A gravidade do que acontece em escolas
portuguesas ao nível do comportamento discente é assunto da crónica de Helena Matos
que atribui a razão disso às forças hipócritas e
corrosivas de esquerda, mais preocupadas em difundir a sua imagem de
companheirismo e defesa dos aparentemente desprotegidos sociais, atribuindo às
outras forças – de mais bom senso – propósitos segregacionistas condenáveis,
inspiradores de ódios e violências, aos quais ninguém já pode pôr cobro,
instalado o medo das represálias, tanto da parte dos pais dos alunos como da
parte dos serviços de educação que há muito desautorizaram os professores,
fazendo finca-pé na indisciplina e na deseducação. Julgo que sim, que Helena Matos fez uma excelente crónica que logo lhe
mereceu ataques raivosos de parte dos comentadores sensíveis de esquerda.
Mas penso que os sucessivos governos têm
contribuído para a perda gradual de compostura neste Portugal esfrangalhado, em
que a cobardia e o medo se instalaram por conta dos igualitarismos e liberdades
sem freio desde o 25 de Abril, ontem festejado no seu 45º aniversário
saudosista e nitidamente feliz, pelos êxitos democráticos conseguidos, mas,
nitidamente, instituídos hoje, como diz Helena Matos, com o fervor irracional dos tempos primeiros, graças
às forças de esquerda que vigoram, sedentas de domínio. Outra grande mulher
aqui é citada – Maria José
Nogueira Pinto – por um comentador saudosista que lhe colocou uma
crónica igualmente séria e preocupada, como o são as de Helena Matos e de todos
aqueles a quem resta ainda um pouco de respeito por si próprios e pelo país de
que fazem parte.
Movimento
Dividir Portugal /premium
OBSERVADOR, 7/4/2019
Portugal
arrisca ser esfrangalhado por esta gente que trocou a luta de classes pela
compra dos votos e que vê na fragmentação do país e na tribalização dos
cidadãos uma fonte inesgotável de poder
Regra nº 1. Os problemas reais não
existem.
Numa
escola do Porto, um miúdo de 12 anos atirou uma bola para dentro da sala de
aula e partiu uma lâmpada. Todos nós ou muitos de nós quando andámos na escola
vimos partir lâmpadas com bolas ou partimo-las nós mesmos. Mas nunca
vimos uma sucessão de factos como os registados há dias nesta escola do Porto:
partida a lâmpada, o professor pediu a uma funcionária para varrer os pedaços
de vidro. A aula prosseguiu e o rapaz de 12 anos não só ligou ao pai como
voltou a brincar com a bola. O professor retirou-lha. Saltando por cima das
mesas, o aluno “tentou chegar à bola” Como não conseguiu, empurrou o professor.
Em seguida dá-lhe murros e pontapés. Levado à direcção de turma o dito aluno,
quando a oportunidade lho permite, “desferiu um forte pontapé” nos testículos
do mesmo professor, que caiu no chão. Mas a coisa ainda não acabara: terminada
a aula ainda deu um murro na testa do professor. Ao passar por um funcionários
disse: “Já lhe parti o focinho”.
Resumindo, temos o professor a pedir
“a uma funcionária para varrer os pedaços de vidros” pois é óbvio que já não
tinha autoridade para mandar o menino varrer ele mesmo. Em seguida a criancinha
com um sentimento de absoluta impunidade ora usa o telemóvel ora salta por cima
das mesas. Depois agride o professor em trẽs momentos diferentes, três, e acaba
a declarar a um funcionário que, claro, também não se deve ter afoitado a
chamar-lhe a atenção, “Já lhe parti o focinho”. Do pai não há notícias.
O
que agora aconteceu na Escola Francisco Torrinha é apenas um caso que pela sua gravidade conseguiu
quebrar o manto de silêncio que actualmente impera sobre as escolas. Estas
voltaram aos bons velhos tempos em que tudo nelas se reduz à questão da
carreira dos professores e dos auxiliares. Do resto, ou seja dos alunos, dos
conteúdos, da disciplina, do ser professor, só se fala quando de todo em todo
uma situação chocante quebra o manto de silêncio. Foi assim com a constatação
de que a disciplina de Educação para a Cidadania se transformou num franchising
lectivo para activistas das mais desvairadas causas agora transformada em doutrina
incontestada. Foi assim também há algumas semanas com a agressão a uma
professora da Escola Básica da Torrinha por parte de uma mãe e foi
agora novamente nesta escola do Porto, aqui com um aluno de 12 a espancar um
professor de 63 em três momentos diferentes. Ou, se quisermos observar os
factos doutra perspectiva, com um professor de 63 anos a deixar-se agredir
em três momentos diferentes por um aluno de 12 anos.
O ministro da Educação o que disse? E
aquela irmã Mortágua de discurso mais ou menos ininteligível que, ironia das
ironias, trata das questões do ensino já se pronunciou? E Mário Nogueira, essa
caricatura da luta, por onde anda? O PR não vai a esta escola? Vamos ficar pela
conversa de “o caso está entregue ao Ministério Público”, sim porque agora, com
os professores e funcionários devidamente desautorizados, a indisciplina
nas escolas tornou-se um caso de polícias e tribunais? Como é isto possível? É
possível porque a realidade não só não interessa como abordá-la leva a que se
corra o risco de se ser acusado de um ismo qualquer. O acontecido nesta escola
só interessaria caso se integrasse na perspectiva do ressentimento que está a levar
Portugal de Estado-Nação a um território habitado por uma população tribalizada
em brancos, negros, afrodescendentes, asiáticos, ciganos, de origem europeia…
Regra nº 2: Dividir para melhor
controlar.
Com
a regularidade de um pêndulo ecoam no nosso quotidiano os sinais desta
transformação dos cidadãos em membros de grupúsculos tribais. A
promover essa mudança estão, por exemplo, conselhos como os do grupo de trabalho nomeado
pelo Governo, defendendo que os Censos
incluam dados étnico-raciais dos cidadãos. Para quê?
Sim
para quê esta tónica nos dados étnico-raciais? Ou como entender que ao mesmo tempo que o sexo com
que nascemos é tratado como uma irrelevância biológica (de tal forma
irrelevante que os novos cartões de cidadão em alguns países já não o vão
incluir), o facto de se ter tido uma tetravó negra faz de nós
afrodescendentes e liga-nos irremediavelmente ao continente africano,
mesmo que nem nós nem a nossa trisavó alguma vez lá tenhamos estado?
A recolha de dados étnico-raciais
revelou-se uma armadilha: se os dados não favorecem a imagem dos grupos
apadrinhados pelos militantes das causas ditas progressistas então não devem
ser referidos sob pena de acusação de racismo. Esta espécie de nova ormetá leva a que, por exemplo,
se subestimem quando não omitam os ataques com facas em Inglaterra (só nos
comboios eles mais que triplicaram entre 2015 e 2018) e que simultaneamente os controlos policiais tenham
diminuído pois as autoridades não queriam ser acusadas de discriminação racial.
Ou que se procure não divulgar o nome de agressores sexuais ou até mesmo
as agressões caso os autores dessas violências não correspondam ao criminoso de
que se pode falar a saber homem, branco e cristão. E assim pode acontecer que num mesmo país, a Espanha, os abusos
sexuais/violações praticados por grupos de rapazes ora sejam motivo de forte
indignação (caso de La Manada de Pamplona)
ora silenciadas (caso de La Manada de Azuqueca)
consoante a identidade/nacionalidade dos rapazes em questão.
Como invariavelmente acontece quando
o governo é de esquerda os mecanismos de controlo desaparecem e a
inconstitucionalidade esfuma-se: a Comissão Nacional de Protecção de Dados
(CNPD) já terá mostrado disponibilidade para autorizar a recolha de dados
étnico-raciais nos próximos censos.
Esta
racialização da sociedade portuguesa acrescentará o poder e os meios dos
gestores do ressentimento e das verbas do que pomposamente se designam
como políticas públicas de apoio à inclusão e que não passam de criadoras de
ghettos. À excepção dessas nefastas criaturas acabaremos todos mais pobres e
divididos. Como a eles lhes convém.
Regra nº 3: Fragmentar para ganhar
poder
Os
tempos em que se apresentavam projectos para o país e para os portugueses já lá
vai. Agora trabalha-se para a facção e sobretudo no cultivar do ressentimento
entre essas facções. Vale tudo. Rui Moreira até nos propõe uma espécie de
regresso ao tempos das taifas, esses minúsculos territórios, capitaneados cada
um deles pelo seu chefe, que noutras eras pulularam na Península Ibérica: afinal o que é senão o regresso às taifas a proposta
de Rui Moreira para que se num futuro referendo “a regionalização
vencesse numa das regiões propostas, avançasse aí mesmo que nas restantes
ganhasse o ‘não’”? Tudo somado traduz-se mais ou menos em transformar Portugal
num puzzle impossível e os portugueses em “Branco, membro da Região do
Porto, integrante de um dos subgrupos da comunidade LGBTB+” ou
“Afrodescendente, da não região de Braga, com identidade de género masculina”…
Dividir
para mandar é a estratégia. Uns querem mandar na sua taifa. Outros controlar as
pessoas. Uns e outros são do pior que já nos aconteceu.
COMENTÁRIOS:
Liberal
Impenitente: Encontrei num
blogue (abençoado blogue). Aí vai:
«DOMINGO, 22 DE
MAIO DE 2011
UM PAÍS QUE MAL
CONHEÇO por MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTO
Entre
os muitos sentimentos que me assaltaram estes últimos tempos, para além da
vergonha, está a redescoberta amarga de um outro Portugal, confuso,
asténico, dividido, feito de um composto de gerações, todas à rasca, sem rumo
ou sentido. A última sondagem é disso exemplo, pois indica que para um
número considerável de portugueses eleitores ser governado por José
Sócrates é algo justo, racional e salutar. Um Tartufo que em seis
anos levou o País à bancarrota e a níveis insustentáveis de dependência, que
comprometeu as novas gerações e alienou o nosso futuro comum é visto não
como uma possibilidade mas como uma probabilidade desejável. Porquê? Não
sei. Estes 78 mil milhões de euros que negociámos by
the book e segundo a troika são a factura da vaidade de um único homem,
Sócrates, e basta lembrar a burlesca contradança a que ele se dedicou nas
últimas semanas para se perceber o ponto a que chegou a usura sobre este pobre
e cansado País. A apresentação
de um ridículo e inútil programa de Governo, atropelando as negociações, para
ficar com a primeira palavra, sabendo nós que qualquer programa de Governo terá
como matriz o pacote de FMI e que o verdadeiro programa de Governo de Sócrates
foi o PEC IV de triste memória; a pressa com que saltou, qual boneco de uma
caixa de cartão, para nos vir dizer o que o pacote não tinha (?); uma
esponja passada à pressa sobre o que dissera acerca do FMI, esse monstro
disposto a comer criancinhas ao pequeno-almoço, sendo ele, Sócrates, a nossa
única defesa contra quem nos vinha roubar salários, subsídios de férias,
desmantelar a função pública, deitar no caixote do lixo as leis laborais;
a indisfarçável alegria com que veio logo apresentar o pacote como se fosse
ele, e mais ninguém, o seu negociador, ele que irresponsavelmente o protelou,
acarretando com isso mais e mais prejuízos para todos nós. Vejo como muito
difícil que estas eleições, só por si, possam criar um quadro renovado e
clarificador onde assente, com proveito, o esforço de vencer a crise. Duvido
mesmo que a maioria dos portugueses, metralhados por um constante caudal de
notícias, se tenha apercebido do que se joga, para todos nós, daqui para a
frente, mas sei que a permanência de Sócrates, central neste cenário, é o
suficiente para inviabilizar qualquer tentativa. E também sei que as
sondagens reflectem estes mesmos receios, a ideia que é preciso juntar forças
políticas suficientes para criar a base de sustentação necessária, só que isso
não é possível juntando tudo e todos, polícias e ladrões. Tão mais verdade
quanto nos confrontamos com todos os sinais de pré-ruptura de regime, tudo
muito além do económico e do financeiro. A necessidade de travar o grande
desgaste desta Terceira República que em pouco mais de três décadas assistiu, a
par de três visitas do FMI e do descontrolo das contas públicas, à degradação
das instituições democráticas, à degradação da política e dos seus agentes numa
democracia incapaz de se vigiar a ela própria, ao enfraquecimento do poder de
representação e de convocatória das forças políticas, ao alheamento e reduzida
participação de uma sociedade desmobilizada. A crise visível vai certamente ser
ultrapassada, pois o FMI não impôs apenas as condições do empréstimo como vai
ficar por cá a monitorizar a sua execução, passando-nos um outro e mais
pesado atestado de menoridade cívica e política como compete a
um país que se habituou a viver em estado de incumprimento. Eles nos
obrigarão a fazer o que não fizemos a tempo e horas - já agora, como é
possível apresentar uma Justiça neste estado a uma entidade estrangeira e não
ter muita vergonha? Mas as crises invisíveis ficarão por nossa conta: crise de
valores, crise cultural e de identidade, crise de coesão nacional, crise de
vontade e de autodeterminação. E temos de as resolver a todas. Só uma não
basta.»
Carminda Damiao: Excelente artigo. É preciso não ter medo de dizer as verdades. Obrigada,
Helena Matos.
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