Também o ouvimos, Centeno, rosto triste e sério cá
dentro, rosto amável e sorridente, lá fora, em ambos os espaços, de diferentes
linguagens - um britânico e outro nacional - do eterno ar de convicção, de quem
não arreda pé, mesmo que sem a passadeira comemorativa, nhurro e persistente. Uma
vez mais, a imagem de um fado sentido, na tragédia existencial, “Na sombra Cleópatra jaz morta,”
OPINIÃO: Mário Centeno speaks very
good in English
Ao contrário do Centeno português, que
tergiversa muito, Mario The British é
ponderado, pouco dado a megalomanias, e tem uma noção bastante precisa das
dificuldades do país.
Não
sei se já viram o filme Toy Story 3, grande clássico do cinema de animação. A certa altura, o ranger
do espaço Buzz Lightyear é reiniciado acidentalmente, e quando volta ao activo
está em modo espanhol: perdeu a memória, fala num castelhano gracioso, e
mexe-se como um bailarino de flamenco, seduzindo todos os brinquedos à sua
volta.
Mário Centeno não
tem um Spanish mode,
como Buzz Lightyear. Mas tem um English
mode: quando
fala para meios de comunicação social estrangeiros, ele também perde a memória,
conversa num inglês gracioso, e argumenta como um bom liberal, seduzindo todos
os meios financeiros à sua volta. É uma pena Portugal não ter mais
oportunidades para confraternizar com o Mário Centeno que fala inglês. Ao
contrário do Centeno português, que tergiversa muito, Mario The British é
ponderado, pouco dado a megalomanias, e tem uma noção bastante precisa das
dificuldades do país.
As
suas palavras que tanto deram que falar esta semana foram oferecidas ao Financial Times,
para compor um longo artigo intitulado “Portugal: a European path out
of austerity?”. O
ponto de interrogação no título do jornal faz todo o sentido, porque depressa
se conclui que a notícia do
fim da austeridade foi manifestamente exagerada. Não há nenhum “path out of
austerity” que o país tenha trilhado ou esteja a trilhar, e é o
próprio Centeno – mais uma vez apresentado como “the Cristiano Ronaldo of his EU peers”
– quem o admite.
Vale
a pena traduzir o artigo do Financial
Times: “Mr. Centeno admite que o grau com que o PS superou a
austeridade ‘não é dramático’. O crescimento económico no final de 2015 era
‘muito pobre’ e estava a ‘desacelerar’, diz ele. ‘Uma mudança teria de ser
implementada, [mas] não uma grande mudança. Eu desconfio muito dos visionários
que pensam que sabem lidar com grandes máquinas. Eu receio as grandes
máquinas.’”
Reparem
como é bonita esta última frase, capaz até de humedecer os olhos a um bom
conservador burkeano. O medo das grandes máquinas, dos grandes planeadores e
dos planos quinquenais. Bravo! Que bem que fala Mario The British.
E – note-se – esse Mario ainda
foi a tempo de acrescentar mais sabedoria: “O truque foi comprometermo-nos com
um caminho e mantê-lo”, o que teve como consequência “um enorme salto na
confiança e na actividade económica”. Manter o caminho; não intervir muito;
promover a confiança. Pelas minhas contas, é um voto de Mário Centeno na
Iniciativa Liberal.
Mário Centeno é o homem duplicado. Uma só cara, personalidades
inteiramente distintas, à distância de um toque no interruptor. English
mode ou Portuguese mode? A escolha é sua
Ou
não será? Talvez não seja, porque há um ponto em que descobrimos que Centeno
foi demasiado modesto. Ele não fez apenas um truque. O truque de manter o
caminho das contas certas, custe o que custar, que já vinha de Passos Coelho,
foi aquele que permitiu aos
mercados recuperarem a confiança em Portugal. Esse é o truque de Mario
The British e do presidente do Eurogrupo que fala grosso com a
Grécia. Só que depois ainda há um outro truque, o truque de Mário O
Português, que nada tem a ver com esse.
O truque português consistiu nisto:
fingir que não existia o truque inglês. Ou seja, que a página de austeridade tinha sido, de facto,
dramaticamente virada, que as reversões tinham devolvido aos
portugueses tudo aquilo que lhes tinha sido tirado, e que a esquerda da
generosidade tinha arrumado de vez com a direita do empobrecimento. Mário
Centeno é o homem duplicado. Uma só cara, personalidades inteiramente
distintas, à distância de um toque no interruptor. English mode ou Portuguese mode?
A escolha é sua.
COMENTÁRIOS:
JORGE COSTA, Terras do Norte... 14.04.2019
08:33: Excelente JMT!!! Para os mais distraídos, Centeno é o rosto da
austeridade cativada... só que a malta anda mesmo distraída....
ana cristina Lisboa et Orbi 14.04.2019
00:00: o centeno fala a língua que agradar a quem o está a
ouvir. foi para isso que foi contratado pelo costa. lembram-se do costa, no
tempo do passos, a falar com empresários chineses sobre como a economia
portuguesa estava bem? é a mesma língua.
ALRB às armas, às armas, pela Pátria lutar,
contra os LADRÕES marchar, marchar 13.04.2019 22:08: Ora aí é que está a arte do Costa.
Estando o que referiu mais caro para todos (e obviamente não só para si) o
Costa consegue convencer o pagode que está melhor. E isso é o que interessa:
que o pagode pense que está melhor. Dada a nossa propensão a gostar de atirar
os problemas para trás das costas, por um lado, e a habilidade do referido
Costa a enganar o pagode, por outro... o homem consegue ter uma popularidade de
mais de 50%, ou seja, o número de pessoas que pensam que estão melhor é
significativo.
rosab, Lisboa 13.04.2019 14:26: Centeno analisado, exposto, desmascarado, é preciso. O
carnaval do "faz de conta" tem sido um sucesso, o Passos foi o grande
impulsionador ao atirar-nos de um carnaval com trajes e música fúnebres, para
outro onde brilham confettis, cores garridas, música de embalar tocada em ritmo
samba, com carrinho a condizer, conduzido por animados mestres do malabarismo
premiados em todos os concursos de talentos pela Europa fora. Embarcámos nesta
aventura carnavalesca a medo, a meio caminho entrámos animadamente no ritmo, e
agora, perto do fim do sambódromo, damo-nos conta de que, afinal os nossos fatinhos
parece não terem sido tão bem "montados" assim. É bom e
"pedagógico" que nos demos conta de que não vivemos só de
malabarismos bem executados, por...família dr experts muito unida...
ALRB, às armas, às armas, pela Pátria lutar, contra
os LADRÕES marchar, marchar 13.04.2019 13:27: Há
outro aspecto a considerar no linguajar do Centeno e tem a ver com as
capacidades intelectuais dos destinatários da preleção. Vou ser mais claro: a
uns, ele sabe que pode aldrabar, a outros, não se atreve a tanto. Trata-se
portanto de saber (e estar disponível para) explorar as debilidades de outrem.
É uma capacidade visceral, inata, de Costa e de Centeno (bem como de Trump, só
para acrescentar outro exemplo
e internacionalizar a questão). Capacidade essa que me causa profunda
repugnância.
Rui Ribeiro, Bruxelas 13.04.2019 13:04: Não interessa muito como a estratégia é
vendida lá fora. Cá dentro a mudança foi visível, continuou (e só podia) o bom
senso nas contas, mas as prioridades foram outras e foram repostos, de facto,
rendimentos que, só a capa das muitas mentiras de Passos, tinham sido subtraídos
aos Portugueses. Percebo que JMT queira dar destaque a uma narrativa que lhe
agrada mais, ele que foi um dos defensores públicos da TINA. A verdade é que
todos sabemos que foram feitas escolhas diferentes das de Passos e que
mereceram até comentários críticos das diversas incarnações da Troika. Enfim,
JMT, é humano querer parecer que se tem sempre razão, mas a realidade é sentida
pelos Portugueses todos os dias - os aspectos positivos das novas escolhas e os
negativos também!
Tiago Vasconcelos, Amsterdam13.04.2019 13:47: Na verdade, este governo fez uma escolha clara: optou
por comprar os votos do funcionalismo público à custa da maior carga fiscal da
História e do nível mínimo de investimento em serviços públicos deste século.
Conseguiu realizar menos investimento público do que o governo PSD/PP. Ah
grande governo de esquerda!! Ao mesmo tempo, a dívida pública, em valor
absoluto, atingiu máximos históricos... Não há nada digno de elogio em tal
política.
ALRB, às
armas, às armas, pela Pátria lutar, contra os LADRÕES marchar, marchar 13.04.2019 14:32: Rui Ribeiro tem razão: "não interessa muito como a
estratégia é vendida lá fora". Interesa mais como foi vendida aos nativos.
E foi com muita aldrabice. Aldrabice nas razões para a estratégia (havia razões
para mudar mas afinal não havia), aldrabice na implementação da estratégia (iam
repor os rendimentos: repuseram uma parte ínfima mas cativaram à revelia do
parlamento noutras rubricas) e aldrabice na avaliação da origem dos resultados
da estratégia (se não mudaram muita coisa então o mérito vem do governo
anterior).
Rui Ribeiro, Bruxelas 13.04.2019 14:45: Nem é preciso ter noções básicas de economia para
perceber que o valor absoluto da dívida em termos absolutos não é relevante. É
muito mais relevante, e daí estar consagrada em regras europeias, o valor da
dívida em percentagem do PIB. Aí, a evolução é indesmentível. Há outras coisas
no mandato deste governo: dimuinuição de desemprego e crescimento económico,
com valores que há muito não se registavam. Não há como contornar. Estou à
vontade em afirmar isto porque não só não votei PS como não penso votar, nem
nas europeias, nem nas legislativas. Mas não tenho paciência para tentativas
tontas de desmentir aquilo que os números mostram.
Tiago Vasconcelos, Amsterdam13.04.2019 15:05: Meu caro, é suficiente ter dois dedos de
testa para perceber que algo está muito mal quando ao mesmo tempo que os
impostos e a dívida estão em máximos históricos, o investimento público está em
mínimos de 20 anos!... É também suficiente estar minimamente bem informado para
saber que a descida do desemprego em nada se deve às medidas deste governo.
Fosse este um governo PSD/PP, ou não estivesse lá governo algum (como a Bélgica
esteve durante 18 meses), e a descida do desemprego teria sido a mesma. Este
governo limitou-se a surfar a conjuntura económica internacional altamente
favorável, e os juros excepcionalmente baixos.
Francis Delannoy, 13.04.2019 11:38: Mário Centeno speaks very good in English
Mario Centeno speaks mais dos interesses dos seus mestres anglófonos a chusma
de financeiros anglófona a reinar na desunião europeia do que speaks dos
interesses do seu povo..a ex nação portuguesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário