... o ódio de Teresa de Sousa contra Trump. Só me
pergunto se, fora ele um Hitler dominador –
caricato também, mas assustador – Teresa
de Sousa expressaria com tanta coragem esse seu ódio. No fundo, e embora
parecendo eu, talvez, também caricata, ao manifestar uma opinião puramente
subjectiva, fico a pensar se Trump não tem
alguma razão em desejar livrar-se de uma Europa dela sempre dependente para os
casos graves da sua (dela, Europa), manutenção no espaço terráqueo. Para mais,
será que as políticas mundiais de Trump
são
assim tão daninhas, quando, ao seu jeito tosco e até infantil, conseguiu fazer
calar um perverso Kim Jong-un, além de
demonstrar coragem na defesa de Israel e outros feitos, estranhos de ousadia
política, demonstrando que é um homem corajoso, que não tem medo de arrostar
contra o resto do mundo e até o vai protegendo, a este mundo, embora nele jogue
com um jeito infantil de menino birrento, em nada politicamente correcto, mas
talvez não tão cínico como os adeptos da correcção política. Não, se ele fosse
um Hitler poderoso de maldade, Teresa de Sousa não se assanharia assim tanto.
Nem ninguém, de resto.
OPINIÃO CORONAVÍRUS
O que mais pode acontecer?
A um mês das eleições, se a incerteza já era gritante,
será a partir de agora muito maior.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 4 de Outubro de 2020
1.-Não
vale a pena tentar analisar a nova “surpresa de
Outubro” das eleições presidenciais americanas da forma como
olharíamos para as mesmas circunstâncias noutras quaisquer eleições de que nos lembremos em democracia. Nada na
América de Trump é comparável com um mínimo de normalidade. Por muitas razões,
das quais o personagem é causa e é consequência. Que o Presidente americano
esteja infectado nem chega a ser uma surpresa. A não ser, talvez, para o
próprio. Praticou - e fez gala disso - todos os comportamentos de risco que a ciência
recomendou que fossem evitados. Gozou com o “medo” de Biden, sempre
de máscara no seu “bunker” do Delawere. Multiplicou, incluindo nos últimos
dias, os encontros com centenas de pessoas sem qualquer precaução. Disse as
maiores barbaridades sobre a pandemia, muitas delas revelando uma profunda
ignorância, inimaginável em alguém que mora na Casa Branca. Ao nível de
Bolsonaro ou de Duterte, só que num país que é suposto ser o mais desenvolvido
do mundo, nomeadamente em matéria científica. Fez da Casa Branca – um lugar por
definição superprotegido – um foco activo de covid-19. Se há
irresponsabilidade, ela tem o rosto do Presidente americano.
Quando
a América e o mundo ainda debatiam, incrédulos, o primeiro
debate da campanha eleitoral entre Trump e Biden, na terça-feira
passada, a notícia não deixou de ser um tremendo choque político. O
Presidente dos Estados Unidos sofrer de uma doença que pode ser fatal equivale,
para todos os efeitos, a uma tempestade política mundial. Não foi certamente
por acaso que o Pentágono se declarou em stand by para garantir a segurança
nacional. O reverso da medalha desta situação extrema é, no entanto, uma certa
displicência que vai ao ponto de levar respeitáveis opinion makers a
considerarem a probabilidade de a notícia nem sequer ser verdadeira, admitindo
inicialmente que poderia ser apenas um pretexto para adiar eleições ou mais um argumento para não aceitar os resultados. É mais um sinal de que os tempos de Trump na Casa
Branca não são tempos normais, que a América está mergulhada numa profundíssima
crise sobre si própria e que o mundo desespera – ou, pelo contrário, espera,
dependendo da geografia – diante da deriva errática e perigosa em que se
encontra a potência hegemónica.
2. O
que vai acontecer? Em circunstâncias normais, os analistas tenderiam a
considerar que uma doença do Presidente-candidato poderia funcionar a seu
favor, fazendo convergir sentimentos de solidariedade e de preocupação. Dificilmente
será esse o caso. A polarização da sociedade americana atingiu um nível em
que os dois campos opostos deixaram de se tocar, nada têm em comum, nem
provavelmente partilham qualquer sentimento de comunidade, próprio das
democracias nos seus piores momentos. Deixou de haver meio termo: ou se
é por Trump ou contra Trump, com uma única terceira alternativa, já
residual de acordo com as sondagens – não saber em quem acreditar, se na Fox
News, se na CNN. É verdade que esta polarização não nasceu com este
Presidente, mas este Presidente levou-a ao extremo. Começou bem lá atrás, com a
transformação do Partido Republicano de força conservadora moderada e liberal
(no sentido europeu do termo) num partido que se foi deixando dominar pela
herança do Tea Party e da “alt-right”, pelo menos desde os tempos da
candidatura de John McCain (2008), o último representante do velho GOP. Por mais relevantes que sejam as listas de nomes sonantes ligados a Reagan
e aos dois Bush que tornaram público o seu apoio a Joe Biden, por mais activos que sejam os grupos de “republicanos
por Biden”, não é
essa hoje a base do partido nem a força que o faz mover nas eleições.
Como
foi isto possível será matéria de estudo para académicos e analistas. Mas é a
realidade com que o mundo democrático se vê obrigado a lidar. E é,
porventura, o mais sério aviso às democracias liberais sobre os riscos que
podem correr num mundo que, sem a liderança da grande democracia americana,
caminha perigosamente para o caos.
Não
é possível dizer com certeza o que vai acontecer, mesmo que as coisas não
pareçam inclinar-se a favor do Presidente. O que é possível dizer
é que, a um mês das eleições, se a incerteza já era gritante, será a partir de
agora muito maior.
3. Joe
Biden fez e continuará provavelmente a
fazer uma campanha discreta, regular, sem falhas, mesmo que sem chama.
Faltam-lhe as extraordinárias capacidades oratórias de Clinton e Obama, ainda
que George W. Bush também
não as tivesse, o que não o impediu de ser eleito duas vezes. Mas é um pragmático que soube unir os democratas,
comunica facilmente com as pessoas comuns e conseguiu colocar a sua campanha no
lugar certo, apelando ao eleitorado que presa a decência e a civilidade, para
que ambas regressem à Casa Branca, independentemente das ideologias. Dirige-se
às pessoas que têm razões sérias para se preocuparem com a pandemia e com os
seus efeitos humanos, económicos e sociais devastadores; que percebem a revolta
de uma parte da população que é sistematicamente discriminada em virtude da cor
da pele, mesmo que rejeitem a violência de uma minoria; que não podem ficar
insensíveis à brutalidade de um presidente que consegue dirigir-se a um grupo
violento e arruaceiro de “supremacistas brancos”, incitando-os a “stand back
and stand by”. Ou que afirma, com uma clareza arrepiante, que não aceitará qualquer
resultado das eleições – por outras palavras, que só aceitará um único resultado:
a sua vitória. Que não paga impostos, embora garanta que paga
“milhões”, mas que teima em não mostrar a sua declaração de rendimentos. Que
não respeita os adversários, nem as regras, nem o mínimo de humanidade. Um dos
momentos mais dramáticos do debate presidencial da semana passada foi quando
Trump resolveu gozar com a morte prematura de um dos filhos de Biden ou falou
dos problemas de droga de outro.
A
decência também se mede em pequenas coisas. A campanha de Biden mandou retirar
toda a propaganda negativa sobre o adversário. O mesmo não aconteceu em sentido
inverso. Enquanto, na Califórnia, Obama e Harris pediam uma oração pela saúde
do Presidente, a campanha do próprio divulgava um mail de recolha de fundos em
que se lia “Obama, o mentiroso, e Kamala, a hipócrita, estão a apelar aos
megadoadores liberais para que venham resgatar a campanha falhada de Joe
Biden”. Obama continua a ser o maior pesadelo de Trump, cuja presidência
teve como razão de ser principal desfazer o seu legado.
4. 2020
é um ano a todos os títulos excepcional da vida da América. Começou ainda decorria o processo de impeachment ao
Presidente, continuou com uma pandemia que a humanidade não conhecia há um
século, com efeitos económicos só comparáveis aos da Grande Depressão, assistiu
às mais impressionantes manifestações contra o racismo desde as que marcaram a
década de 1960, prosseguiu com o falecimento de uma juíza do Supremo Tribunal,
Ruth Bader Ginsburg, abrindo uma violenta guerra política pela sua
substituição, assistiu há menos de uma semana ao “mais degradante” dos debates
presidenciais de que há memória, continua com a contaminação do próprio Trump a
apenas um mês das eleições, pondo a Casa Branca em quarentena. Há momentos da
história que são assim: tudo parece alinhar-se para que corram mal. E o que é
mais assustador é que podemos não ter ainda visto tudo.
“Rezemos
por ele e por nós”, escreve Max Boot no Washington Post. Ou então, rezemos para
que Donald Trump melhore e perca as eleições por uma margem absolutamente indiscutível.
DONALD TRUMP AMÉRICA EUA PARTIDO REPUBLICANO ELEIÇÕES EUA 2020 PARTIDO DEMOCRATA
COMENTÁRIO:
DemocrataXXI EXPERIENTE: Por entre Freud e o
documentário da netflix " The social dilema", está para mim mais
claro, o absurdo e terrível do momento que vivemos 04.10.2020
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