Para lá de um nível de humor superior, Helena Matos revela também um excelente poder de
observação e de argumentação. Os casos que cita, dos diversos “planos
ambiciosos” do governo, no objectivo obreiro de vir a figurar no próximo
(governo, é claro), - “ambiciosos” mas de diferente alcance – como esse das creches em quartéis (ambicioso propriamente dito e ridículo
ao máximo, a merecer chufas), o instantâneo
dos carros ultrapassados pelos passes - “ambicioso instantâneo”, que HM desmascara na sua fantasia
megalómana - o ambicioso “logo se vê”,
perverso e ultrajante, se não perigoso, tudo isso é exposto com a necessária
graça, mas seriedade também, que nos deveria alertar para tais manobras não
inocentes. Escolhi entre alguns dos comentários, entre os muitos que recebeu,
nem sempre bem ponderados, dominados pela facúndia pouco educada de esquerda.
O plano ambicioso /premium
OBSERVADOR, 31/3/2019
Dia sim dia não, o Governo tem um
plano ambicioso. Imediatamente notícias-poema anunciam os objectivos como se já
fossem resultados. À espera de um governo não socialista está o plano catastrófico.
Só
esta semana foram três planos ambiciosos. O plano
ambicioso propriamente dito: as creches em quartéis. O plano ambicioso-instantâneo: os 40 mil carros que a
descida dos passes já retirou de Lisboa . O plano ambicioso “logo se vê” ou
mais propriamente “Governo quer ir buscar bebés e mulheres de jihadistas à
Síria“. Também houve o plano
salvar a pele protagonizado por António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa mas
esse não é um plano novo, é o de sempre, embora agora numa deriva “nervoso
miudinho” que levou António Costa a fazer esta declaração inédita na história
da conjugalidade: “Nenhum dos meus ministros é
casado com um banco” (Antecipa-se aqui já o próximo plano ambicioso:
o direito ao casamento com um banco, por pessoas ministras ou não ministras,
dos secretários de Estado com caixas económicas e dos assessores com
caixas multibanco). Mas passemos aos planos ambiciosos desta semana.
Todos eles apresentados como soluções maravilhosas. Nem uma dúvida. Nem uma
pergunta. Longe vão os tempos em que o “plano catástrofe anunciada” dominava os
noticiários.
O plano ambicioso das creches nos
quartéis. A coisa está inscrita no Plano Sectorial para a Igualdade da Defesa Nacional (2019-2021) e
logo foi apresentada como um plano ambicioso: “Governo quer
creches em quartéis para ter mais mulheres militares - Ministério
da Defesa tem plano ambicioso para atrair mais mulheres, e voluntários em
geral, para as Forças Armadas, ajudando a conciliar trabalho e vida familiar.”
Digamos que é muita ambição para tão pouco raciocínio. Em primeiro e
óbvio lugar, não é adquirido que a existência de creches em
quartéis leve a um aumento tão significativo do número de mulheres interessadas
em entrar nas Forças Armadas que justifique a abertura de creches nos quartéis.
Aliás a questão está mal colocada: porque hão-de as creches atrair mais
mulheres às Forças Armadas e não mais homens? Depois quantas crianças
teriam de assegurar anualmente os jovens militares (mulheres e homens) para
manter as tais creches em funcionamento regular? E já agora em quantos
quartéis? Ou será que se estava a pensar fazer uma creche em cada quartel o
que levará ao paradoxo de termos creches com três ou quatro crianças?
Ou quiçá nenhuma. Nem questionando se um quartel é o local mais apropriado
para abrir uma creche ou até se a legislação o permite – os quartéis que têm
paióis também entram neste “plano ambicioso”? – que sentido faz criar
creches para as Forças Armadas e não para os bombeiros ou para os agentes das
diversas forças de segurança? Ou para os trabalhadores que fazem turnos como
acontece em muitos serviços de saúde? Seria interessante sabermos que informações
recolheram as catorze pessoas que prepararam este “plano ambicioso” sobre as
experiências doutros exércitos nesta matéria (certamente que estudaram o
assunto e que tudo isto não é apenas um supor que se se abrirem creches as
mulheres aparecem!) Ou se analisaram a experiência das famílias dos
trabalhadores da TAP e de alguns centros comerciais que têm acordos com creches
privadas de modo a que estas pratiquem horários ajustáveis às
necessidades dos respectivos trabalhadores.
Em
resumo, aguardam-se notícias sobre este plano ambiciosos nos próximos meses.
Sendo certo que mesmo que não abra creche alguma a ambição governamental ficou
devidamente registada.
O plano dito e feito. “Passes sociais retiram 40 mil carros de Lisboa por dia.” A sério? Já retiraram? Não é uma
previsão é uma certeza: “Passes sociais retiram 40 mil carros de Lisboa por
dia” — garante o Expresso na sua versão papel. A versão on line é
mais cautelosa e titula Novos passes podem tirar 42 mil carros de Lisboa Mas em
seguida dá como certo que “Redução de preços levará mais 55
mil pessoas a andar de transportes. Espaço libertado pelos carros equivale a
230 quilómetros de fila
Pouca
diferença existe entre estas contas e as da leiteira do conto infantil que com
o dinheiro da venda do leite ia comprar galinhas que poriam ovos todos os dias
que por sua vez ela venderia…
Face a estas cascatas de conclusões cabe perguntar há quanto tempo deixaram de
utilizar os transportes públicos os jornalistas, os técnicos camarários e os
desenhadores destes cenários? O facto de estar a aumentar a procura
pelos passes não quer dizer de modo algum que entrem menos automóveis na
capital pois as pessoas que estão a comprar passe não são necessariamente
aquelas que usam automóvel. O problema dos transportes públicos
em Lisboa não era tanto o seu custo mas sim a sua falta de qualidade que aliás
se tem vindo a acentuar: carreiras cortadas, metropolitanos constantemente com
avarias a mais e carruagens a menos; comboios a abarrotar; insegurança em
determinadas linhas e a partir de certas horas… Transportes com mais qualidade
e com horários menos espaçados, onde se pudesse facilmente levar um carrinho de
bebé, de onde a crescente população envelhecida subisse e descesse com
facilidade, poderiam levar alguns a trocar o automóvel pelos transportes
públicos. Um passe mais barato não é a solução para quem já paga muito
mais para vir de automóvel.
Note-se
que as questões suscitadas pelo “plano dito e feito” não se esgotam nesta
identificação entre o anunciado e o dado como realizado. O esquema pirâmide optimista subjacente a estas
notícias que se baseiam nas declarações do vereador da Mobilidade e Segurança
na Câmara Municipal de Lisboa, Miguel Gaspar, leva-nos a perguntar: onde pára o
plano catástrofe anunciada? O tal que,
por exemplo, acompanhou o anúncio do túnel do Marquês? Recordo que levámos
meses a ouvir e a ler notícias em que especialistas vários garantiam que a
abertura do túnel do Marquês ia seguramente causar o caos na capital além de
várias tragédias aos que arriscassem atravessá-lo. Nada disso aconteceu,
o túnel melhorou a segurança rodoviária em Lisboa, funciona na perfeição e a
única catástrofe que lhe está associada são os muitos milhões de euros que os
contribuintes portugueses tiveram de pagar a título de indemnização ao
consórcio construtor, pela interrupção da obra. A ausência do plano catástrofe
anunciada e o entusiasmo acrítico em torno do plano ambicioso é o que
distingue uma governação socialista em Portugal.
Ainda
a propósito do plano catástrofe anunciada, soube-se agora que nos estaleiros de Viana do
Castelo estão a trabalhar 1.300 trabalhadores. A mão-de-obra da
cidade já é insuficiente para as necessidades dos estaleiros. Recordo que em
Dezembro de 2013, o plano catástrofe anunciada que então vigorava nas notícias
relatava “Multidão contra a morte dos
Estaleiros de Viana” (tal como agora é certo e sabido que a descida
do preço dos passes vai diminuir 230 quilómetros de fila de automóveis em
Lisboa era à época dado como absolutamente certo que os estaleiros uma vez privatizados
iam morrer). Mário
Soares, a deputada do PCP, Carla Cruz, Gabriela Canavilhas, Marisa Matias e Ana
Gomes gritavam em Viana “A construção naval não pode morrer“. Ana Gomes como de
costume acrescentava “Isto é gestão danosa, é contra o interesse nacional e europeu, e nós, os
portugueses, não vamos ficar calados e quietos.” O que têm dizer
agora aqueles que viram na privatização dos estaleiros a sua morte?
O
fatalismo com que se tem aceite esta disparidade entre o “plano catástrofe
anunciada” para tudo o que belisque a visão socialista do mundo e a versão
“plano ambicioso” para tudo o que a confirme é um dos maiores e mais nocivos
mistérios do nosso tempo..
O
plano “logo se vê”. “Governo quer ir buscar bebés e
mulheres de jiadistas à Síria”E assim temos o Governo português
transformado numa espécie de cegonha trazendo bebés não de Paris mas sim da
Síria. Na asa do governo-cegonha viriam também mulheres dos jihadistas. Simples
e fofo, não é?
Comecemos
pelas mulheres para efeitos de desresponsabilização apresentadas como “mulheres
dos jihadistas”. Não deixa de ser extraordinário que invocando-se todos os
dias a igualdade entre homens e mulheres, vasculhando-se com zelo e afinco todo
e qualquer vestígio de discriminação, se acabe a tratar estas mulheres como
umas pobres criaturas que, ao contrário dos homens, não sabiam o que faziam.
Ora estas mulheres não são irresponsáveis. Escolheram partir. Conviveram com a
morte e a tortura. Souberam das violações a tantas mulheres e meninas. Agora
que a sua vida está em risco querem elas ou as suas famílias o
repatriamento. Contudo elas tiveram responsabilidades naquilo em que a
sua vida se tornou e não é claro que não continuem a representar um risco para
a nossa segurança. Logo tem de se equacionar muito bem o enquadramento legal
destas mulheres uma vez repatriadas ou podemos acabar a assistir impotentes ao
avolumar de vários problemas. (Um pouco à semelhança do que aconteceu no início
do século XXI quando os navios mercantes se tornaram pasto dos piratas nas
águas da Somália e descobrimos estupefactos que os ditos piratas nem sequer
podiam ser detidos pelos navios-patrulha que mandávamos para aquelas regiões
porque as nossa magníficas leis não previam que a pirataria existisse.)
Por
fim, os bebés que não são apenas uns bebés mas sim um total
de vinte menores. Ainda mais que as mulheres eles poderão
representar um alvo para os difusores do radicalismo. Não quero com isto dizer
que estas mulheres e crianças não possam ou não devam ser repatriadas – tanto
mais que caso tal não aconteça podem arriscar a morte – mas quero dizer que uma
vez repatriadas não podemos fazer de conta que estamos perante uma espécie de
famílias hippies que foram a um festival de Verão que correu mal.
COMENTÁRIOS:
Maria Augusta Martins: no assunto dos estaleiros Navais tem a jornalista razão. Foi preciso fechar
aquele couto dominado pela comissão de trabalhadores afectos ao PC , para
começarem a fazer alguma coisa de útil para o povo e para a cidade. Depressa se
viu onde estava o cancro, pois depois de extirpado não falta trabalho nem
encomendas, mas faltam os arménios, as marisas, anas gomes e outros que tais,
sem esquecer o gato pingado do presidente da câmara da cidade com um ramo de
flores na mão a fazer o elogio do falecido.
Agora passado pouco mais de um ano são tudo vitórias
da democracia e dos trabalhadores, sem esquecer o césar dos Açores que foi quem
deu o tiro de misericórdia aos velhos ENCV, lembram-se dos ferries dos Açores?
E ninguém prende esse e outros energúmenos, antes pelo contrário o cumulam a
ele e aos seus de tachos e mordomias. Quanto ás creches nas Forças
Armadas era mais rentável e bem mais chamativo criarem uns alcouces em quartéis
por esse país fora, garantido que voluntários/as não faltariam!
Carlos Sousa:: O Plano Ambicioso de António Costa é de todos
conhecido. Manter-se no Poder a todo o custo. Para lá chegar vale tudo... desde
os passes mais baratos que os portugueses irão pagar com mais impostos, até às
promessas de Pedro Marques para 2030. Costa mantém um gabinete de turcos, com a
missão de fazer calar a oposição (este caso incomodativo das famiglias
socialistas ), e de descobrir novas mediáticas acções que possam continuar a
distrair os pacóvios potenciais votantes na esquerda. E pode-se dizer que Costa tem conseguido a atenção da
plebe rústica, dado que se mantêm à frente nas sondagens preparado para nova
geringonça.
Fernando Ribeiro: Quanto às
mulheres dos jihadistas, é INDISCUTÍVEL que estão na situação actual por sua e
livre vontade. Participaram num regime que cometeu crimes contra a humanidade
(tortura, violações, execuções, esclavagismo...). Numa sociedade normal, iriam
ser julgadas como foram os criminosos de guerra nazis. Nesta sociedade... bem,
não havendo valores, espera-se o quê? Há tempos uma vítima yazidi discursou no
parlamento europeu. Eu pensei: "Ó desgraçada! estás a falar com os
covardes que te poderiam ter salvo e nada fizeram".
Sebastião d’Ávila: No que
concerne ao plano social-fascista (que será concretizado, não duvide) de
importar ainda mais terroristas islâmicos ( desta vez meretrizes e
crias) a autora revela considerável ingenuidade. Na verdade, falamos aqui
de combatentes inimigos que tomaram parte em luta armada contra toda a
civilização ocidental. A qual odeiam e nunca mas nunca desistirão de tentar
aniquilar. A questão de saber se estiveram fisicamente em campo de batalha
ou desenvolveram actividades soft como parir, propaganda ou logística é
totalmente irrelevante para a sua classificação como combatentes inimigos,
co-responsáveis por toda a barbárie sarracena e nomeadamente no teatro da Síria.
Daí que, sem hesitar, estados livres do jugo social-fascista, certos do seu
dever primeiro de proteger a sua Nação, retiraram a nacionalidade a semelhantes
criminosos de guerra e quando os ditos lograram entrar nos seus territórios
foram imediatamente presos. Se
a autora me permite, aqui o plano social-fascista ambicioso é outro: juntar aos
milhares de terroristas já importados à sorrelfa alguns mais, forçar a autora e
todos os demais contribuintes a sustentá-los e construir-lhes mais mesquitas no
centro de Lisboa, a assinalar o novo território conquistado. Quando acordar a autora, e demais ingénuos, encontrará
todo um novo “Portugal” dominado por novos “portugueses”, fascistas
consanguíneos, de rabo permanentemente em riste, prenhas ou a parir que
assegurarão o poder ao fascismo-social que ora os importa e sempre os
alimentará.
: Muito boa crónica. Não tenho
paciência, mas todos os planos podem ser bem desmontados e são propaganda muito
reles. Creches nas Forças Armadas é ridículo, mas quem pensa estas coisas?
Preocupante é essa de irem buscar as terroristas e os filhos, os países
europeus que têm lá gente dessa, retiram-lhes a cidadania e se regressarem é
directamente para as prisões, mas querem importar terrorismo? Esta
governação socialista vai custar-nos mais cara que a pré-bancarrota Sócrates.
Carlos Quartel Muito bem
escrita, esta crónica. Deixa patente a intensa barreira de propaganda,
que constrói a narrativa. Um castelo de cartas , uma fantasia vendida pela CC,
com o Expresso à cabeça. Os governos fazerem propaganda é normal, o que não é
normal é a submissão de jornais e jornalistas. Mas há a considerar que aparecem
algumas fissuras na parede. Esta história das famílias está a fazer dano e a
pôr alguns bastante nervosos. O teste serão as eleições europeias .....
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