São 118 os comentários que a crónica de
Rui Ramos inspirou. Muitos em diálogo, na seriedade de quem parece
preocupar-se, e o caso é para isso, da mentira da pose governativa, tal como o
da poluição dos rios e da permissividade à indisciplina geral, do parasitismo, do
gozo dos incêndios… A maioria dos comentadores revela ponderação e preocupação.
A esquerda deselegante e apoiante do sistema, naturalmente descamba, em grosserias
directas de baixo nível, como de costume. Não as coloquei. Mas a preocupação
fica.
AUSTERIDADE: Nunca
tão poucos enganaram tantos /premium
RUI RAMOS OBSERVADOR,
12/4/2019
Em
2016, disseram-nos que a austeridade era uma página, e que estava virada. A
austeridade, porém, não é uma
página. É um livro inteiro, de que já ninguém lembra o princípio e ninguém sabe
o fim.
Mário
Centeno confessou-se ao Financial Times: afinal, a austeridade não
acabou em Portugal. Entre o governo de Passos Coelho e o de António Costa,
teria havido mudanças, mas não grandes mudanças. Bem, precisávamos da
sinceridade ou do descuido de Centeno para descobrir isto? Não, bastava-nos
olhar para as estatísticas: o esforço fiscal – um dos mais pesados da Europa,
quando se tem em conta o nível de riqueza do país – não abrandou com Centeno,
tal como não começou com Vítor Gaspar.
É
que o governo de António Costa não nos enganou apenas sobre o fim da
austeridade; enganou-nos também sobre o seu princípio, que não foi em Junho de
2011, quando o governo de Passos Coelho tomou posse, mas nos quatro PEC que José Sócrates
apresentou a partir de Março de 2010ou, se quiserem ir mais longe,
na pressão fiscal que nunca parou
de se agravar desde os anos 90, logo que o Estado deixou de poder
contar com o crescimento da economia para se financiar.
Em
2016, disseram-nos que a austeridade era uma página, e que estava virada. A
austeridade, porém, não é uma página. A austeridade é um livro inteiro, um
livro enorme, de que já ninguém lembra o princípio e de que ninguém ainda
adivinhou o fim. A austeridade não é uma dificuldade momentânea, que possa ser
ultrapassada numa conjuntura favorável. Vimos isso agora, quando o contexto
internacional não podia ser mais propício.
À primeira vista, a austeridade
aparece sob a forma dos défices baixos negociados com Bruxelas. São a condição
de acesso ao dinheiro barato do BCE, sem o qual a bancarrota seria mais ou
menos instantânea. Assim são justificados a “contenção” e o “rigor”. Mas
“contenção” e “rigor” são também necessários porque é preciso compensar a
despesa com que a oligarquia política mantém os dependentes do Estado que
transformou em clientelas eleitorais. É por a oligarquia não querer renunciar a
este apoio, que precisa de obrigar o resto da sociedade a pagar os seus custos,
sob a forma de impostos altos, serviços públicos degradados, ou falta de
investimento. A austeridade é, assim, o rosto que tem o sistema de poder numa
sociedade onde o crescimento da economia já não dilui o preço dos compromissos
políticos.
Por isso, podemos mudar a “mistura”,
mas no fim fica sempre austeridade: este governo, por exemplo, devolveu
salários e regalias aos funcionários, mas por isso mesmo teve de manter a carga
fiscal, agravar impostos indirectos, cortar o investimento e prejudicar os
serviços públicos. Foi uma opção que pôde fazer porque, dizendo-se de esquerda,
sabia que não haveria reportagens dramáticas sobre a “destruição do Estado
social”. Eis como o SNS, as escolas e os transportes públicos foram
martirizados como nunca tinham sido sob a troika.
A anti-austeridade militante,
que tanto agitou a avenida e a aula magna até 2015, foi outra componente
fundamental destes malabarismos. Passava por ser a expressão espontânea do
“descontentamento social”. Sabemos agora que existiu em função das
conveniências de algumas organizações partidárias. Até 2015, PCP e BE só viram
perigos e abismos. Desde
então, sentados à mesa do orçamento, calaram as críticas ao euro, deixaram de
estar angustiados com a dívida pública, toleraram as cativações de Centeno,
aceitaram a redução de Portugal a um paraíso fiscal para estrangeiros, e não
dão pela crise do SNS. No fundo, acabaram com a austeridade desta maneira
expedita: deixaram de protestar contra ela, e ela nunca mais foi assunto. Quem
precisar de uma prova de como o espaço público em Portugal é pobre e limitado,
está aqui. Nunca tão poucos puderam enganar tantos.
COMENTÁRIOS:
Maria Narciso:: Com Passos Coelho era a
Certeza de Continuar no mesmo caminho da Austeridade e da Ameaça de Mais
Cortes. Inscreveram um Programa de
Estabilidade de 2015 / 2019 , uma Poupança de 600 Milhões de Euros na
Despesa Pública. Passos Coelho queria
Cortar nas Pensões dos pensionistas actuais : - Pensionistas que não se
encontram no activo e que já não conseguem repor a sua Vida de outra
maneira. Nos 4 nos de Governação a
Seg. Social Perdeu 8 Milhões.
Joaquim Moreira: A verdade como o azeite vem
sempre ao de cima. Mas mesmo assim, os beneficiários directos da acelerada
devolução dos salários e das pensões - que beneficiou sobretudo a
"elite" que serve o Estado ou vive do Estado, desde logo os deputados
e os membros do "governo" - não se importam nada de terem sido enganados.
De facto, depois de apresentarem o primeiro OE que foi "chumbado" por
Bruxelas - o tal que se fosse cumprido traria com ele "o diabo", de
que falou Pedro Passos Coelho - o Ronaldo ensaia uma jogada magistral. Mantendo
o mesmo OE, na AR aprovado, "sem orçamentos rectificativos", consegue
um muito diferente OE de 2016, executado. A jogada foi usar as cativações, e
alguns impostos indirectos não sujeitos às percepções, dos que, entretanto,
receberam mais uns tostões. Um drible do "diabo".
Manuel O
Martins::
Gostei do texto
do RR, relata o evidente. Surpreende-me é ler aqui tanto pacóvio a debitar
letras quando foram eles a votar nesta escumalha que nos governa e agora tentam
sacudir a água do pacote...ahahah!
Manuel Lisboa XII: Correctíssimo! Verdadeiro!
Indiscutível que a austeridade não acabou. Mantém-se. Tem continuado,
escamoteada em demagogia e propaganda baratas. E a actual, conduzida pelos
socialistas e apoiada pelos comunistas e bloquistas (este nome cai-lhes
especialmente bem, tão reaccionários que eles são), tem-se revelado
profundamente retrógrada, pois é baseada no marasmo, na continuação do
empolamento do estado e na ausência de quaisquer reformas. Infelizmente, esta
situação vai-se pagar caro e quanto mais tempo durar mais cara será... Portanto,
a "austeridade" não é um livro, sim uma série de volumes cheios de
dislates e disparates e os mais evidentes prendem-se com a falta de coragem
política de sucessivos governos, quase todos socialistas, em contar a verdade,
encará-la e aplicar as óbvias soluções correctas...
Maria Narciso: A Estratégia deste Governo está Certa e foi um Êxito . Num contexto de Equilíbrio das Contas Externas
e de uma Gestão Orçamental Responsáveil. Passos
Coelho Garantia um Vazio Total e a continuação do Desastre , com Perda de poder
da Classe Média - Pobreza e Desigualdade Passos
Coelho se fosse reeleito Admitia só Devolver 20 % dos Cortes. Passos Coelho Empobreceu o País - Gerando
Desequilíbrio Social com Cortes nos Salários , nas Pensões ,na Proteção Social.
na Redução dos custos do Trabalho. Nem o
País - Nem as Pessoas Aguentavam Mais Cortes.
Foi o inverter da Austeridade . Foi o Parar com os Cortes. Num contexto de Equilíbrio e com medidas
de estímulo às Pessoas para que a economia pudesse Avançar.
FFFFF NNNNN > Maria Narciso: Está a falar de que país? De Portugal já percebi que
não é, mas fiquei curioso...
Maria Narciso: Não há comparação possível com as más Políticas na Governação de
Passos Coelho com as do Governo PS.
Rui Jacinto: Leiam, vejam as mentiras de
Kosta, vejam que a austeridade não veio de Passos Coelho, mas de antes, de José
Sócrates, e de que não acabou com a geringonça, ela está ai, nunca desapareceu.
Falo com conhecimento de causa, Kosta só me roubou para comprar uns votos a uns
infelizes subsídio-dependentes, tal como agora nos está a roubar nos passes
para os transportes, os seniores pagam mais este mês do que no anterior. Kosta
e a sua geringonça utópica não!
Rogerio Sousa: Ano de eleições, tempo do renascimento quais aves fénix, das marionetas e
cassandras laranjas e azuis na tentativa de imposição do diabo custe o que
custar, dum rato querem fazer uma montanha. como é o caso das relações
familiares no governo. Estas cassandras nunca abordam as 20 girls dos governos
do PSD de Cavaco e Silva de ministério para ministério etc etc ! Lembro-me entre 2011 a 2015 deste povo andar
quase todo a gemer dia a dia, com o receio de mais um assalto aos bolsos!... ao
contrário destes quatro anos de geringonça! É
que uma coisa é ir directo à carteira ao estilo do Gaspar, outra é aumentar
tabacos, bebidas alcoólicas, sumos e bebidas açucaradas à Centeno... ou seja
impostos indirectos, que permitem a escolha livre das pessoas! Aprende Rui Ramos... aliás sabes bem,
adoras é a cassandrice!!!
Stra. Anabela Faísca: É pena que quando PPC deu um murro na mesa e se pôs do nosso lado
contra as oligarquias, tivesse sido atacado por todos os lados, inclusive pelo
Observador. Houvesse coragem e honestidade nalguns jornalistas e a história
seria outra, mas infelizmente perdeu-se a oportunidade e a recuperação da
economia foi abortada pelo PS que não quer uma classe média com poder
económico. Sem pobres dependentes do estado, nunca seriam eleitos!
tone goês: O titulo diz tudo...mas muito gostam de ser enganados
Natália Guerreiro Constâncio Fernandes: Tal e qual! Rui Ramos traça aqui o panorama
atual do que se passa! A hipocrisia desta c.o.r.j.a passa todos os
limites da decência!
Henrique Salles da Fonseca: BRAVO!
Totalmente de acordo. A austeridade é a única solução para uma situação
de super-despesismo público, de uma Administração Pública paralisante da
iniciativa produtiva, de uma desconfiança sistemática da bondade do
investimento privado, de uma inveja sem limites, duma mesquinhez aviltante. Como
é «politicamente correcto» propalar, «malditas cativações gasparinas»,
«benditas cativações centenárias».
André Silva: Só discordo
de Rui Ramos no sentido em que não me parece - de todo - que "tantos"
estejam a ser enganados. NINGUÉM está a ser enganado, toda a gente sabe muito bem para onde se vai.
Fingimos é todos que não sabemos.
Luis Figueiredo > André Silva: Plenamente de acordo e mais uma vez pagaremos bem caro essa "distracção"...
Nucha Neves: Excelente
artigo
ALBERICO LOPES: Obrigado Rui
Ramos!
Luis de
Figueiredo: excelente artigo, sem dúvida.
Paulo António: Uma divida
de um país que não pára de crescer, um povo de um país que não pára de se
endividar e de consumir produtos que não produz....estamos à espera de quê?!
Luis Figueiredo Paulo António: Estamos à espera da próxima bancarrota, claro...
maria perry > Ana Ferreira: O
Índice de Pobreza aumentou no tempo da Troika, atingindo um máximo em 2013, mas
a partir daí começou a diminuir e essa tendência manteve-se com este governo.
Nada demais. Por outro lado, o índice de Gini (fosso entre ricos e pobres) era
34,5 em 2011, quando PPC tomou posse, e diminuiu até 33,9 em 2015. Sob a
geringonça, chegou aos 33,5 em 2017. Ou seja, apesar da dureza da Troika,
Passos Coelho tomou mais bem conta dos pobres do que a geringonça. Portanto, o
seu grau de seriedade é zero, o que não é de admirar, pois como de esquerda, e
ainda por cima mulher, nunca lê nada nem se informa minimamente.
Ana Ferreira > maria perry: Ainda por cima mulher!? Oh querida, recolha à caverna
puxada pelos cabelos como gosta.
maria perry > Ana Ferreira: Pois, quanto aos argumentos sobre a pobreza nada.
Veio para aqui mentir à descarada, pensando que enganava os leitores. A verdade
é que a geringonça só quis saber dos seus clientes e deixou as classes
desfavorecidos ao sabor da maré.
Antonio Fonseca > Ana Ferreira: "O
que mudou radicalmente, foi a forma de gerir os recursos públicos" Nisso
estamos de acordo. O Costa usa os recursos públicos para ganhar eleições. O
Passos esse teve de governar com falta de recursos.
Carlos Presunca > Ana Ferreira: Ana Ferreira, não defenda o que não tem qualquer
defesa. Todos sabemos que a senhora (será mesmo fêmea) é avençada do gabinete
do PM...!! defende quem lhe paga.
joao Tavares: Será que
demorará muito aos eleitores portugueses perceberem que este PS é um Bando de
Burlões? Mais que desmascarar PS é necessário desmascarar BE e PCP que apenas
desejam a ruina para melhor controlarem o pais.
Liberal Impenitente: Com estes, é
enganado apenas quem quer ser enganado. Queria sugerir a Rui Ramos que ele está
errado acerca do início do holocausto fiscal contínuo que o país vive EM
CONSEQUÊNCIA dos guterrismos: quanto a mim, aquilo que marca o início do
holocausto fiscal é a eleição do Xerne em 2001 e a imediata subida
"temporária" do IVA para 19%. O Xerne cumpriu, a nova taxa de IVA foi
mesmo temporária.
Manuel Magalhães: O BCE com
esta política de juros baixos está a permitir que governos incompetentes e
corruptos como o “nosso” se mantenham no poder comprando com isso votos e não
aproveitando esses juros baixos para desenvolverem o país!
victor guerra > Manuel Magalhães: Exacto! Além disso, com juros
baixos,o endividamento privado também disparou. Uma bomba ao retardador
Dani Silva: Excelente crónica, que é um bom retrato da realidade. A austeridade não só
não desapareceu, como aumentou. Em 2018 as famílias portuguesas atingiram
níveis de endividamento máximos e níveis de poupança mínimos, o que diz muito
de quão boa e sustentada está a nossa economia...
Nenhum comentário:
Postar um comentário