Cesário Verde em trinta linhas

A proposta de participação numa antologia da Chiado Editora sobre um escritor do nosso agrado, fez-me lançar em entusiástica tentativa esta manhã, num café propício, em vez de sobre a leitura do Público, sobre o verso de uma factura-recibo do Pingo-Doce, por falta de caderno propício, onde “curti”, a alinhavar registos do meu amor por Cesário, que em casa transpus para o Word, enviando o texto, a seguir, para a CHIADO EDITORA. De lá costumam responder-me de seguida, aceitando a minha participação, mas desta vez não o fizeram, donde deduzo que não aceitaram o texto. Como gosto de Cesário, amor antigo, ponho o texto no meu blog, que me fez reviver “curtições” de aulas como de tese de licenciatura, em admiração que nunca morreu.

CESÁRIO VERDE

Passeaste pelas ruas da cidade,

Cantaste o sol dos campos e os pomares

Descreveste movimentos e as misérias,

Sordidezes da vida e as claridades

Os mendigos, as miladys, os contrastes.

O velho professor pedindo esmola,

A velha suja pedindo um cigarro,

No clarão das luzes do teatro,

As cenas picarescas, o teu humor sombrio

Procurando o apaziguamento no absinto.

A engomadeira tísica cantarolando,

Os calceteiros rudes batendo a calçada

Os anais da história dignificando, na memória,

O passado que o presente envileceu,

As marés de fel da dor humana,

A espraiar-se na amplidão do mar de breu.

Quanta beleza soubeste traçar,

Em quadros de magia e autenticidade

Quanta harmonia, quanta solidão

No teu desenho de compasso e esquadro,

No compasso do teu caminhar!

Bravo! Cesário, que tão jovem

Deixaste o mundo do teu deambular,

Não sem antes o teres preenchido

Com tanta beleza pintoresca

Tanta sensibilidade principesca!

Português de lei, eu te agradeço,

Por seres maior entre os maiores,

Morto tão jovem mas já sem idade

Que o teu “Livro” marcou de eternidade.

PS - Afinal, recebi hoje - 25/4  pelas 20 horas, a informação de que o texto foi seleccionado.