segunda-feira, 1 de abril de 2019

Azedume



José Manuel Martins, de Évora, faz um retrato perfeito de um VPV que parece ter perdido a garra anterior, neste saltitar diarístico de tema em tema, modo incompleto, por vezes de mera trica sem dimensão, de exprimir as suas opiniões, sequer contraditórias, conforme o estado de espírito do dia, de maior ou menor azedume, que as ditou. É o caso das opiniões sobre o governo – nos dias 23 e 24 (sublinhados). Em todo o caso, gostamos sempre de o ler, sério ou mordaz, oxalá continue, saecula saeculorum. Amen.
OPINIÃO
Diário
Vasco Pulido Valente escreve que "os professores começam a irritar as pessoas".
30 de Março de 2019
23 de Março
Os professores na rua, com a mesma intransigência e a mesma arrogância. Um dia destes, alguém terá de lembrar a Mário Nogueira que ele não foi eleito primeiro-ministro, e que o primeiro-ministro é António Costa.
A tentativa de submeter o poder político ao poder sindical falhou sempre na Europa civilizada. Assisti, em Inglaterra, entre 1970 e 1975, a parte dessa guerra, que acabou, como se sabe, na derrota dos mineiros e no triunfo de Margaret Thatcher.
O governo é que decide como e quando se gastam os dinheiros do Estado, não é nenhum sindicato profissional, por muito que julgue ter a justiça do seu lado. E não há governo que possa contrair cegamente encargos para o futuro, sobretudo em ano de eleições. Os professores fariam bem em se guardar para 2020. Começam a irritar as pessoas.
24 de Março
O procurador Mueller entregou o seu relatório. Trump e o seu pessoal são absolvidos de qualquer cumplicidade com a Rússia na tentativa de influenciar o resultado das eleições presidenciais de 2016. E, na prática, também da suspeita de terem querido conscientemente obstruir a justiça.
Isto foi, como se calculará, uma enorme derrota para o Partido Democrático, para a CNN, para a NBC e para a tropa fandanga do “politicamente correcto”. Como reagiram eles? Com uma desesperada exploração de todas as lacunas e com uma atenção perversa a todos os pormenores, até aos mais insignificantes. A CNN mostrou fanático atrás de fanático a vociferar com a mesma raiva as mesmas baboseiras. Gostei do espectáculo.
25 de Março
Toda a gente anda por aí a falar das “famílias” do governo. É verdade que eles não conhecem mais ninguém. E, pior ainda, nunca quiseram conhecer mais ninguém. Só que não podemos olhar isto com complacência. Nunca houve em Portugal, nem no século XIII, um governo destes. E também nunca houve um governo destes na Europa moderna. As desculpas de António Costa não valem: a originalidade lusitana não é um consórcio de parentes e amigos.
Só entrei num governo. Mas, nesse governo, não passaria pela cabeça de ninguém encher o Estado com as pessoas com que o PS o encheu. Existia, nessa altura, o que se pode chamar decência comum: “se a minha mulher está no governo, não devo estar eu”; “se a minha filha está no governo, não devo estar eu”. Nada mais simples.
26 de Março
Para que é que serve o défice zero? Os comentadores hesitam. No fundo, não há aqui nada de complicado. Não se trata de professores, de enfermeiros, de funcionários, ou de investimento. Todos nós podemos fantasiar sobre a distribuição de um imaginário monte de dinheiro. Mas chegará sempre o dia em que temos de provar alguma honestidade.
A dívida absoluta aumentou. O futuro é duvidoso. O interesse de Portugal é aparecer como um Estado bom pagador. É para isso que serve o défice zero: para aumentar e solidificar o nosso crédito. Não queremos com certeza, se as coisas correrem mal, andar outra vez com o chapéu na mão a mendigar a caridade de Bruxelas.
27 de Março
Dia do Teatro. Espero que seja prestada a Palmira Bastos e à sra. D. Amélia Rey Colaço a homenagem que merecem. A sua versão de como deve ser o português falado continua viva no teatro, no cinema e, principalmente, na telenovela.
28 de Março
Vítor Constâncio na Assembleia da República. Se julgavam que o homem ia ser caça fácil, enganaram-se. Como todos os outros, ele teve sempre à mão um artigo da lei que o ilibava ou o mandava ficar calado. Contra esta espécie de teólogos (Carlos Costa é outro) os senhores deputados fazem figura de ingénuos. Hão-de cair as muralhas de Constantinopla e Mariana Mortágua continuará a discutir o sexo dos anjos.
COMENTÁRIOS:
Hugo Miguel Martins Barao, Évora 31.03.2019 : Não sr Vasco nem todos estão fartos dos professores. Eu não estou e era só o que faltava. Tudo o resto do diário é preguiça presunçosa. No way.
JDF Portugal 31.03.2019: Lol...que diga que é mais uma constatação da realidade, muito bem...agora preguiça? Oh...
Sandra, Lisboa 31.03.2019: Uma é a Palmira. A outra é a Sra D. Amélia. Ou bem que eram a Palmira e a Amélia ou eram as duas sras donas. Olha qu`isto!
Mário Orlando Moura Pinto, Setúbal30.03.2019: Haja alguém que recorde a este Sr. Vasco que Mário Nogueira foi eleito - não foi nomeado! - pelos professores para que defenda os seus interesses e não os do governo. No dia em que os professores se sentirem mal representados escolherão outra pessoa. Isto é Democracia, por muito que custe a este azedo Sr..
FzD, Almada 30.03.2019: M. Nogueira foi eleito pelos professores? Quais professores? Quem mais concorreu a essa eleição? Quem foram os derrotados? Houve abstenções? Quantas? E, já agora, Arménio Carlos foi eleito pelos trabalhadores portugueses para dirigir a CGTP? Quantos trabalhadores votaram? Quantos o elegeram?...
Mário Orlando Moura Pinto, Setúbal30.03.2019: Meu caro FzD, não se faça de anjinho. Mário Nogueira foi eleito, tal como António Costa ou Cavaco Silva. Se houve ou não concorrentes; se houve ou não abstenções, isso faz parte da democracia. Com que % foi eleito Cavaco Silva no 2º mandato? Esse facto diminui-lhe a sua capacidade política como PR? E Arménio Carlos, que tem ele que ver com o assunto? Faltam-lhe argumentos? Azar o seu.
JDF, Portugal 31.03.2019: Mário nogueira não foi eleito primeiro ministro! A ideia era essa...para o que berra, já caiu no ridículo. Mas pronto, o costinha é o espectáculo da governação portuguesa, aos olhos de muitos, por isso acho que é de aplaudir e os profs que guardem a viola no saco: bem vindos ao mundo das condições de trabalho do sector privado!!!
bento guerra, 30.03.2019 10:27: Esta choldra não passa disto. Mude de rumo
Sima Qian,  China 30.03.2019: Infelizmente poucas pessoas deste "forum" saberão quem foi a grande Palmira Bastos.
José Manuel Martins, évora 30.03.2019 : um dos tropeços capitais das estratégias argumentativas de vpv é - inevitável num pessimista meramente hepático, e não cortical - a anulação recíproca de duas invectivas ou maledicências. Um exemplo-tipo: depois de arrastar costa pela lama da mais crassa insignificância (e quem é que vpv não arrasta?), o estratagema para rebaixar nogueira é compará-lo a um costa e a um cargo subitamente revalorizados, e acatando perfeitamente o jogo verbal das dignidades institucionalistas. Há quem jogue xadrez contra si mesmo, vpv joga cansativamente ping-pong consigo mesmo. Outro caso de 'antiterra', de anti-vasco, é o ingenuismo que inverte a fórmula habitual: é precisamente em ano de eleições que os governos esbanjam irresponsavelmente, comprando vitórias a peso de ouro e anos de chumbo. Onde se meteu o grande mestre cínico, que parece um cura assustadiço cheio de venerações, sensatez, moderação, centralíssima equidistância, mesura, tacto – qualquer coisa como um gelatinoso esparrinhamento de trivialidade sem glória, ele que já foi trinta esganiçadas reaccionárias de uma só vez? VPV afunda-se numa vulgaridade que começa a tornar-se medíocre. Já nem as farpadas brutas sem porquê (ao menos elas), uma das suas especialidades, lhe saem, capitulando numa frouxidão que parece começar e acabar nas glândulas. Inglória vaidade e teimosia, que não se apercebe do astro declinante…

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