segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Points de vue…

 

Começo por transcrever da Internet o sentido da sigla app:

- (palavra inglesa, redução de application, aplicação); nome feminino; [Informática]:Programa informático que visa facilitar a realização de uma tarefa num computador ou num dispositivo móvel. = APLICAÇÃO  Plural: apps.

Segundo João Miguel Tavares, a provável ordem a ser decretada pelo governo de A.C., de os cidadãos instalarem uma app no seu telemóvel, com função profiláctica na questão da Covid 19, não merece a simpatia dos muitos cidadãos, indignados com a imposição abusiva do Estado na privacidade cada um. João Miguel Tavares insurge-se contra esses, visto que se trata de um problema de saúde, que convém não minimizar. Mas julgo que a maioria dos comentadores condena o jornalista, indiferentes à justeza irónica dos seus argumentos de bom senso aparente, a defender um posicionamento político de aceitação da imposição ditatorial, quando geralmente a condena.

Tal como a maioria, pois, dos comentadores de JMT, também Paulo Rangel condena tal “démarche” governativa, com argumentos que o PSD debateu em Bruxelas…

Parece que não está provada a eficácia dessa medida….

I –OPINIÃO: Levem tudo, mas não toquem no meu telemóvel!

Devo celebrar a indignação generalizada da pátria face aos abusos do Estado, mas lamento que não se tenha arranjado melhor motivo para traçar linhas vermelhas.

JOÃO MIGUEL TAVARES

PÚBLICO,, 17 de Outubro de 2020

Ontem acordei e Portugal era o país da liberdade e dos libertários. Há uma frase que adoro, retirada de um discurso de William Pitt do século XVIII, quando a coroa britânica se preparava para meter o nariz na casa dos seus súbditos para colectar um novo imposto sobre a sidra: “O homem mais pobre, na sua cabana, desafia todas as forças da Coroa. A cabana pode ser frágil, o seu tecto pode estar a cair, o vento pode atravessá-la, a tempestade pode entrar, a chuva pode entrar – mas o Rei de Inglaterra não pode entrar!”

Se imaginarmos que estas palavras extraordinárias de defesa da propriedade privada e das liberdades individuais foram proferidas em 1763, é fácil perceber o mar de séculos que separa a cultura liberal inglesa da portuguesa. Devo dizer, pois, que foi com certo espanto que esta semana descobri milhões de portugueses a despertarem para a protecção feroz do seu último reduto de privacidade; o esteio onde o Estado não pode entrar de forma alguma, nem sequer tocar com uma falangeta. O tecto pode cair, a pandemia pode levar-nos para a tumba – mas ninguém toca no telemóvel!

Cada um tem o William Pitt que merece. Este é o país em que o Governo pode obrigar os seus cidadãos a manterem-se dentro da cabana durante várias semanas (aliás, eles enfiaram-se nela ainda antes de o Governo mandar), e definir as regras de circulação depois de sair, mas que não suporta a obrigatoriedade de instalar uma app, ainda que com a intenção de evitar que toda a gente vá parar dentro da cabana outra vez. É mesmo muito engraçado ver milhares de pessoas a indignarem-se no Facebook contra a invasão da privacidade de uma aplicação. Alguém lhes devia apresentar o senhor Mark Zuckerberg e o seu modelo de negócio.

Eis uma situação que é simultaneamente refrescante e ilógica. Por um lado, devo celebrar a indignação generalizada da pátria face aos abusos do Estado. Por outro, lamento que não se tenha arranjado melhor motivo para traçar linhas vermelhas. Todos vivemos cercados de regras opressoras. Assim que nascemos arranjam-nos um número de contribuinte. Quase nada se faz sem um papel e um carimbo. O fisco sabe tudo sobre nós. A polícia manda-nos parar na estrada e obriga-nos a soprar para dentro de um balão, mesmo que não nos apeteça. Os exemplos da vigilância do poder são inúmeros e há infindável literatura sobre o tema.

No combate à covid, passámos da histeria ao desleixo em apenas três meses. Como já várias vezes referi, a verdade está algures no meio, que é sempre o melhor sítio para ela se esconder, porque quase ninguém a encontra

Porquê, então, embirrar com uma app? Há boas e más razões para isso. As boas: 1) ninguém quer ter um polícia a dizer “passe para cá o telemóvel”; 2) a app não serve para nada se à obrigatoriedade de a instalar não se juntar a obrigatoriedade de declarar que se tem covid. Mas também há más razões, que se prendem com um certo libertarianismo fácil de sofá. Compreendo mal que enchamos a boca com frases do género “uma vida não tem preço”, e depois não estejamos dispostos a pagar o baixíssimo preço de instalar uma app cheia de garantias de privacidade se ela puder ajudar a salvar vidas.

Este “se” é muito importante – compete ao Governo demonstrar que a app serve mesmo para alguma coisa. Eu ainda não estou convencido. Mas, se servir, não me choca que a sua instalação seja obrigatória. Sim, é uma compressão da nossa liberdade, só que uma compressão justificada perante os valores em causa. No combate à covid, passámos da histeria ao desleixo em apenas três meses. Como já várias vezes referi, a verdade está algures no meio, que é sempre o melhor sítio para ela se esconder, porque quase ninguém a encontra.

Jornalista

TÓPICOS

COVID-19  APPS  GOVERNO  PRIVACIDADE  ESTADO  CORONAVÍRUS  APLICAÇÕES

COMENTÁRIOS:

Anjo Caído MODERADOR: Para alguém que se diz liberal, isto é um exercício de baixa-calcismo sem paralelo. A paranóia securitizante entra até pelos espíritos (que se pensava serem) mais livres adentro.

Mário Areias INICIANTE: Pela 1ª vez não concordo consigo. Em situação alguma instalarei qualquer app. nem que para isso vá comprar um telemóvel dos antigos e deixo o meu em casa. Nunca tenho a localização activa a não ser quando preciso do gps, não tenho Twitter, Instagram ou Facebook. Provavelmente não valerá d muito, mas... 17.10.2020    Catarina Reis INICIANTE: Gostava que os entendidos da app me explicassem como funciona nos seguintes cenários: 1- O Zé mora no rés-do-chão de uma rua movimentada em frente a uma paragem de autocarro. Trabalha todo o dia na secretária junto à janela. 2- A Joaquina passa 2 horas por dia enfiada no carro numa fila na IC19. Em ambos os casos há um vidro que separa os indivíduos de potenciais infectados de covid. A app vai avisá-los que das 3000 pessoas junto das quais permaneceram nesse dia 10 apanharam covid e por isso eles podem estar infectados?      Novo Humbo EXPERIENTE: Jordan Peterson teve os problemas que teve porque as pessoas insistiam em não compreender que nunca se recusaria a chamar um transexual pelo prenome que lhe fosse pedido por esse transexual. A luta dele (é) contra o facto de, pela primeira vez na história de democracia Canadiana, o Estado se ter arrogado o direito de impor à comunidade o uso de vocábulos específicos. Neste outro caso, não interessa que as pessoas livres ou ignorantemente optem por ceder a sua privacidade a terceiros. O que é inadmissível é o ser o Estado a tentar impor tal cedência. Estou estupefacto que uma pessoa que tanto admiro não perceba esta simples mas crítica diferença.      Anjo Caído MODERADOR: Novo Humbo, disse tudo tão bem que tenho medo de estragar se acrescentar algo. Mas vou-me atrever a receber uma chuva de críticas: as aplicações são como sexo. Cada um tem as que quer, corre os riscos que quer, desde que ache que isso vale a pena. Problema de cada um. Tornar obrigatório?... Hmmmm.... parece-me má ideia. E não adianta vir falar que nos metemos todos na cama com o Mark Zuckerberg - isso não é motivo para nos meterem na cama com quem o Estado decide. Válido para aplicações e outras potenciais intromissões do Estado.      António Rocha INICIANTE: Assumimos que a aplicação é muito útil para o controlo dos surtos de covid; onde está a evidência científica que sustenta esta afirmação? 17.10.2020       Jorge Macedo Rocha INICIANTE: Há uma certa mania arrogante de alguns colunistas se acharem melhores do que “os portugueses”. Eu campeão do liberalismo, parece dizer o autor, vejo que a mesma carneirada que fugiu a sete pés para casa começa agora, sem minha autorização, a indignar-se contra a violação da sua privacidade. Não lhe ocorre que o argumento pode ser revertido: como é que alguém que anda sempre com o liberalismo na boca revela tanta compreensão por uma medida que viola tão gratuitamente a nossa privacidade. Gratuitamente porque sacrifica liberdades para disfarçar incompetência na promoção de outras medidas: mais transportes, horários desfasados, teletrabalho quando possível (ver declarações do Prof. Henrique Barros). Desculpe se me apropriei do seu liberalismo que lhe é tão caro para se tentar distinguir de “os portugueses”. E lembre-se que a ideia de que os outros pensam diferentemente de nós só porque alguma alienação os impede de ver a verdade que lhes apregoamos é a mais illiberal de todas as ideias. luis.reis.972977 INICIANTE: "Qualquer sociedade que renuncie um pouco da sua liberdade para ter um pouco mais de segurança, não merece nem uma, nem outra, e acabará por perder ambas." - Benjamin Franklin   17.10.2020 ------------

 

II - Paulo Rangel diz que aplicação StayAway Covid  não é eficaz

Após os eurodeputados do PSD terem questionado a comissão europeia sobre a obrigatoriedade do uso da aplicação StayAway Covid, Rangel questiona eficácia da app.

Agência Lusa

Texto:

17 out 2020, 19:00 2 

O eurodeputado do PSD Paulo Rangel disse este sábado que “não faz sentido” falar dos direitos dos cidadãos quanto à obrigatoriedade do uso da aplicação de telemóvel StayAway Covid, uma vez que aquela ‘app’ “não é eficaz”. “Não faz sentido pôr-se a questão dos direitos se a própria aplicação não é eficaz. Eu só quero uma coisa que viola direitos se ela for eficaz: aí posso ver se vale a pena violar os direitos, comprimi-los ou não. Eu acho que não vale, em qualquer caso”, afirmou Paulo Rangel à agência Lusa.

O eurodeputado social-democrata falava este sábado em Ponta Delgada, nos Açores, à margem da campanha eleitoral para as eleições regionais de dia 25, na qual acompanhou o líder do PSD/Açores, José Manuel Bolieiro.

Os eurodeputados do PSD questionaram este sábado a Comissão Europeia sobre a obrigatoriedade do uso da aplicação de telemóvel StayAway Covid, considerando que com esta proposta o Governo português “está a violar duplamente as orientações” de Bruxelas.

“Se for ver a informação da Comissão Europeia, que foi o que justificou a nossa pergunta, ela diz que se a aplicação não for voluntária, ela é menos eficaz. Portanto, uma aplicação obrigatória, porque gera resistências, é menos eficaz do que uma aplicação voluntária”, acrescentou Rangel.

O deputado no parlamento europeu destacou que não existe uma contradição com a posição do líder do PSD, Rui Rio, porque, segundo Rangel, o responsável máximo pelos sociais-democratas não concordou com a obrigatoriedade do uso da aplicação, antes salientou que “não havia eficácia da aplicação que justificasse o seu uso”.

“Como vê não há contradição nenhuma, mas se houvesse também não fazia mal. Eu estava na mesma contra a obrigatoriedade da aplicação porque no partido podemos divergir, mas, neste caso concreto, embora nem toda a gente se aperceba disso, nem há uma contradição”, afirmou.

O Governo entregou esta semana no parlamento uma proposta de lei para que seja obrigatório quer o uso de máscara na via pública quer a utilização da aplicação StayAway Covid em contexto laboral, escolar, académico, bem como nas Forças Armadas, Forças de Segurança e na administração pública, tendo a obrigatoriedade da ‘app’ gerado uma onda de críticas.

Segundo o comunicado enviado este sábado às redacções, os eurodeputados do PSD questionaram a Comissão Europeia para saber se obrigar o uso da ‘app’ StayAway Covid “cumpre com o Regulamento Geral de Protecção de Dados e se a imposição de uma multa até 500 euros respeita o princípio da proporcionalidade, pilar do estado de direito”.

Precisamente o PSD entregou na sexta-feira um diploma no parlamento português que impõe a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços públicos, praticamente idêntico ao do Governo, retirando as referências à aplicação StayAway Covid e acrescentando um período de vigência.

Aquando do anúncio deste diploma do PSD, o líder social-democrata, Rui Rio, admitiu que possa vir a ser obrigatória a utilização desta ‘app’, desde que haja garantias da sua eficácia, que considerou não existirem na actual proposta do Governo.

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