segunda-feira, 15 de abril de 2019

A palavra a quem de direito



São 118 os comentários que a crónica de Rui Ramos inspirou. Muitos em diálogo, na seriedade de quem parece preocupar-se, e o caso é para isso, da mentira da pose governativa, tal como o da poluição dos rios e da permissividade à indisciplina geral, do parasitismo, do gozo dos incêndios… A maioria dos comentadores revela ponderação e preocupação. A esquerda deselegante e apoiante do sistema, naturalmente descamba, em grosserias directas de baixo nível, como de costume. Não as coloquei. Mas a preocupação fica.
AUSTERIDADE:  Nunca tão poucos enganaram tantos /premium
RUI RAMOS        OBSERVADOR, 12/4/2019
Em 2016, disseram-nos que a austeridade era uma página, e que estava virada. A austeridade, porém, não é uma página. É um livro inteiro, de que já ninguém lembra o princípio e ninguém sabe o fim.
Mário Centeno confessou-se ao Financial Times: afinal, a austeridade não acabou em Portugal. Entre o governo de Passos Coelho e o de António Costa, teria havido mudanças, mas não grandes mudanças. Bem, precisávamos da sinceridade ou do descuido de Centeno para descobrir isto? Não, bastava-nos olhar para as estatísticas: o esforço fiscal – um dos mais pesados da Europa, quando se tem em conta o nível de riqueza do país – não abrandou com Centeno, tal como não começou com Vítor Gaspar.
É que o governo de António Costa não nos enganou apenas sobre o fim da austeridade; enganou-nos também sobre o seu princípio, que não foi em Junho de 2011, quando o governo de Passos Coelho tomou posse, mas nos quatro PEC que José Sócrates apresentou a partir de Março de 2010ou, se quiserem ir mais longe, na pressão fiscal que nunca parou de se agravar desde os anos 90, logo que o Estado deixou de poder contar com o crescimento da economia para se financiar.
Em 2016, disseram-nos que a austeridade era uma página, e que estava virada. A austeridade, porém, não é uma página. A austeridade é um livro inteiro, um livro enorme, de que já ninguém lembra o princípio e de que ninguém ainda adivinhou o fim. A austeridade não é uma dificuldade momentânea, que possa ser ultrapassada numa conjuntura favorável. Vimos isso agora, quando o contexto internacional não podia ser mais propício.
À primeira vista, a austeridade aparece sob a forma dos défices baixos negociados com Bruxelas. São a condição de acesso ao dinheiro barato do BCE, sem o qual a bancarrota seria mais ou menos instantânea. Assim são justificados a “contenção” e o “rigor”. Mas “contenção” e “rigor” são também necessários porque é preciso compensar a despesa com que a oligarquia política  mantém os dependentes do Estado que transformou em clientelas eleitorais. É por a oligarquia não querer renunciar a este apoio, que precisa de obrigar o resto da sociedade a pagar os seus custos, sob a forma de impostos altos, serviços públicos degradados, ou falta de investimento. A austeridade é, assim, o rosto que tem o sistema de poder numa sociedade onde o crescimento da economia já não dilui o preço dos compromissos políticos.
Por isso, podemos mudar a “mistura”, mas no fim fica sempre austeridade: este governo, por exemplo, devolveu salários e regalias aos funcionários, mas por isso mesmo teve de manter a carga fiscal, agravar impostos indirectos, cortar o investimento e prejudicar os serviços públicos. Foi uma opção que pôde fazer porque, dizendo-se de esquerda, sabia que não haveria reportagens dramáticas sobre a “destruição do Estado social”. Eis como o SNS, as escolas e os transportes públicos foram martirizados como nunca tinham sido sob a troika.
A anti-austeridade militante, que tanto agitou a avenida e a aula magna até 2015, foi outra componente fundamental destes malabarismos. Passava por ser a expressão espontânea do “descontentamento social”. Sabemos agora que existiu em função das conveniências de algumas organizações partidárias. Até 2015, PCP e BE só viram perigos e abismos. Desde então, sentados à mesa do orçamento, calaram as críticas ao euro, deixaram de estar angustiados com a dívida pública, toleraram as cativações de Centeno, aceitaram a redução de Portugal a um paraíso fiscal para estrangeiros, e não dão pela crise do SNS. No fundo, acabaram com a austeridade desta maneira expedita: deixaram de protestar contra ela, e ela nunca mais foi assunto. Quem precisar de uma prova de como o espaço público em Portugal é pobre e limitado, está aqui. Nunca tão poucos puderam enganar tantos.
COMENTÁRIOS:
Maria Narciso:: Com Passos Coelho era a Certeza de Continuar no mesmo caminho da Austeridade e da Ameaça de Mais Cortes. Inscreveram um Programa de Estabilidade de 2015 / 2019 , uma Poupança de 600  Milhões de Euros na Despesa Pública. Passos Coelho queria Cortar nas Pensões dos pensionistas actuais : - Pensionistas que não se encontram no activo e que já não conseguem repor a sua Vida de outra maneira.  Nos 4 nos de Governação a Seg. Social Perdeu 8 Milhões.
Joaquim Moreira: A verdade como o azeite vem sempre ao de cima. Mas mesmo assim, os beneficiários directos da acelerada devolução dos salários e das pensões - que beneficiou sobretudo a "elite" que serve o Estado ou vive do Estado, desde logo os deputados e os membros do "governo" - não se importam nada de terem sido enganados. De facto, depois de apresentarem o primeiro OE que foi "chumbado" por Bruxelas - o tal que se fosse cumprido traria com ele "o diabo", de que falou Pedro Passos Coelho - o Ronaldo ensaia uma jogada magistral. Mantendo o mesmo OE, na AR aprovado, "sem orçamentos rectificativos", consegue um muito diferente OE de 2016, executado. A jogada foi usar as cativações, e alguns impostos indirectos não sujeitos às percepções, dos que, entretanto, receberam mais uns tostões. Um drible do "diabo".
Manuel O Martins:: Gostei do texto do RR, relata o evidente. Surpreende-me é ler aqui tanto pacóvio a debitar letras quando foram eles a votar nesta escumalha que nos governa e agora tentam sacudir a água do pacote...ahahah!
Manuel Lisboa XII:  Correctíssimo! Verdadeiro! Indiscutível que a austeridade não acabou. Mantém-se. Tem continuado, escamoteada em demagogia e propaganda baratas. E a actual, conduzida pelos socialistas e apoiada pelos comunistas e bloquistas (este nome cai-lhes especialmente bem, tão reaccionários que eles são), tem-se revelado profundamente retrógrada, pois é baseada no marasmo, na continuação do empolamento do estado e na ausência de quaisquer reformas. Infelizmente, esta situação vai-se pagar caro e quanto mais tempo durar mais cara será... Portanto, a "austeridade" não é um livro, sim uma série de volumes cheios de dislates e disparates e os mais evidentes prendem-se com a falta de coragem política de sucessivos governos, quase todos socialistas, em contar a verdade, encará-la e aplicar as óbvias soluções correctas... 
Maria Narciso: A Estratégia deste Governo está Certa e foi um Êxito . Num contexto de Equilíbrio das Contas Externas e de uma Gestão Orçamental Responsáveil. Passos Coelho Garantia um Vazio Total e a continuação do Desastre , com Perda de poder da Classe Média - Pobreza e Desigualdade Passos Coelho se fosse reeleito Admitia só Devolver 20 % dos Cortes. Passos Coelho Empobreceu o País  - Gerando Desequilíbrio Social com Cortes nos Salários , nas Pensões ,na Proteção Social. na Redução dos custos do Trabalho. Nem o País - Nem as Pessoas Aguentavam Mais  Cortes. Foi o inverter da Austeridade . Foi o Parar com os Cortes. Num contexto de Equilíbrio  e com medidas de estímulo às Pessoas para que a economia pudesse Avançar.
FFFFF NNNNN > Maria Narciso: Está a falar de que país? De Portugal já percebi que não é, mas fiquei curioso...
Maria Narciso: Não há comparação possível com  as más Políticas na Governação de Passos Coelho com as do Governo PS.
Rui Jacinto: Leiam, vejam as mentiras de Kosta, vejam que a austeridade não veio de Passos Coelho, mas de antes, de José Sócrates, e de que não acabou com a geringonça, ela está ai, nunca desapareceu. Falo com conhecimento de causa, Kosta só me roubou para comprar uns votos a uns infelizes subsídio-dependentes, tal como agora nos está a roubar nos passes para os transportes, os seniores pagam mais este mês do que no anterior. Kosta e a sua geringonça utópica não!
Rogerio Sousa: Ano de eleições, tempo do renascimento quais aves fénix, das marionetas e cassandras laranjas e azuis na tentativa de imposição do diabo custe o que custar, dum rato querem fazer uma montanha. como é o caso das relações familiares no governo. Estas cassandras nunca abordam as 20 girls dos governos do PSD de Cavaco e Silva de ministério para ministério etc etc ! Lembro-me entre 2011 a 2015 deste povo andar quase todo a gemer dia a dia, com o receio de mais um assalto aos bolsos!... ao contrário destes quatro anos de geringonça! É que uma coisa é ir directo à carteira ao estilo do Gaspar, outra é aumentar tabacos, bebidas alcoólicas, sumos e bebidas açucaradas à Centeno... ou seja impostos indirectos, que permitem a escolha livre das pessoas! Aprende Rui Ramos... aliás sabes bem,  adoras é a cassandrice!!!
Stra. Anabela Faísca: É pena que quando PPC deu um murro na mesa e se pôs do nosso lado contra as oligarquias, tivesse sido atacado por todos os lados, inclusive pelo Observador. Houvesse coragem e honestidade nalguns jornalistas e a história seria outra, mas infelizmente perdeu-se a oportunidade e a recuperação da economia foi abortada pelo PS que não quer uma classe média com poder económico. Sem pobres dependentes do estado, nunca seriam eleitos!
tone goês: O titulo diz tudo...mas muito gostam de ser enganados
Natália Guerreiro Constâncio Fernandes: Tal e qual! Rui Ramos traça aqui o panorama atual  do que se passa! A hipocrisia desta c.o.r.j.a passa  todos os limites da decência! 
Henrique Salles da Fonseca: BRAVO! Totalmente de acordo.  A austeridade é a única solução para uma situação de super-despesismo  público, de uma Administração Pública paralisante da iniciativa produtiva, de uma desconfiança sistemática da bondade do investimento privado, de uma inveja sem limites, duma mesquinhez aviltante. Como é «politicamente correcto» propalar, «malditas cativações gasparinas», «benditas cativações centenárias».
André Silva: Só discordo de Rui Ramos no sentido em que não me parece - de todo - que "tantos" estejam a ser enganados. NINGUÉM está a ser enganado, toda a gente sabe muito bem para onde se vai. Fingimos é todos que não sabemos.
Luis Figueiredo > André Silva: Plenamente de acordo e mais uma vez pagaremos bem caro essa "distracção"...
Nucha Neves: Excelente artigo
ALBERICO LOPES: Obrigado Rui Ramos!
Luis de Figueiredo: excelente artigo, sem dúvida.
Paulo António: Uma divida de um país que não pára de crescer, um povo de um país que não pára de se endividar e de consumir produtos que não produz....estamos à espera de quê?!
Luis Figueiredo Paulo António: Estamos à espera da próxima bancarrota, claro...
maria perry > Ana Ferreira: O Índice de Pobreza aumentou no tempo da Troika, atingindo um máximo em 2013, mas a partir daí começou a diminuir e essa tendência manteve-se com este governo. Nada demais. Por outro lado, o índice de Gini (fosso entre ricos e pobres) era 34,5 em 2011, quando PPC tomou posse, e diminuiu até 33,9 em 2015. Sob a geringonça, chegou aos 33,5 em 2017. Ou seja, apesar da dureza da Troika, Passos Coelho tomou mais bem conta dos pobres do que a geringonça. Portanto, o seu grau de seriedade é zero, o que não é de admirar, pois como de esquerda, e ainda por cima mulher, nunca lê nada nem se informa minimamente.
Ana Ferreira > maria perry: Ainda por cima mulher!? Oh querida, recolha à caverna puxada pelos cabelos como gosta.
maria perry > Ana Ferreira: Pois, quanto aos argumentos sobre a pobreza nada. Veio para aqui mentir à descarada, pensando que enganava os leitores. A verdade é que a geringonça só quis saber dos seus clientes e deixou as classes desfavorecidos ao sabor da maré.
Antonio Fonseca > Ana Ferreira: "O que mudou radicalmente, foi a forma de gerir os recursos públicos" Nisso estamos de acordo. O Costa usa os recursos públicos para ganhar eleições. O Passos esse teve de governar com falta de recursos.
Carlos Presunca > Ana Ferreira: Ana Ferreira, não defenda o que não tem qualquer defesa. Todos sabemos que a senhora (será mesmo fêmea) é avençada do gabinete do PM...!! defende quem lhe paga.
joao Tavares: Será que demorará muito aos eleitores portugueses perceberem que este PS é um Bando de Burlões? Mais que desmascarar PS é necessário desmascarar BE e PCP que apenas desejam a ruina para melhor controlarem o pais.
Liberal Impenitente: Com estes, é enganado apenas quem quer ser enganado. Queria sugerir a Rui Ramos que ele está errado acerca do início do holocausto fiscal contínuo que o país vive EM CONSEQUÊNCIA dos guterrismos: quanto a mim, aquilo que marca o início do holocausto fiscal é a eleição do Xerne em 2001 e a imediata subida "temporária" do IVA para 19%. O Xerne cumpriu, a nova taxa de IVA foi mesmo temporária.
Manuel Magalhães: O BCE com esta política de juros baixos está a permitir que governos incompetentes e corruptos como o “nosso” se mantenham no poder comprando com isso votos e não aproveitando esses juros baixos para desenvolverem o país!
victor guerra > Manuel Magalhães: Exacto! Além disso, com juros baixos,o endividamento privado também disparou. Uma bomba ao retardador
Dani Silva: Excelente crónica, que é um bom retrato da realidade. A austeridade não só não desapareceu, como aumentou. Em 2018 as famílias portuguesas atingiram níveis de endividamento máximos e níveis de poupança mínimos, o que diz muito de quão boa e sustentada está a nossa economia...

Nenhum comentário: