sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Carnaval perpétuo

 

Embora sem festa. Resta-nos a consciência de que é agora que estamos a seguir na íntegra o lema da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade, Fraternidade –irmanados através do soez tapume que nos mascara a cara …

Faz-de-conta que funciona / premium

Máscaras obrigatórias na rua? O Governo e os partidos estão a tomar decisões sem qualquer base empírica ou efeito previsível na contenção da pandemia, apenas para agirem de forma visível e emblemática

ALEXANDRE HOMEM CRISTO

OBSERVADOR, 29 out 2020

Houve um tempo em que a política em Portugal se fazia com betoneiras. Deixar obra era, na gíria, sinónimo de construir infra-estruturas em todo o lado — nomeadamente rodoviárias. Esta obsessão não derivava de qualquer fetiche com maquinaria pesada e tinha uma simples razão de ser: explicava-se com a necessidade de os políticos eleitos terem algo concreto para mostrar e assim justificar o voto neles confiado. Afinal, é mais fácil exibir a construção de uma ponte, que fica ali para ser usada diariamente, do que garantir a sustentabilidade da Segurança Social ou modernizar o sistema educativo — reformas estruturais da maior importância, mas de efeitos lentos e resultados invisíveis a olho nu.

Hoje, o ímpeto do betão esmoreceu (embora o Governo anseie por reavivá-lo). Mas o princípio subjacente a esta forma menor de deixar obra mantém-se intacto: o de infantilizar os cidadãos e eleitores, optando preferencialmente por medidas políticas vistosas e emblemáticas (mesmo que ineficazes), em detrimento de medidas discretas, orientadas pela investigação e previsivelmente mais eficazes. A gestão feita pelo Governo da contenção da pandemia é um exemplo dinâmico disso mesmo, sucedendo-se as medidas recentes que apenas servem para o Governo alegar serviço (lembram-se da app?) — e perante as quais ao país compete fazer-de-conta que funcionam.

A obrigatoriedade do uso de máscara na rua é uma dessas medidas, de utilidade muito discutível — tudo indica que será completamente ineficaz para travar o crescimento de infecções por Covid-19, conforme vários especialistas, epidemiologistas e médicos reconheceram. Dir-me-ão que a ciência desconhece ainda muita coisa acerca da Covid-19 — é verdade. Mas há algo que nos últimos meses se percebeu: o risco de contágio ao ar livre é baixíssimo, nomeadamente quando cumpridos alguns gestos-barreira. Claro que, em áreas movimentadas, mesmo que ao ar livre, o uso de máscara deve ser incentivado — como aliás já acontecia em vários locais. Mas daí a impor a obrigatoriedade e ameaçar com multas vai uma enorme diferença, até porque se trata de uma medida desproporcional: é duríssima, mas tem uma eficácia estimada completamente marginal.

Por isso, o mínimo exigível seria que nos explicassem o racional da medida, em particular Governo e PSD (partido que foi autor da iniciativa legislativa que esteve na base da lei aprovada). Mas, como já estamos abaixo dos mínimos, a única explicação a que tivemos direito foi esta frase, retirada do projecto-de-lei 570/XIV/2ª (PSD): “A sucessiva multiplicação do número de infectados e de internamentos hospitalares demonstra a insuficiência das medidas até agora determinadas pelas autoridades nacionais, justificando plenamente a adopção, necessariamente transitória, da obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços públicos, como forma de contenção da expansão de contágios.” Se não percebeu, eu traduzo: nós, decisores políticos e legisladores, não temos ideia sobre como travar a pandemia, mas sentimos a necessidade de agir firmemente para mostrar serviço, mesmo sem conhecermos indicadores que atestem a eficácia das medidas que impomos. Eis a incompetência absoluta.

Pergunto: na análise comparada da evolução da pandemia nos vários países europeus, constatou-se que estão melhor aqueles que obrigam ao uso de máscara na rua? Há alguma experiência internacional bem-sucedida e comparável com a realidade portuguesa que justifique a medida? Foi feita alguma quantificação do potencial desta medida na redução dos contágios, tendo em conta que, segundo informa a DGS, a esmagadora maioria dos contágios ocorre em contextos familiares ou de convívio com amigos? Nenhuma destas perguntas teve resposta. E se olharmos às evidências produzidas pela investigação e sustentadas nos dados, mesmo que não exista consenso, a larga maioria aponta para que esta medida em concreto seja um desperdício. Por exemplo, em Espanha, a obrigatoriedade do uso de máscara na rua foi imposta em várias cidades ainda durante o Verão e o efeito na contenção da pandemia parece ter sido nulo: o nosso país vizinho bate recordes de casos de infecções.

Não me tomem por um activista anti-máscara (ou negacionista, ou seja lá qual for a expressão em voga), nem leiam neste artigo um incentivo à desobediência civil. Não é esse o ponto. A questão é só esta: preocupa constatar que, em vez de combater a pandemia com planeamento e medidas eficazes suportadas na ciência, o Governo e os partidos na Assembleia da República estão à deriva, impelidos a tomar decisões restritivas das nossas liberdades sem qualquer explicação de base empírica, sem qualquer efeito previsível na contenção da pandemia, sem qualquer objectivo quantificado e sem qualquer propósito que não seja agirem com firmeza, de forma visível e emblemática. E tudo isto apoiando-se no pressuposto de que os cidadãos são demasiado parvos para perceberem a sua desorientação. Felizmente, não o são.

PANDEMIA   SAÚDE   PARLAMENTO  POLÍTICA  PSD

COMENTÁRIOS:

Luis Novais Reis:A máscara obrigatória ao ar livre tal como está plasmada na lei é uma treta pela subjectividade que contém. Não é por aqui que se reduzem o número de infectados ... mas o portuguesinho gosta e lá vão apoiando medidas pouco eficazes. Foquem-se nos dados e ajam em consequência.        António Silva: Desde que não seja possível garantir a distância de segurança entre 2 pessoas, o uso de máscara deve ser obrigatório, porque basta uma pessoa falar, tossir ou espirrar, para gerar uma série de partículas infectantes expelidas através da saliva! Com a máscara, isso é neutralizado, mas é ainda mais seguro com a distância devida!

TheGreatDictator TGD: A proposta inicial tinha uma "dummy", i.e a stay away covid NUNCA passaria como OBRIGATORIA, foi apenas uma manobra de diversão para imporem o que sempre quiseram. A MASCARA. A técnica do atiras 2 para o ar, mas sabes que só vais apanhar um na descida. Os tugas caem sempre. Leve 2 pague 1.      Gustavo Costa: Já agora, mais uma nota. Durante o verão a ARS do Algarve conseguiu fazer o seguimento da esmagadora maioria de casos de Covid 19. Em todo o Algarve, em todo o verão, não houve nenhum caso confirmado ou tão só suspeito de transmissão em praias. Muitas tiveram muita gente, como pode confirmar quem lá esteve. Nem um único caso, milhares de pessoas, em dezenas de praias durante 3 meses, todas sem máscara! Isto são constatações objectivas e irrefutáveis. PS: Eu trabalhei todos os dias da pandemia e uso máscara sempre desde início de Abril, excepto na praia e locais com muito pouca densidade humana. Faço-o porque quero baixar o meu risco para o mais próximo de zero. E acho bem que as pessoas usem máscara. Daí a achar que isso vai resolver o problema, é "fools gold". Espanha tem as máscaras obrigatórias em espaços exteriores em todas as Comunidades desde 13 de Agosto, mas na maioria já o era em Julho. A única excepção eram as praias. A obrigação é total, independentemente das distâncias. Também é proibido fumar em espaços públicos se não for possível guardar a distância de segurança de 2 metros. Ainda assim a Espanha tem tido números péssimos! A máscara obrigatória em espaços públicos exteriores permite uma redução de casos entre 1 e 5%, logo marginal para o desenvolvimento da pandemia.      António Silva > Gustavo Costa: Em geral, os espanhóis não usam máscara quando se juntam num bar e não respeitam a distância de segurança entre eles! Os espanhóis são um mau exemplo, porque são um povo que não dispensa a sua famosa folia, nem as suas saídas nocturnas! Se convivem bem e saboreiam a vida, em pandemia deviam ser mais comedidos e esperar que a pandemia passe! Como querem tudo, tudo perdem!      Miguel Nunes: O Governo e os partidos estão a tomar decisões sem qualquer base empírica ou efeito previsível na contenção da pandemia. A partir de quanta evidência empírica é que se começa a considerar que há evidência favorável ao uso das máscaras? Como se pode afirmar que essas decisões não têm fundamentos empíricos? O autor deste texto consultou a literatura científica recente, que de facto tem vindo a confirmar o papel importante das máscaras em situações em que o distanciamento não está assegurado? Pelos vistos não. Este artigo é uma vergonha e enquadra-se na definição da desinformação, com todos os perigos que daí advêm.  mais...   Gustavo Lopes: Caro Alexandre: Sabe porque é que as máscaras não funcionam e a pandemia progride? Aqui e nos outros países todos? Porque as pessoas são genuinamente mal educadas, civicamente irresponsáveis e sem um pingo de consideração pelo próximo!!!! Passo a explicar: a transmissão está a ser feita essencialmente por energúmenos que, mesmo tendo sintomas, ou obrigação de quarentena por positividade em familiares próximos, decidem que não querem / não podem parar, pelo que mascaram sintomas como febre e dores musculares com antipiréticos e analgésicos, tosse com antitússicos, etc, e continuam livremente a circular / fazer o seu dia a dia como se nada fosse, criando cadeias de contaminação incontroláveis. Só os que ficam genuinamente mal e não conseguem aguentar é que recorrem ao médico e são testados. Pelo que a máscara torna-se efectivamente um adereço de estética que pouco parece fazer... mas lamento desiludi-lo não concordando consigo: se não fosse o uso de máscara isto então estaria bonito, com números assombrosamente superiores e todos em casa confinados, não por vontade política, mas por indicação / obrigação sanitária!!! E tentar fazer estudos de eficácia de uso de máscara com energúmenos em circulação, fazendo dos números de infectados o critério de eficácia, é simplesmente falacioso!!! Mas claro que concordo consigo; estar sozinho num descampado e ser obrigado a usar máscara é simplesmente ridículo!! Já passear numa avenida a abarrotar de gente, como qq tarde soalheira à beira mar provoca nas avenidas próximas, ou qualquer rua da baixa das grandes cidades em período natalício, ou usa, ou está tramado, por causa dos energúmenos acima, que "espirram e tossem" vírus alegremente e sem qualquer peso na consciência! Termino dizendo que "A liberdade do próximo termina quando põe em risco a minha!!!"... Pena que poucos considerem isto um lema de vida em sociedade!!       Ping PongYang: Ó Cristo omnisciente que sabes de TUDO e não percebes de NADA, segue tu também o evangelho do teu Apóstolo Mateus em 22:21: "Então ele lhes diz: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" Por outras palavras: É melhor deixar estes assuntos sérios para os verdadeiros especialistas. Carlitos Sousa: O Governo e os partidos estão a tomar decisões sem qualquer base empírica ou efeito previsível na contenção da pandemia Nem mais. São medidas de alcance político sem qualquer apoio científico. O governo toma qualquer medida, por mais pateta que seja, para não ser acusado de nada fazer. Mas o que deveria fazer, desde que implique verba, não faz. Testes ? Custam dinheiro. Aumentar a resposta do SNS ? Custa dinheiro. Aumentar a frota de autocarros? Custa dinheiro. Desinfectar ruas? Custa dinheiro. Tomar conta dos Lares em termos sanitários? Custa dinheiro. Ao contrário, mandar as pessoas usar máscara, não circular entre concelhos, fazer recolher obrigatório, pode render uma boa Receita em multas.

Joaquim Moreira; Esta crónica tem um objectivo, que, não sendo muito claro para muita gente, não é para quem o lê atentamente. E, o objectivo é culpar a oposição pelos erros da “governação”. Mas não toda a oposição, a do PSD, vá-se lá saber porquê! Na verdade, o PSD é o autor da proposta do uso obrigatório de máscaras, por sua iniciativa e para a proposta do "governo" evitar, que, essa sim, era mesmo de pasmar. Mas não posso concordar que diga que o faz “no pressuposto de que os cidadãos são demasiado parvos para perceberem a sua desorientação”. Como se quem governa fosse a oposição. E há outra coisa que também não concordo. De facto, há cidadãos que não são parvos, mas a maioria pede e exige esta e outras medidas restritivas, e até muito mais imperativas! O PSD, como é apanágio do seu líder, é coerente, com as críticas que faz a este “governo” de todo incompetente. Apesar do autor deste comentário, o querer confundir com o faz-de-conta do vigário!

Fernando Regio > Joaquim Moreira: O objectivo do PSD é o mesmo do presidente da república, levantar poeira sobre a constituição! Ambos sabem que estas medidas ferem direitos e garantias dos cidadãos. Não se justificam, tratem das instalações na saúde e deixem-se de tretas! O PSD quer fazer passar a ideia de uma ilha como um sucesso, é uma ilha, ponto! Pode não ser o PSD que governa mas o presidente tem feito um excelente trabalho a rectificar leis inconstitucionais, lembra-se do NRAU? Que quase acabou e limitou bastante o direito à propriedade privada? Há gente que perde dinheiro com a brincadeira desta gente, não só do PS e Bloco. Para evitar multa sempre usei viseira, agora já não posso. Quando vou fazer caminhadas acha que é prático, confortável, saudável usar mascara? Eu não uso, também me cruzo com poucas pessoas, e só se não puder evitar é que passo perto. Mas sempre um bocado com o coração nas mãos pois nunca se sabe se posso estar a passar por um covideirinho medroso e arrogante que se sinta com razão para me "pôr na ordem". O facto de não se poder usar viseira dadas estas circunstâncias absurdas é um rude golpe no nosso conforto e saúde. E surpreende-me tendo em conta a sua opinião acerca do tema que concorde com a supressão do uso de viseira, já que torna uma má situação pior. Concordo que não é o uso de máscara que vai resolver o problema. Mas mal também não faz e no inverno até dá jeito... Fernando Regio > Rui Amaral:Isso não quer dizer que seja legal tornar a sua utilização ao ar livre obrigatória! É inconstitucional e fere direitos fundamentais e invioláveis dos cidadãos. Sem comprovação científica, o presidente da república nunca poderia ter rectificado uma lei destas, nem o tribunal constitucional a pode deixar passar,        Nu SouAra > Fernando Regio: Muito bem então. E já agora qual será a medida mais adequada para parar a propagação do vírus. É que só se lêem críticas de lesa pátria aos direitos fundamentais...mas e as medidas, quais as medidas. Só criticar não chega!!!        andre sousa > Nu SouAra: É impossível conter este vírus, como foi impossível conter o vírus da Gripe MESMO com vacina. É tempo de sermos todos honestos relativamente a este tema. Quanto a soluções, o investimento mais racional parece-me ser claramente em equipamentos 100% dedicados a cuidados especializados em Covid. Se pensarmos bem, 400 camas é um Hotel. Um no Norte, outro no Sul (800 camas) - talvez 150 a 300M€ de investimento. Serviria melhor os cidadãos que mais sofrem (>70 anos) ao mesmo tempo que protege os cidadãos que não sendo afectados pela doença, sofrem pelas medidas da "cura".        Fernando Regio > Nu SouAra: As mesmas medidas que aqui quem lhe escreve toma desde que ficou internado em 2009 uma semana, confinado com febres próximas dos 40 graus na gripe dos porcos - gripe A. Lavar as mãos com frequência é muito importante, não meter as mãos na boca, nariz e olhos! Cuidar bem e imediatamente de feridas e tomar vitamina c com regularidade. Até pode usar as mãos para tudo se não for tirar macacos do nariz ou aquele pedaço de carne entalado na boca a seguir. A disciplina pessoal não se obriga, ensina-se! Seja como for não há muitas formas de evitar a propagação de vírus respiratórios visto que são facilmente transmissíveis, com tratamento ou com imunidade e memória do sistema imunitário são as únicas. Não se pode é dizer que um direito é melhor que o outro. As máscaras nem paliativos são quanto mais. A obrigação é o caminho de governos e países fracos. O presidente da câmara de Loures já disse que nos hospitais de Lisboa, e mais que uma vez, estão vários internamentos de idosos com alta hospitalar mas que não têm para onde ir, gente que não tem condições para cumprir quarentena em casa... situações que não são uso de Máscaras ou não.       Nu SouAraFernando Regio: Concordo com a disciplina individual, esse será o caminho. O problema é que há muita boa gente que não é civilizada e está a marimbar-se para os outros. Mas é um facto claro que o vírus não irá desaparecer. É apelarmos ao senso comum de dada um de nós.      Fernando Regio > Nu SouAra: O senso comum não se apela com obrigações e acredite ou não, usar máscara na rua é uma Imbecilidade. Os direitos e garantias não são para estarem cancelados a pretexto de qualquer ventania! A liberdade não pode estar condicionada por causa de qualquer rabanada de vento. A minha liberdade individual está posta em causa com a máscara na rua, contraria as minhas convicções e conhecimentos e considero uma tortura.              Francisco Correia > Nu SouAra: A medida mais importante é o governo não ter dois pesos e duas medidas. Veja-se o exemplo de no próximo fim de semana os turistas estrangeiros poderem circular entre concelhos e os cidadãos nacionais não poderem. Pode haver Avantes e F1s mas depois não se pode ir aos cemitérios. Patético! Ninguém com dois dedos de testa leva as medidas deste governo a sério.        Armando Ferreira: Sem falar que o país com menos contágios e menos óbitos, a Suécia, é o país que não tem grandes restrições nem máscaras. Aliás, ao contrário do que a CS em Portugal incluindo o Observador passou para a opinião pública não apertou regras, até as alargou. Os eventos públicos que tinham maior restrição passaram de 50 para 300 participantes e os idosos com mais de 70 anos foram encorajados a sair de casa.

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