sexta-feira, 26 de abril de 2019

Era de esperar



A gravidade do que acontece em escolas portuguesas ao nível do comportamento discente é assunto da crónica de Helena Matos que atribui a razão disso às forças hipócritas e corrosivas de esquerda, mais preocupadas em difundir a sua imagem de companheirismo e defesa dos aparentemente desprotegidos sociais, atribuindo às outras forças – de mais bom senso – propósitos segregacionistas condenáveis, inspiradores de ódios e violências, aos quais ninguém já pode pôr cobro, instalado o medo das represálias, tanto da parte dos pais dos alunos como da parte dos serviços de educação que há muito desautorizaram os professores, fazendo finca-pé na indisciplina e na deseducação. Julgo que sim, que Helena Matos fez uma excelente crónica que logo lhe mereceu ataques raivosos de parte dos comentadores sensíveis de esquerda.
Mas penso que os sucessivos governos têm contribuído para a perda gradual de compostura neste Portugal esfrangalhado, em que a cobardia e o medo se instalaram por conta dos igualitarismos e liberdades sem freio desde o 25 de Abril, ontem festejado no seu 45º aniversário saudosista e nitidamente feliz, pelos êxitos democráticos conseguidos, mas, nitidamente, instituídos hoje, como diz Helena Matos, com o fervor irracional dos tempos primeiros, graças às forças de esquerda que vigoram, sedentas de domínio. Outra grande mulher aqui é citada – Maria José Nogueira Pinto – por um comentador saudosista que lhe colocou uma crónica igualmente séria e preocupada, como o são as de Helena Matos e de todos aqueles a quem resta ainda um pouco de respeito por si próprios e pelo país de que fazem parte.
Movimento Dividir Portugal /premium
OBSERVADOR, 7/4/2019
Portugal arrisca ser esfrangalhado por esta gente que trocou a luta de classes pela compra dos votos e que vê na fragmentação do país e na tribalização dos cidadãos uma fonte inesgotável de poder
Regra nº 1. Os problemas reais não existem.
Numa escola do Porto, um miúdo de 12 anos atirou uma bola para dentro da sala de aula e partiu uma lâmpada. Todos nós ou muitos de nós quando andámos na escola vimos partir lâmpadas com bolas ou partimo-las nós mesmos. Mas nunca vimos uma sucessão de factos como os registados há dias nesta escola do Porto: partida a lâmpada, o professor pediu a uma funcionária para varrer os pedaços de vidro. A aula prosseguiu e o rapaz de 12 anos não só ligou ao pai como voltou a brincar com a bola. O professor retirou-lha. Saltando por cima das mesas, o aluno “tentou chegar à bola” Como não conseguiu, empurrou o professor. Em seguida dá-lhe murros e pontapés. Levado à direcção de turma o dito aluno, quando a oportunidade lho permite, “desferiu um forte pontapé” nos testículos do mesmo professor, que caiu no chão. Mas a coisa ainda não acabara: terminada a aula ainda deu um murro na testa do professor. Ao passar por um funcionários disse: “Já lhe parti o focinho”.
Resumindo, temos o professor a pedir “a uma funcionária para varrer os pedaços de vidros” pois é óbvio que já não tinha autoridade para mandar o menino varrer ele mesmo. Em seguida a criancinha com um sentimento de absoluta impunidade ora usa o telemóvel ora salta por cima das mesas. Depois agride o professor em trẽs momentos diferentes, três, e acaba a declarar a um funcionário que, claro, também não se deve ter afoitado a chamar-lhe a atenção, “Já lhe parti o focinho”. Do pai não há notícias.
O que agora aconteceu na Escola  Francisco Torrinha é apenas um caso que pela sua gravidade conseguiu quebrar o manto de silêncio que actualmente impera sobre as escolas. Estas voltaram aos bons velhos tempos em que tudo nelas se reduz à questão da carreira dos professores e dos auxiliares. Do resto, ou seja dos alunos, dos conteúdos, da disciplina, do ser professor, só se fala quando de todo em todo uma situação chocante quebra o manto de silêncio. Foi assim com a constatação de que a disciplina de Educação para a Cidadania se transformou num franchising lectivo para activistas das mais desvairadas causas agora transformada em doutrina incontestada. Foi assim também há algumas semanas com a agressão a uma professora da Escola Básica da Torrinha por parte de uma mãe e foi agora novamente nesta escola do Porto, aqui com um aluno de 12 a espancar um professor de 63 em três momentos diferentes. Ou, se quisermos observar os factos doutra perspectiva, com um professor de 63 anos a deixar-se agredir em três momentos diferentes por um aluno de 12 anos.
O ministro da Educação o que disse? E aquela irmã Mortágua de discurso mais ou menos ininteligível que, ironia das ironias, trata das questões do ensino já se pronunciou? E Mário Nogueira, essa caricatura da luta, por onde anda? O PR não vai a esta escola? Vamos ficar pela conversa de “o caso está entregue ao Ministério Público”, sim porque agora, com os professores e funcionários devidamente desautorizados,  a indisciplina nas escolas tornou-se um caso de polícias e tribunais? Como é isto possível? É possível porque a realidade não só não interessa como abordá-la leva a que se corra o risco de se ser acusado de um ismo qualquer. O acontecido nesta escola só interessaria caso se integrasse na perspectiva do ressentimento que está a levar Portugal de Estado-Nação a um território habitado por uma população tribalizada em brancos, negros, afrodescendentes, asiáticos, ciganos, de origem europeia…
Regra nº 2: Dividir para melhor controlar.
Com a regularidade de um pêndulo ecoam no nosso quotidiano os sinais desta transformação dos cidadãos em membros de grupúsculos tribais. A promover essa mudança estão, por exemplo, conselhos como os do grupo de trabalho nomeado pelo Governo,  defendendo que os Censos incluam dados étnico-raciais dos cidadãos. Para quê?
Sim para quê esta tónica nos dados étnico-raciais? Ou como entender que ao mesmo tempo que o sexo com que nascemos é tratado como uma irrelevância biológica (de tal forma irrelevante que os novos cartões de cidadão em alguns países já não o vão incluir), o facto de se ter tido uma tetravó negra faz de nós afrodescendentes e  liga-nos irremediavelmente ao continente africano, mesmo que nem nós nem a nossa trisavó alguma vez lá tenhamos estado?
A recolha de dados étnico-raciais revelou-se uma armadilha: se os dados não favorecem a imagem dos grupos apadrinhados pelos militantes das causas ditas progressistas então não devem ser referidos sob pena de acusação de racismo. Esta espécie de nova ormetá leva a que, por exemplo, se subestimem quando não omitam os ataques com facas em Inglaterra (só nos comboios eles mais que triplicaram entre 2015 e 2018) e que simultaneamente os controlos policiais tenham diminuído pois as autoridades não queriam ser acusadas de discriminação racial. Ou que se procure não divulgar o nome de agressores sexuais ou até mesmo as agressões caso os autores dessas violências não correspondam ao criminoso de que se pode falar a saber homem, branco e cristão. E assim pode acontecer que num mesmo país, a Espanha, os abusos sexuais/violações praticados por grupos de rapazes ora sejam motivo de forte indignação (caso de La Manada de Pamplona) ora silenciadas (caso de La Manada de Azuqueca)  consoante a identidade/nacionalidade dos rapazes em questão.
Como invariavelmente acontece quando o governo é de esquerda os mecanismos de controlo desaparecem e a inconstitucionalidade esfuma-se: a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) já terá mostrado disponibilidade para autorizar a recolha de dados étnico-raciais nos próximos censos.
Esta racialização da sociedade portuguesa acrescentará o poder e os meios dos gestores do ressentimento e das verbas  do que pomposamente se designam como políticas públicas de apoio à inclusão e que não passam de criadoras de ghettos. À excepção dessas nefastas criaturas acabaremos todos mais pobres e divididos. Como a eles lhes convém.
Regra nº 3: Fragmentar para ganhar poder
Os tempos em que se apresentavam projectos para o país e para os portugueses já lá vai. Agora trabalha-se para a facção e sobretudo no cultivar do ressentimento entre essas facções. Vale tudo. Rui Moreira até nos propõe uma espécie de regresso ao tempos das taifas, esses minúsculos territórios, capitaneados cada um deles pelo seu chefe, que noutras eras pulularam na Península Ibérica: afinal o que é senão o regresso às taifas a proposta de Rui Moreira para que  se num futuro referendo “a regionalização vencesse numa das regiões propostas, avançasse aí mesmo que nas restantes ganhasse o ‘não’”?  Tudo somado traduz-se mais ou menos em transformar Portugal num puzzle impossível e os portugueses em “Branco, membro da Região do Porto, integrante de um dos subgrupos da comunidade LGBTB+” ou “Afrodescendente, da não região de Braga, com identidade de género masculina”…
Dividir para mandar é a estratégia. Uns querem mandar na sua taifa. Outros controlar as pessoas. Uns e outros são do pior que já nos aconteceu.

COMENTÁRIOS:
Liberal Impenitente: Encontrei num blogue (abençoado blogue). Aí vai:
«DOMINGO, 22 DE MAIO DE 2011
UM PAÍS QUE MAL CONHEÇO por MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTO
Entre os muitos sentimentos que me assaltaram estes últimos tempos, para além da vergonha, está a redescoberta amarga de um outro Portugal, confuso, asténico, dividido, feito de um composto de gerações, todas à rasca, sem rumo ou sentido. A última sondagem é disso exemplo, pois indica que para um número considerável de portugueses eleitores ser governado por José Sócrates é algo justo, racional e salutar. Um Tartufo que em seis anos levou o País à bancarrota e a níveis insustentáveis de dependência, que comprometeu as novas gerações e alienou o nosso futuro comum é visto não como uma possibilidade mas como uma probabilidade desejável. Porquê? Não sei. Estes 78 mil milhões de euros que negociámos by the book e segundo a troika são a factura da vaidade de um único homem, Sócrates, e basta lembrar a burlesca contradança a que ele se dedicou nas últimas semanas para se perceber o ponto a que chegou a usura sobre este pobre e cansado País. A apresentação de um ridículo e inútil programa de Governo, atropelando as negociações, para ficar com a primeira palavra, sabendo nós que qualquer programa de Governo terá como matriz o pacote de FMI e que o verdadeiro programa de Governo de Sócrates foi o PEC IV de triste memória; a pressa com que saltou, qual boneco de uma caixa de cartão, para nos vir dizer o que o pacote não tinha (?); uma esponja passada à pressa sobre o que dissera acerca do FMI, esse monstro disposto a comer criancinhas ao pequeno-almoço, sendo ele, Sócrates, a nossa única defesa contra quem nos vinha roubar salários, subsídios de férias, desmantelar a função pública, deitar no caixote do lixo as leis laborais; a indisfarçável alegria com que veio logo apresentar o pacote como se fosse ele, e mais ninguém, o seu negociador, ele que irresponsavelmente o protelou, acarretando com isso mais e mais prejuízos para todos nós. Vejo como muito difícil que estas eleições, só por si, possam criar um quadro renovado e clarificador onde assente, com proveito, o esforço de vencer a crise. Duvido mesmo que a maioria dos portugueses, metralhados por um constante caudal de notícias, se tenha apercebido do que se joga, para todos nós, daqui para a frente, mas sei que a permanência de Sócrates, central neste cenário, é o suficiente para inviabilizar qualquer tentativa. E também sei que as sondagens reflectem estes mesmos receios, a ideia que é preciso juntar forças políticas suficientes para criar a base de sustentação necessária, só que isso não é possível juntando tudo e todos, polícias e ladrões. Tão mais verdade quanto nos confrontamos com todos os sinais de pré-ruptura de regime, tudo muito além do económico e do financeiro. A necessidade de travar o grande desgaste desta Terceira República que em pouco mais de três décadas assistiu, a par de três visitas do FMI e do descontrolo das contas públicas, à degradação das instituições democráticas, à degradação da política e dos seus agentes numa democracia incapaz de se vigiar a ela própria, ao enfraquecimento do poder de representação e de convocatória das forças políticas, ao alheamento e reduzida participação de uma sociedade desmobilizada. A crise visível vai certamente ser ultrapassada, pois o FMI não impôs apenas as condições do empréstimo como vai ficar por cá a monitorizar a sua execução, passando-nos um outro e mais pesado atestado de menoridade cívica e política como compete a um país que se habituou a viver em estado de incumprimento. Eles nos obrigarão a fazer o que não fizemos a tempo e horas - já agora, como é possível apresentar uma Justiça neste estado a uma entidade estrangeira e não ter muita vergonha? Mas as crises invisíveis ficarão por nossa conta: crise de valores, crise cultural e de identidade, crise de coesão nacional, crise de vontade e de autodeterminação. E temos de as resolver a todas. Só uma não basta.»

Carminda Damiao: Excelente artigo. É preciso não ter medo de dizer as verdades. Obrigada, Helena Matos.

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