É Henrique
Salles da Fonseca condenado a continuar o
seu percurso informativo sobre as questões a que ainda não respondeu
cabalmente, a respeito das coisas que viu e ouviu durante o seu cruzeiro,
preguiçosamente circunscrito às informações de Armadores inexperientes. Deverá,
pois, procurar as respostas às dúvidas que põe, algures, que a sua
indispensável curiosidade tem por obrigação procurar, e a que os seus amigos
vão generosamente dando pistas de apoio, para a sentença ser menos pesada. Por
mim, que nada sei, como todo o homo sapiens que se preze, que
inclui naturalmente a “mulier”, mesmo a da burka, a qual esconde graças
femininas surpreendentes, (e provavelmente também muitas desgraças), limito-me
a transcrever da Internet, o porquê de Felix aplicado à Arábia, – que Camões, como já se viu, embora noutro espaço - próximo, todavia,
mas de contexto diferente - considerava que era “infelice”, por antífrase,
como já aqui anotei, o que, de resto, só demonstra a sua irredutível condição
de perseguido pela sorte, ao deixar a vida “pelo mundo em pedaços repartida”,
e nunca, naturalmente, em cruzeiro. Exige-se, pois, a prorrogação do descritivo
analítico, não encerrada ainda, por enquanto, a sessão. Aliás, trata - o final
incompleto - de pura modéstia e de um truque de suspense, idêntico ao que usou
no intróito ao seu descontraído “exposé” em vários capítulos, de uma seriedade
reconhecida, sem peneiras de impecabilidade, mas leve e gracioso no seu
conjunto.
Mas, como diria o Anjo à Alma caminheira, “Vosso livre alvedrio, isento,
forro, poderoso, vos é dado polo divinal poderio e senhorio, que possais fazer
glorioso vosso estado.”
Livre alvedrio é esse, no
presente mais que no passado. Vivemos em democracia, respeitamos o livre
“alvedrio” de cada um, e o seu prazer de “ter um livro para ler e não o
fazer”. Todavia, os amigos desejam continuidade, donde a sentença
consiste em “continuação”.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 10.04.19
Demorámos
12 horas a percorrer o Canal de Suez de um extremo ao outro. Não sei se é
habitual que assim seja ou se a nossa velocidade foi especial de passeio. Deu
para ver tudo em detalhe, a curta distância, pois estava tudo ali, à mão de
semear. E o que vimos? Muito. Diria mesmo mais: muitíssimo!
FOTO exemplificativa: O incrível
volume de obras em curso na margem do lado do Sinai dá que pensar. Trata-se de cidades e cidades seguidas umas às
outras com finíssimas zonas de permeio. A maior parte delas com nítida vocação
habitacional ou até mesmo turística e algumas outras em que vi militares e
equipamentos da Engenharia egípcia a trabalhar. Estas, poderá ser que
estejam vocacionadas para o lazer de militares mas achei lazer em demasia. Do
que se tratará? Não havia a bordo quem me soubesse esclarecer pois este era
o primeiro cruzeiro que o nosso Armador por ali fazia e, pelos vistos, o
pessoal sabia tanto como eu: nada. Fica o registo de que na margem do Sinai
está tudo numa polvorosa de obras grandes, médias e pequenas, civis e
militares.
A
Administração do Canal situa-se na margem africana, a que está humanizada há
mais tempo, relativamente próxima do Cairo e de Alexandria.
FOTO exemplificativa: Um dos mistérios que deixo por resolver é o de estradas que, na
margem do Sinai, saem a 90º do Canal em direcção a nenhures mas que, logo ali à
nossa vista, são interrompidas por um muro
de pedra em que a única passagem (um relativamente pequeno portão) está
descentrado da via e colocado sobre uma das bermas, aparentemente em
descontínuo com qualquer trânsito que por ali se aventure.
FOTO: E lá vem o companheiro «Costa»
quase a passar por baixo da ponte de Port Saïd
Nos
arrabaldes de Port Saïd, uma ponte magnífica (ainda por inaugurar) que ligará
ao porto marítimo que se situa na outra margem, a do Sinai.
E
por aqui saímos das Arábias, nos fizemos ao mar e seguimos rumo ao Pireu.
Haja
calma e ninguém vai suster o Egipto.
Inch
Allah!
Questão
final: «Arábia Felix» - porquê «felix»?
E
por aqui me fico que os meus leitores já devem estar fartos.
Abril
de 2019
FOTO: Henrique Salles da Fonseca (ao pôr do Sol no deserto do Dubai)
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da
Fonseca, 10.04.2019 13:26: Caro
Dr. Salles da Fonseca: Eu por mim falo, não estou farto. Mande mais. As
construções e as estradas que levam a nenhures, deserto dentro, e que têm
guarda-portão, devem ser a resposta egípcia à revolta de algumas tribos
beduínas instigadas pelo fundamentalismo islâmico. A coisa por lá tem andado
preta. Quanto à Arábia Felix, simples: tem água. Abraço António Palhinha Machado
Adriano
Lima, 10.04.2019, 13:35: Estava à espera de ver escrita no fim
deste relato: "continua", mas como não é o caso, concluo que chegámos
ao fim. Por outro lado, não sei se sim ou não, porque o autor pergunta
"porquê felix", a mesma pergunta que venho fazendo e que me levou a
consultar o dicionário latino que me confirmou que "felix" é mesmo
feliz, como de imediato interpretara. Assim sendo, convenço-me de que a
narrativa poderá vir ainda a deter-se em certas particularidades, mas não estou
seguro. A seu tempo, o Dr. Salles da Fonseca nos dirá. Mas ouso ensaiar uma
resposta. A Arábia é feliz pela prosperidade que conseguiu graças aos seus
poços de petróleo, tanto mais que está muito longe de acontecer o seu
esgotamento, enquanto tudo indica vem investindo convenientemente na
estruturação da sua economia, não se limitando a fruir as benesses do petróleo,
como fez Angola, ainda por cima por vias espúrias? Ou Arábia é feliz por haver
relativa paz social no país, sem margem visível para o terrorismo islâmico?
Em todo o caso, em que medida se considerará feliz um país onde os direitos
humanos são regulados ao sabor do poder absoluto nele reinante? Até porque,
segunda reza, a Arábia financia de forma mais ou menos velada o terrorismo
noutros países? Falando de felicidade, não será também feliz o Egipto
com aquela "linha verde contínua" que, além das outras referências
aqui feitas, é um sinal indesmentível de um progresso que se rasga de forma
indómita por entre aqueles desertos? Seja como for, a
verdade é que já estou com saudades destes diários de bordo.
Henrique Salles da Fonseca 10.04.2019 18:00:
Li a sua Arábia Feliz e gostei da prosa.
Parabéns. João
Franco
Henrique Salles da Fonseca 10.04.2019 18:01:
Caro Henrique, Nota curiosa (sem
especial interesse para ti): A minha Avó e o meu Tio-Avô, que viviam em Paris,
eram grandes acionistas – possivelmente todos os 7 irmãos – do Canal de Suez,
que, depois de nacionalizado, ainda deu para o meu Tio-Avô (que, entretanto por
causa da II Guerra, veio viver para Portugal), viver dos rendimentos por mais
de 20 anos!!! Um abraço. Jorge Nogueira-Vaz
NOTAS EXPLICATIVAS DA
INTERNET:
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Arábia Feliz, era rica e generosa,
localizada no sudoeste da Península Arábica, que foi um dos países mais
ricos da Antiguidade, sendo
o único lugar do mundo onde se produzia a mirra,
um preciosíssimo unguento. Como
na Abissínia,
aí se produzia o olíbano, ou incenso. Era também parada
obrigatória para os barcos que levavam as riquezas da Índia para Alexandria, no Egipto.
Na Arábia Feliz, ao contrário das
regiões do norte e central, a água não era escassa,
tendo muito sido aproveitada no cultivo dos campos. Era próspera pela sua agricultura
e pela sua posição privilegiada para o comércio marítimo. Hoje o Iémen é
possivelmente o mais pobre dos países árabes.
A mais importante cidade da Arábia Feliz
era Aden, em função
de seu grande porto.
A região era dividida em tribos e pequenos reinos, dentre os quais,
no século VIII a.C., o mais poderoso era o Reino de Sabá. É célebre
a passagem bíblica da Rainha de
Sabá e do rei Salomão (Rs
10, 1-10). A capital do Reino de Sabá era Maribe e,
posteriormente, Saná.
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