José Manuel Martins, de
Évora, faz um retrato perfeito de um VPV que parece ter perdido a garra
anterior, neste saltitar diarístico de tema em tema, modo incompleto, por vezes
de mera trica sem dimensão, de exprimir as suas opiniões, sequer contraditórias,
conforme o estado de espírito do dia, de maior ou menor azedume, que as ditou.
É o caso das opiniões sobre o governo – nos dias 23 e 24 (sublinhados). Em todo
o caso, gostamos sempre de o ler, sério ou mordaz, oxalá continue, saecula
saeculorum. Amen.
OPINIÃO
Diário
Vasco Pulido Valente escreve
que "os professores começam a irritar as pessoas".
30 de Março de 2019
23 de Março
Os
professores na rua, com a mesma intransigência e a mesma arrogância.
Um dia destes, alguém terá de lembrar a Mário Nogueira que ele não foi eleito
primeiro-ministro, e que o primeiro-ministro é António Costa.
A
tentativa de submeter o poder político ao poder sindical falhou sempre na
Europa civilizada. Assisti, em Inglaterra, entre 1970 e 1975, a parte dessa
guerra, que acabou, como se sabe, na derrota dos mineiros e no triunfo de
Margaret Thatcher.
O
governo é que decide como e quando se gastam os dinheiros do Estado, não é
nenhum sindicato profissional, por muito que julgue ter a justiça do seu lado.
E não há governo que possa contrair cegamente encargos para o futuro, sobretudo
em ano de eleições. Os
professores fariam bem em se guardar para 2020. Começam a irritar as pessoas.
24 de Março
O procurador
Mueller entregou o seu relatório. Trump e o seu pessoal são
absolvidos de qualquer cumplicidade com a Rússia na tentativa de influenciar o
resultado das eleições presidenciais de 2016. E, na prática, também da suspeita
de terem querido conscientemente obstruir a justiça.
Isto
foi, como se calculará, uma enorme derrota para o Partido Democrático, para a
CNN, para a NBC e para a tropa fandanga do “politicamente correcto”. Como
reagiram eles? Com uma desesperada exploração de todas as lacunas e com uma
atenção perversa a todos os pormenores, até aos mais insignificantes. A CNN
mostrou fanático atrás de fanático a vociferar com a mesma raiva as mesmas
baboseiras. Gostei do espectáculo.
25 de Março
Toda a gente anda por aí a falar das “famílias” do
governo. É verdade que eles não conhecem mais ninguém. E, pior
ainda, nunca quiseram conhecer mais ninguém. Só que não podemos olhar isto com
complacência. Nunca houve em Portugal, nem no século XIII, um governo destes. E
também nunca houve um governo destes na Europa moderna. As desculpas de António
Costa não valem: a originalidade lusitana não é um consórcio de parentes e
amigos.
Só
entrei num governo. Mas, nesse governo, não passaria pela cabeça de ninguém
encher o Estado com as pessoas com que o PS o encheu. Existia, nessa altura, o
que se pode chamar decência comum: “se a minha mulher está no governo, não devo
estar eu”; “se a minha filha está no governo, não devo estar eu”. Nada mais
simples.
26 de Março
Para que é que serve o défice zero? Os comentadores hesitam. No fundo, não há aqui nada de
complicado. Não se trata de professores, de enfermeiros, de funcionários, ou de
investimento. Todos nós podemos fantasiar sobre a distribuição de um imaginário
monte de dinheiro. Mas chegará sempre o dia em que temos de provar alguma
honestidade.
A
dívida absoluta aumentou. O futuro é duvidoso. O interesse de Portugal é
aparecer como um Estado bom pagador. É para isso que serve o défice zero: para
aumentar e solidificar o nosso crédito. Não queremos com certeza, se as coisas
correrem mal, andar outra vez com o chapéu na mão a mendigar a caridade de
Bruxelas.
27 de Março
Dia
do Teatro. Espero que seja prestada a Palmira Bastos e à sra. D. Amélia Rey
Colaço a homenagem que merecem. A sua versão de como deve ser o português
falado continua viva no teatro, no cinema e, principalmente, na telenovela.
28 de Março
Vítor
Constâncio na Assembleia da República. Se julgavam que o homem ia
ser caça fácil, enganaram-se. Como todos os outros, ele teve sempre à mão um
artigo da lei que o ilibava ou o mandava ficar calado. Contra esta espécie
de teólogos (Carlos Costa é outro) os senhores deputados fazem figura de
ingénuos. Hão-de cair as muralhas de Constantinopla e Mariana Mortágua
continuará a discutir o sexo dos anjos.
COMENTÁRIOS:
Hugo Miguel Martins Barao, Évora 31.03.2019
: Não sr Vasco nem todos estão fartos dos
professores. Eu não estou e era só o que faltava. Tudo o resto do diário é
preguiça presunçosa. No way.
JDF Portugal 31.03.2019: Lol...que diga que é mais uma constatação da realidade,
muito bem...agora preguiça? Oh...
Sandra, Lisboa 31.03.2019: Uma é a Palmira. A outra é a Sra D. Amélia. Ou bem que
eram a Palmira e a Amélia ou eram as duas sras donas. Olha qu`isto!
Mário Orlando Moura Pinto,
Setúbal30.03.2019: Haja alguém
que recorde a este Sr. Vasco que Mário Nogueira foi eleito - não foi nomeado! -
pelos professores para que defenda os seus interesses e não os do governo. No
dia em que os professores se sentirem mal representados escolherão outra
pessoa. Isto é Democracia, por muito que custe a este azedo Sr..
FzD, Almada 30.03.2019: M. Nogueira foi eleito pelos professores? Quais
professores? Quem mais concorreu a essa eleição? Quem foram os derrotados?
Houve abstenções? Quantas? E, já agora, Arménio Carlos foi eleito pelos
trabalhadores portugueses para dirigir a CGTP? Quantos trabalhadores votaram?
Quantos o elegeram?...
Mário Orlando Moura Pinto, Setúbal30.03.2019:
Meu caro FzD, não se faça de anjinho.
Mário Nogueira foi eleito, tal como António Costa ou Cavaco Silva. Se houve ou
não concorrentes; se houve ou não abstenções, isso faz parte da democracia. Com
que % foi eleito Cavaco Silva no 2º mandato? Esse facto diminui-lhe a sua
capacidade política como PR? E Arménio Carlos, que tem ele que ver com o
assunto? Faltam-lhe argumentos? Azar o seu.
JDF, Portugal 31.03.2019: Mário nogueira não foi eleito primeiro ministro! A
ideia era essa...para o que berra, já caiu no ridículo. Mas pronto, o costinha
é o espectáculo da governação portuguesa, aos olhos de muitos, por isso acho
que é de aplaudir e os profs que guardem a viola no saco: bem vindos ao mundo
das condições de trabalho do sector privado!!!
bento guerra, 30.03.2019 10:27: Esta choldra não passa disto. Mude de rumo
Sima Qian, China 30.03.2019: Infelizmente poucas pessoas deste "forum"
saberão quem foi a grande Palmira Bastos.
José Manuel Martins, évora 30.03.2019 : um dos tropeços capitais das estratégias
argumentativas de vpv é - inevitável num pessimista meramente hepático, e não
cortical - a anulação recíproca de duas invectivas ou maledicências. Um
exemplo-tipo: depois de arrastar costa pela lama da mais crassa insignificância
(e quem é que vpv não arrasta?), o estratagema para rebaixar nogueira é
compará-lo a um costa e a um cargo subitamente revalorizados, e acatando
perfeitamente o jogo verbal das dignidades institucionalistas. Há quem jogue
xadrez contra si mesmo, vpv joga cansativamente ping-pong consigo mesmo. Outro
caso de 'antiterra', de anti-vasco, é o ingenuismo que inverte a fórmula
habitual: é precisamente em ano de eleições que os governos esbanjam
irresponsavelmente, comprando vitórias a peso de ouro e anos de chumbo. Onde se
meteu o grande mestre cínico, que parece um cura assustadiço cheio de
venerações, sensatez, moderação, centralíssima equidistância, mesura, tacto –
qualquer coisa como um gelatinoso esparrinhamento de trivialidade sem glória,
ele que já foi trinta esganiçadas reaccionárias de uma só vez? VPV afunda-se
numa vulgaridade que começa a tornar-se medíocre. Já nem as farpadas brutas sem
porquê (ao menos elas), uma das suas especialidades, lhe saem, capitulando numa
frouxidão que parece começar e acabar nas glândulas. Inglória vaidade e
teimosia, que não se apercebe do astro declinante…
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