quarta-feira, 10 de abril de 2019

Sentença


É Henrique Salles da Fonseca condenado a continuar o seu percurso informativo sobre as questões a que ainda não respondeu cabalmente, a respeito das coisas que viu e ouviu durante o seu cruzeiro, preguiçosamente circunscrito às informações de Armadores inexperientes. Deverá, pois, procurar as respostas às dúvidas que põe, algures, que a sua indispensável curiosidade tem por obrigação procurar, e a que os seus amigos vão generosamente dando pistas de apoio, para a sentença ser menos pesada. Por mim, que nada sei, como todo o homo sapiens que se preze, que inclui naturalmente a “mulier”, mesmo a da burka, a qual esconde graças femininas surpreendentes, (e provavelmente também muitas desgraças), limito-me a transcrever da Internet, o porquê de Felix aplicado à Arábia, – que Camões, como já se viu, embora noutro espaço - próximo, todavia, mas de contexto diferente - considerava que era “infelice”, por antífrase, como já aqui anotei, o que, de resto, só demonstra a sua irredutível condição de perseguido pela sorte, ao deixar a vida “pelo mundo em pedaços repartida”, e nunca, naturalmente, em cruzeiro. Exige-se, pois, a prorrogação do descritivo analítico, não encerrada ainda, por enquanto, a sessão. Aliás, trata - o final incompleto - de pura modéstia e de um truque de suspense, idêntico ao que usou no intróito ao seu descontraído “exposé” em vários capítulos, de uma seriedade reconhecida, sem peneiras de impecabilidade, mas leve e gracioso no seu conjunto.

Mas, como diria o Anjo à Alma caminheira, Vosso livre alvedrio, isento, forro, poderoso, vos é dado polo divinal poderio e senhorio, que possais fazer glorioso vosso estado.”
Livre alvedrio é esse, no presente mais que no passado. Vivemos em democracia, respeitamos o livre “alvedrio” de cada um, e o seu prazer de “ter um livro para ler e não o fazer”. Todavia, os amigos desejam continuidade, donde a sentença consiste em “continuação”.


 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 10.04.19
Demorámos 12 horas a percorrer o Canal de Suez de um extremo ao outro. Não sei se é habitual que assim seja ou se a nossa velocidade foi especial de passeio. Deu para ver tudo em detalhe, a curta distância, pois estava tudo ali, à mão de semear. E o que vimos? Muito. Diria mesmo mais: muitíssimo!
FOTO exemplificativa: O incrível volume de obras em curso na margem do lado do Sinai dá que pensar. Trata-se de cidades e cidades seguidas umas às outras com finíssimas zonas de permeio. A maior parte delas com nítida vocação habitacional ou até mesmo turística e algumas outras em que vi militares e equipamentos da Engenharia egípcia a trabalhar. Estas, poderá ser que estejam vocacionadas para o lazer de militares mas achei lazer em demasia. Do que se tratará? Não havia a bordo quem me soubesse esclarecer pois este era o primeiro cruzeiro que o nosso Armador por ali fazia e, pelos vistos, o pessoal sabia tanto como eu: nada. Fica o registo de que na margem do Sinai está tudo numa polvorosa de obras grandes, médias e pequenas, civis e militares.
A Administração do Canal situa-se na margem africana, a que está humanizada há mais tempo, relativamente próxima do Cairo e de Alexandria.
FOTO exemplificativa: Um dos mistérios que deixo por resolver é o de estradas que, na margem do Sinai, saem a 90º do Canal em direcção a nenhures mas que, logo ali à nossa vista, são interrompidas por um muro de pedra em que a única passagem (um relativamente pequeno portão) está descentrado da via e colocado sobre uma das bermas, aparentemente em descontínuo com qualquer trânsito que por ali se aventure.
FOTO: E lá vem o companheiro «Costa» quase a passar por baixo da ponte de Port Saïd
Nos arrabaldes de Port Saïd, uma ponte magnífica (ainda por inaugurar) que ligará ao porto marítimo que se situa na outra margem, a do Sinai.
E por aqui saímos das Arábias, nos fizemos ao mar e seguimos rumo ao Pireu.
Haja calma e ninguém vai suster o Egipto.
Inch Allah!
Questão final: «Arábia Felix» - porquê «felix»?
E por aqui me fico que os meus leitores já devem estar fartos.
Abril de 2019
FOTO: Henrique Salles da Fonseca (ao pôr do Sol no deserto do Dubai)

COMENTÁRIOS:
 Henrique Salles da Fonseca, 10.04.2019  13:26: Caro Dr. Salles da Fonseca: Eu por mim falo, não estou farto. Mande mais. As construções e as estradas que levam a nenhures, deserto dentro, e que têm guarda-portão, devem ser a resposta egípcia à revolta de algumas tribos beduínas instigadas pelo fundamentalismo islâmico. A coisa por lá tem andado preta. Quanto à Arábia Felix, simples: tem água. Abraço António Palhinha Machado

Adriano Lima, 10.04.2019, 13:35: Estava à espera de ver escrita no fim deste relato: "continua", mas como não é o caso, concluo que chegámos ao fim. Por outro lado, não sei se sim ou não, porque o autor pergunta "porquê felix", a mesma pergunta que venho fazendo e que me levou a consultar o dicionário latino que me confirmou que "felix" é mesmo feliz, como de imediato interpretara. Assim sendo, convenço-me de que a narrativa poderá vir ainda a deter-se em certas particularidades, mas não estou seguro. A seu tempo, o Dr. Salles da Fonseca nos dirá. Mas ouso ensaiar uma resposta. A Arábia é feliz pela prosperidade que conseguiu graças aos seus poços de petróleo, tanto mais que está muito longe de acontecer o seu esgotamento, enquanto tudo indica vem investindo convenientemente na estruturação da sua economia, não se limitando a fruir as benesses do petróleo, como fez Angola, ainda por cima por vias espúrias? Ou Arábia é feliz por haver relativa paz social no país, sem margem visível para o terrorismo islâmico? Em todo o caso, em que medida se considerará feliz um país onde os direitos humanos são regulados ao sabor do poder absoluto nele reinante? Até porque, segunda reza, a Arábia financia de forma mais ou menos velada o terrorismo noutros países? Falando de felicidade, não será também feliz o Egipto com aquela "linha verde contínua" que, além das outras referências aqui feitas, é um sinal indesmentível de um progresso que se rasga de forma indómita por entre aqueles desertos? Seja como for, a verdade é que já estou com saudades destes diários de bordo.

Henrique Salles da Fonseca  10.04.2019  18:00: Li a sua Arábia Feliz e gostei da prosa. Parabéns. João Franco


 Henrique Salles da Fonseca  10.04.2019  18:01: Caro Henrique, Nota curiosa (sem especial interesse para ti): A minha Avó e o meu Tio-Avô, que viviam em Paris, eram grandes acionistas – possivelmente todos os 7 irmãos – do Canal de Suez, que, depois de nacionalizado, ainda deu para o meu Tio-Avô (que, entretanto por causa da II Guerra, veio viver para Portugal), viver dos rendimentos por mais de 20 anos!!! Um abraço. Jorge Nogueira-Vaz

NOTAS EXPLICATIVAS DA INTERNET:
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Arábia Feliz, era rica e generosa, localizada no sudoeste da Península Arábica, que foi um dos países mais ricos da Antiguidade, sendo o único lugar do mundo onde se produzia a mirra, um preciosíssimo unguento. Como na Abissínia, aí se produzia o olíbano, ou incenso. Era também parada obrigatória para os barcos que levavam as riquezas da Índia para Alexandria, no Egipto.
Na Arábia Feliz, ao contrário das regiões do norte e central, a água não era escassa, tendo muito sido aproveitada no cultivo dos campos. Era próspera pela sua agricultura e pela sua posição privilegiada para o comércio marítimo. Hoje o Iémen é possivelmente o mais pobre dos países árabes.
A mais importante cidade da Arábia Feliz era Aden, em função de seu grande porto. A região era dividida em tribos e pequenos reinos, dentre os quais, no século VIII a.C., o mais poderoso era o Reino de Sabá. É célebre a passagem bíblica da Rainha de Sabá e do rei Salomão (Rs 10, 1-10). A capital do Reino de Sabá era Maribe e, posteriormente, Saná.

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