aron apenas cita.
Ou
seja, Aron nem precisou de se levantar contra a esquerda porque foi ela
própria que fez a afirmação de que o estalinismo se dedicava a tácticas de
mobilização de massas para bloquear França
Isto foi em França nos anos 50 do séc. XX mas é precisamente o
mesmo que vemos actualmente em Portugal com o surto interminável de greves e
manifestações. Trata-se obviamente duma táctica de mobilização permanente de
massas que a qualquer momento possa paralisar o país. Basta, para além das
massas humanas, colocar uns camiões em pontos chave do trânsito para que o caos
se instale. Já o fizeram várias vezes, não hesitarão repeti-lo.
Como fica patente, em Portugal
a cartilha stalinista continua em vigor.
E onde está a legitimidade
democrática e a defesa dos princípios humanistas pelas Forças Armadas e de
Segurança? Provavelmente manietadas por infiltrações cirúrgicas.
Não
estou, pois, apenas a recapitular a História, estou a olhar para o presente e a
temer pelo futuro.
Abril
de 2019 Henrique
Salles da Fonseca
[ii] - Confédération Générale du Travail (central sindical comunista)
COMENTÁRIOS:
Anónimo 17.04.2019 09:01: O comunismo é como lepra. Alastra indefinidamente e
não tem cura.
Henrique Salles da Fonseca 17.04.2019 12:26: Meu caro Amigo,: Muitíssimo obrigado pelas sua
mensagens que leio com o maior interesse e me fazem pensar naquilo que foi este
pequeno e nosso país … Com um grande abraço e votos de continuação da sua
viagem maravilhosa por paragens longínquas já contempladas pelas tripulações
das nossas caravelas ! - Francisco
de Novaes Athaide
Henrique Salles da Fonseca 17.04.2019 12:28:
Concordo totalmente. Já escrevi isto a propósito da greve no Porto de Setúbal. E
acabei mesmo há pouco de escrever em "Pratos Limpos", numa série de
três artigos a que dei o título "Os direitos da muito esquerda ou as
grilhetas da governação". Pena, que a elite política cá do burgo seja meio
atontada. Abraço António Palhinha Machado
Henrique Salles da Fonseca 17.04.2019 12:57
: Muito
bom. Um abraço, José Montalvão
Henrique Salles da
Fonseca 17.04.2019 14:05:
Tem toda a razão mas com a mediocridade que abunda na
nossa ”elite” dominante temo não nos livrarmos disto em tempo útil.
Com um abraço do José Carlos Gonçalves Viana
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