quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Definitivo...

... o ódio de Teresa de Sousa contra Trump. Só me pergunto se, fora ele um Hitler dominador – caricato também, mas assustador – Teresa de Sousa expressaria com tanta coragem esse seu ódio. No fundo, e embora parecendo eu, talvez, também caricata, ao manifestar uma opinião puramente subjectiva, fico a pensar se Trump não tem alguma razão em desejar livrar-se de uma Europa dela sempre dependente para os casos graves da sua (dela, Europa), manutenção no espaço terráqueo. Para mais, será que as políticas mundiais de Trump são assim tão daninhas, quando, ao seu jeito tosco e até infantil, conseguiu fazer calar um perverso Kim Jong-un, além de demonstrar coragem na defesa de Israel e outros feitos, estranhos de ousadia política, demonstrando que é um homem corajoso, que não tem medo de arrostar contra o resto do mundo e até o vai protegendo, a este mundo, embora nele jogue com um jeito infantil de menino birrento, em nada politicamente correcto, mas talvez não tão cínico como os adeptos da correcção política. Não, se ele fosse um Hitler poderoso de maldade, Teresa de Sousa  não se assanharia assim tanto. Nem ninguém, de resto.

OPINIÃO CORONAVÍRUS

O que mais pode acontecer?

A um mês das eleições, se a incerteza já era gritante, será a partir de agora muito maior.

TERESA DE SOUSA

PÚBLICO, 4 de Outubro de 2020

1.-Não vale a pena tentar analisar a nova “surpresa de Outubro” das eleições presidenciais americanas da forma como olharíamos para as mesmas circunstâncias noutras quaisquer eleições de  que nos lembremos em democracia. Nada na América de Trump é comparável com um mínimo de normalidade. Por muitas razões, das quais o personagem é causa e é consequência. Que o Presidente americano esteja infectado nem chega a ser uma surpresa. A não ser, talvez, para o próprio. Praticou - e fez gala disso - todos os comportamentos de risco que a ciência recomendou que fossem evitados. Gozou com o “medo” de Biden, sempre de máscara no seu “bunker” do Delawere. Multiplicou, incluindo nos últimos dias, os encontros com centenas de pessoas sem qualquer precaução. Disse as maiores barbaridades sobre a pandemia, muitas delas revelando uma profunda ignorância, inimaginável em alguém que mora na Casa Branca. Ao nível de Bolsonaro ou de Duterte, só que num país que é suposto ser o mais desenvolvido do mundo, nomeadamente em matéria científica. Fez da Casa Branca – um lugar por definição superprotegido – um foco activo de covid-19. Se há irresponsabilidade, ela tem o rosto do Presidente americano.

Quando a América e o mundo ainda debatiam, incrédulos, o primeiro debate da campanha eleitoral entre Trump e Biden, na terça-feira passada, a notícia não deixou de ser um tremendo choque político. O Presidente dos Estados Unidos sofrer de uma doença que pode ser fatal equivale, para todos os efeitos, a uma tempestade política mundial. Não foi certamente por acaso que o Pentágono se declarou em stand by para garantir a segurança nacional. O reverso da medalha desta situação extrema é, no entanto, uma certa displicência que vai ao ponto de levar respeitáveis opinion makers a considerarem a probabilidade de a notícia nem sequer ser verdadeira, admitindo inicialmente que poderia ser apenas um pretexto para adiar eleições ou mais um argumento para não aceitar os resultados. É mais um sinal de que os tempos de Trump na Casa Branca não são tempos normais, que a América está mergulhada numa profundíssima crise sobre si própria e que o mundo desespera – ou, pelo contrário, espera, dependendo da geografia – diante da deriva errática e perigosa em que se encontra a potência hegemónica.

2. O que vai acontecer? Em circunstâncias normais, os analistas tenderiam a considerar que uma doença do Presidente-candidato poderia funcionar a seu favor, fazendo convergir sentimentos de solidariedade e de preocupação. Dificilmente será esse o caso. A polarização da sociedade americana atingiu um nível em que os dois campos opostos deixaram de se tocar, nada têm em comum, nem provavelmente partilham qualquer sentimento de comunidade, próprio das democracias nos seus piores momentos. Deixou de haver meio termo: ou se é por Trump ou contra Trump, com uma única terceira alternativa, já residual de acordo com as sondagens – não saber em quem acreditar, se na Fox News, se na CNN. É verdade que esta polarização não nasceu com este Presidente, mas este Presidente levou-a ao extremo. Começou bem lá atrás, com a transformação do Partido Republicano de força conservadora moderada e liberal (no sentido europeu do termo) num partido que se foi deixando dominar pela herança do Tea Party e da “alt-right”, pelo menos desde os tempos da candidatura de John McCain (2008), o último representante do velho GOP. Por mais relevantes que sejam as listas de nomes sonantes ligados a Reagan e aos dois Bush que tornaram público o seu apoio a Joe Biden, por mais activos que sejam os grupos de “republicanos por Biden”, não é essa hoje a base do partido nem a força que o faz mover nas eleições.

Como foi isto possível será matéria de estudo para académicos e analistas. Mas é a realidade com que o mundo democrático se vê obrigado a lidar. E é, porventura, o mais sério aviso às democracias liberais sobre os riscos que podem correr num mundo que, sem a liderança da grande democracia americana, caminha perigosamente para o caos.

Não é possível dizer com certeza o que vai acontecer, mesmo que as coisas não pareçam inclinar-se a favor do Presidente. O que é possível dizer é que, a um mês das eleições, se a incerteza já era gritante, será a partir de agora muito maior.

3. Joe Biden fez e continuará provavelmente a fazer uma campanha discreta, regular, sem falhas, mesmo que sem chama. Faltam-lhe as extraordinárias capacidades oratórias de Clinton e Obama, ainda que George W. Bush também não as tivesse, o que não o impediu de ser eleito duas vezes. Mas é um pragmático que soube unir os democratas, comunica facilmente com as pessoas comuns e conseguiu colocar a sua campanha no lugar certo, apelando ao eleitorado que presa a decência e a civilidade, para que ambas regressem à Casa Branca, independentemente das ideologias. Dirige-se às pessoas que têm razões sérias para se preocuparem com a pandemia e com os seus efeitos humanos, económicos e sociais devastadores; que percebem a revolta de uma parte da população que é sistematicamente discriminada em virtude da cor da pele, mesmo que rejeitem a violência de uma minoria; que não podem ficar insensíveis à brutalidade de um presidente que consegue dirigir-se a um grupo violento e arruaceiro de “supremacistas brancos”, incitando-os a “stand back and stand by”. Ou que afirma, com uma clareza arrepiante, que não aceitará qualquer resultado das eleições – por outras palavras, que só aceitará um único resultado: a sua vitória. Que não paga impostos, embora garanta que paga “milhões”, mas que teima em não mostrar a sua declaração de rendimentos. Que não respeita os adversários, nem as regras, nem o mínimo de humanidade. Um dos momentos mais dramáticos do debate presidencial da semana passada foi quando Trump resolveu gozar com a morte prematura de um dos filhos de Biden ou falou dos problemas de droga de outro.

A decência também se mede em pequenas coisas. A campanha de Biden mandou retirar toda a propaganda negativa sobre o adversário. O mesmo não aconteceu em sentido inverso. Enquanto, na Califórnia, Obama e Harris pediam uma oração pela saúde do Presidente, a campanha do próprio divulgava um mail de recolha de fundos em que se lia “Obama, o mentiroso, e Kamala, a hipócrita, estão a apelar aos megadoadores liberais para que venham resgatar a campanha falhada de Joe Biden”. Obama continua a ser o maior pesadelo de Trump, cuja presidência teve como razão de ser principal desfazer o seu legado.

4. 2020 é um ano a todos os títulos excepcional da vida da América. Começou ainda decorria o processo de impeachment ao Presidente, continuou com uma pandemia que a humanidade não conhecia há um século, com efeitos económicos só comparáveis aos da Grande Depressão, assistiu às mais impressionantes manifestações contra o racismo desde as que marcaram a década de 1960, prosseguiu com o falecimento de uma juíza do Supremo Tribunal, Ruth Bader Ginsburg, abrindo uma violenta guerra política pela sua substituição, assistiu há menos de uma semana ao “mais degradante” dos debates presidenciais de que há memória, continua com a contaminação do próprio Trump a apenas um mês das eleições, pondo a Casa Branca em quarentena. Há momentos da história que são assim: tudo parece alinhar-se para que corram mal. E o que é mais assustador é que podemos não ter ainda visto tudo.

“Rezemos por ele e por nós”, escreve Max Boot no Washington Post. Ou então, rezemos para que Donald Trump melhore e perca as eleições por uma margem absolutamente indiscutível.

tp.ocilbup@asuos.ed.aseret

OPINIÃO

DONALD TRUMP  AMÉRICA  EUA  PARTIDO REPUBLICANO  ELEIÇÕES EUA 2020  PARTIDO DEMOCRATA

COMENTÁRIO:

DemocrataXXI EXPERIENTE: Por entre Freud e o documentário da netflix " The social dilema", está para mim mais claro, o absurdo e terrível do momento que vivemos 04.10.2020

 

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