A mim parece-me uma polémica de trazer por casa, como
as muitas nossas.
Um texto altivo e relevante de José Pacheco Pereira, que dá prazer ler e nos eleva o moral de pessoas
rebeldes a uma imposição – mais uma – porém esta, abusiva da nossa privacidade,
além de apreciadores de belas escritas, como a dele, PP. E assim resvalamos de uma máscara
obediente, não sei se indispensável, para uma app ainda mais abusiva, embora muitos expliquem que é para nosso
bem e que o 1º ministro, evidentemente, só quer safar o seu povo, seu dele,
apreciador da Vila morena, como somos quase todos, e julgo que JPP também é, ou foi. Mas neste caso da app,
ele bate o pé, como pede o Max. E já que o PM não faz cerimónia connosco, sempre a
sorrir, até mesmo por detrás da máscara, nós sorrimos também, rasgadamente, pois
cuido que a maioria de nós ama quem por nós zela, e o Pacheco Pereira até o ama há mais tempo, pois ajudou a metê-lo no governo, mais aos seus
compinchas da esquerda viril da nossa geringonça bem nutrida.
OPINIÃO
A voo de pássaro
Nunca, jamais, em tempo algum usarei a
dita aplicação, nem que isso signifique ter de deixar de andar de telemóvel.
JOSÉ PACHECO
PEREIRA
PÚBLICO, 7 de
Outubro de 2020
"Uma
sociedade que troca um pouco de liberdade por um pouco de ordem acabará por
perder ambas, e não merece qualquer delas" Thomas Jefferson a Madison
Numa
altura em que não há verdadeira crítica mas muita intriga, ou seja, falsa
crítica pelas costas e para as costas, num país pequeno, onde toda a gente
depende de toda a gente, ou, como eu costumo dizer, “somos todos primos uns dos
outros, a fome é muita e os bens são escassos, por isso a democracia é difícil” (perdoe-se a extensa citação mas a frase saiu bem), vale
a pena voltar a Camilo, e aos seus textos polémicos, para respirar melhor.
E como hoje vou fazer um daqueles artigos que se escrevem quando não apetece
nenhum dos temas correntes, vou acantonar-me na velha expressão francesa de à vol
d’oiseau e andar por
cima das coisas e supostamente a direito. E que Camilo me guie para que o vol
d’oiseau não se torne no voo de pássara.
Começo
na pássara. Leiam o texto magnífico e corrosivo, machista até ao limite, que
Camilo escreveu, num tom muito moderno usando a imaginação poliglota das
palavras, para castigar um livro mau, escrito pela Princesa Ratazzi sobre Portugal “de relance”, como foi traduzido o à
vol d’oiseau. Como hoje não há livros maus, porque ninguém diz que eles são
maus para não irritar as múltiplas pequenas cortes culturais que dominam o que
sobra dos suplementos “culturais” e os vários grupos de pressão associados,
fico-me pela sombra do pássaro sobre a pássara.
Que
vejo eu no meu voo? O tema que estava predestinado para este artigo era a
intenção governamental de nos obrigar a ter por força de lei a aplicação
StayAway Covid no telemóvel. Mas como várias pessoas disseram
tudo sobre o carácter
inconstitucional e violador de direitos que tal obrigação
representa, não vale a pena acrescentar mais nada. Tudo estava e está mal
feito nessa intenção, de tal maneira que sou capaz de enumerar dezenas de
perguntas sobre tal obrigatoriedade cuja resposta é muito complicada de dar, ou
mesmo impossível. A proposta também foi feita de “relance”. Acrescento que esta evidente falta de
bom senso revela como no Governo prevalece uma forma pervertida de tecnocracia,
que acha que tudo se pode resolver com aplicações de telemóvel, sem a mínima
preocupação com direitos, liberdades e garantias, que acham que são do mundo
pré-Internet.
Afirmo
por isso que nunca, jamais, em tempo algum, usarei a dita aplicação, nem que
isso signifique ter de deixar de andar de telemóvel. De
facto, a pior ameaça nos dias de hoje aos direitos individuais e à privacidade
vem de devices e aplicações que usam o actual instrumento de controlo mais
eficaz, o telemóvel, até porque está colado ao nosso corpo. Como o relógio de bolso ou de pulso nos impôs
o tempo industrial, o telemóvel inseriu-nos na rede de controlos que usam a
Rede, uma forma moderna do mundo kafkiano do Processo, onde K. caminha até à
morte sem nunca ter acesso a saber o que se passa com ele, quem o acusa, quem o
julga, quem o condena.
Ele
não teve o poder do voo de pássaro, hoje o verdadeiro poder dos poderosos,
perdoe-se o excesso, que é não o de estar na “rede”, que é o destino dos que
não têm poder, mas o de a poder ver de cima, qual o sentido e direcção das
diferentes teias e, mais do que isso, poder tecê-las com algoritmos numa ou
noutra direcção.
Sabem
quem ganha com isto? Quem sabe o que “isto” é: as grandes empresas de
tecnologia e os serviços de informação
A StayAway Covid controla-nos de forma cómoda, barata
e eficaz, por isso os governos preferem este tipo de mecanismos a
gastar mais dinheiro na saúde pública, e aproveitam-se dos preguiçosos, que
somos quase todos nós, que não se importam de trocar a sua privacidade por um
falso sentimento de segurança. Aliás,
é o que fazem já todos os dias, aceitando aplicações aparentemente grátis em
troca de serviços, numa cultura crescente de promiscuidade na rede, que vai do
bullying nas escolas com fotografias às fake news. Sabem quem ganha com
isto? Quem sabe o que “isto” é: as grandes empresas de tecnologia e os serviços
de informação.
Chegados
aqui, estamos no mesmo sítio. Pássaro, pássaro, levanta-te! Mostra-me o mundo
lá de cima! Pois sim! O objectivo do voo era escapar do StayAway Covid e não é
que o malvado pássaro nos ensina que não voa quem quer, mas quem pode, e me
deixou a falar do mesmo que eu não queria falar. Em 700 palavras, só se pode voar como a
pássara Ratazzi, baixinho. Acho, mesmo assim, que a vou enviar para aconselhar
os nossos governantes a pensarem duas vezes antes de nos colocarem um chip como
aos cães.
Historiador
TÓPICOS
GOVERNO
COVID-19 APPS PRIVACIDADE INTERNET APLICAÇÃO MÓVEL CORONAVÍRUS
COMENTÁRIOS:
Maria Odete Vilas Coutinho MODERADOR: O que é extra-divertido é observar o afã com que a
dita cuja app foi descarregada, e é agora discutida, sem que uma percentagem
mínima de alminhas questione a miséria da base de registos que a sustenta: só
vislumbrei dois ou três reparos que se referem ao mínimo dos registos, à falta
de normalização no fornecimento dos códigos pelos médicos, etc., etc.
Mete-se a aplicação, que é o que manda o PM, e é o que está a dar, e depois logo
se verá se serve para alguma coisa!! Valha-nos a Santa, e esperemos que ela
não exija também uma app!
Arpi INICIANTE: JPP não perdeu o emprego. Confessou há pouco que pode
pagar cuidados privados. Defende o individual, borrifando-se contra o geral, o
colectivo. Ignora que os direitos individuais são conflituantes entre si. Passou-se.
É pena. 17.10.2020
viana EXPERIENTE: Vejo por aqui comentários de gente que não percebeu
patavina da razão de tanta indignação. Não sabem por acaso que já houve 2
milhões de descarregamentos da aplicação? O que é que isto diz sobre o modo como
a maioria dos portugueses vê a aplicação? E no entanto, houve muito mais
indignação do que apoio à proposta do governo, incluindo de muitos que têm, ou
tinham, instalado a aplicação. Lessem mais, percebessem o que JPP quer dizer
com "sou capaz de enumerar dezenas de perguntas sobre tal obrigatoriedade
cuja resposta é muito complicada de dar, ou mesmo impossível", e
compreenderiam que o problema principal é a o-b-r-i-g-a-t-o-r-i-e-d-a-d-e e a
f-i-s-c-a-l-i-z-a-ç-ã-o da medida. Percebem? Percebem o problema de dar poderes
à polícia para exigir fiscalizar o telemóvel de quem for? joorge EXPERIENTE: Tweeter, Facebook, etc. Espiam-nos, cobram-nos e não
pagam impostos. Espero que Pacheco Pereira não tenha redes sociais. Se tiver,
este texto é balela pura. fernando ferreira franco EXPERIENTE: As gerações presentes parecem sobreviver à angústia de
não se saber para onde vamos, através da semântica. "Democracia"; na impossibilidade de
alguma vez existir, vamos sugerindo-nos essa possibilidade por meio de um
eufemismo e assim suportamos tudo e todos os valores em contrário. "Tecnologia";
inovando para melhor nos servirmos do carácter gratuito do que a natureza nos
dá, deixamo-nos iludir prontamente com o desleixo de ela nos apagar o
instinto e o saber fazer, milénios de aprendizagem deitados borda fora por algo
tão primário como um algoritmo. "Saúde"; com a medicina
moderna quase nos damos conta de que o normal é estar doente, pois ir
ao médico por precaução, por tudo e por nada, é uma patologia moderna que nos
despega da vida e nos faz esquecer o essencial... Viver é outra coisa. Antonio Silva INICIANTE: Reduza a sua exposição colocando o Tm em modo voo. De
quando em vez, ligue para receber correio e SMS. Isto só serve para quem não
entra em redes sociais. Estes estão permanentemente controlados e influenciados. JPR_Kapa EXPERIENTE: Acompanho, no sentido geral, a "moral" da história
que nos traz JPP. Mas o ataque à privacidade que vêem nesta aplicação Stayaway
covid (que já descarreguei porque também decidi comprar um telemóvel que o
permitisse), está longe de o ser (ver Jornal 2_RTP2 ontem) da forma tão fácil
como alguns dizem. O que me deixa perplexo é que está longe de ser tão
intrusiva como as que hoje proliferam sob a designação de "redes
sociais" ... e aí já ninguém se importa. Toda esta algazarra mostra
também que entre a discussão séria que o assunto exige, a maior parte é
feita de ruído hipócrita e saloio, só porque foi promovida pelo governo (a
concepção é portuguesa, vinda do núcleo de excelência da nossa universidade -
INESC). A estratégia adoptada na Coreia do Sul usa uma aplicação destas obrigatória. Jonas Almeida MODERADOR: Concordo! Afinal esta modalidade do contact tracing
por chaves anónimas expostas pelo bluetooth e re-emitidas periodicamente, tem
como objectivo precisamente proteger a anonimidade de que é infectado e o quer
comunicar para inibir uma cadeia de transmissão da doença. A alternativa
convencional é muito mais intrusiva: é ter os positivos entrevistados para
revelarem a identidade daqueles com quem estão em contacto. Eu acho que JPP
devia ter reservado o (mais elegante no original) "those o trade Liberty
for safety deserve neither" para outras coisas. Colete Amarelo EXPERIENTE: O perigo de se utilizar o telemóvel quando se trata
que este ajude a combater um perigo que se revela maior, se não me engano.
Espero que este senhor nunca nos venha com um artigo sobre como as novas
tecnologias nos são benéficas! Mário Aveiro EXPERIENTE: Esta aplicação bacoca salva algumas vidas, sim: as
vidas dos espertalhões que a impingiram ao Governo a troco do dinheiro dos
contribuintes. Fernando Paz EXPERIENTE: Não diga asneiras, não fale do que não sabe. Esta
aplicação foi desenvolvida por uma equipa competente, dedicada e honesta, sem
qualquer intenção comercial. Não irão ver um cêntimo independentemente de ser
utilizada ou não. Pode não acreditar, mas ainda existe gente que sinceramente
se interessa por contribuir para o bem comum. Mário Aveiro EXPERIENTE Deve estar a gozar... A aplicação é completamente
inútil. Completamente. E custou dinheiro. Quem pagou? cidadania 123 INICIANTE: Actualmente não consegue fazer um teste covid sem
disponibilizar o seu número de telemóvel. Saber quem são e onde andam os
positivos parece-me importante e de bom senso, para protecção de todos. Creio
que o seu problema foi ter sido uma aplicação patrocinada pelo governo, pois
certamente que o seu telemóvel tem instaladas outras bem mais
intrusivas... A2 INICIANTE: Não
devia usar telemóvel se pensa assim. O que está em causa não é "um pouco
de ordem", são vidas humanas. Alberto Ferreira.883621 INICIANTE: Outro!... Nunca se viram tantas almas rebeldes e
libertárias neste jardim à beira mar plantado... Agora usam a pandémica para
fazer psicanálise e melhorar a autoestima...
Jose INFLUENTE: A
comunicação de António Costa visou um reforço da atenção dos portugueses às
três regras de convivência com o SARS-CoV-2: Máscara, álcool gel,
distanciamento físico. A mensagem esperava a desinformação, a contra-informação
e o ruído. Contava com tudo a somar à comunicação governamental. A APP foi o
isco que os opinadores e também os políticos, morderam para ajudarem António
Costa a provocar um choque que alterasse o comportamento desleixado dos
portugueses, em matéria de protecção do vírus, após as férias. Esquecendo a APP
que todos, incluindo Costa, sabem irrelevante, a comunicação de Costa foi um
retumbante êxito para o objectivo a que se propunha. Os detractores de Costa
ajudaram-no a construir a percepção da gravidade da contaminação e da necessidade
da reposição das três armas anti-covid. FPS INFLUENTE: Leio sempre
com particular atenção os seus comentários, e se nem sempre com eles concordo
sinto neles o carácter e a modéstia de quem verdadeiramente é culto e
inteligente. Comentários que me ajudam a melhor pensar e ver a realidade. Não
sei se no que fica acima escrito o meu caro Jose tem ou não razão, muita ou
pouca que seja... mas a mim é o que me parece, que penso o assunto desse modo
que vc descreve. Há ditados populares e bocas de líderes em vários sectores, a
sancionarem o método que foi adoptado, um método vastamente experimentado nos
trambolhões que a História tem dado. Um método, como se vê, de grande eficácia
que as três armas estão aí em força outra vez. Jose Luis Malaquias EXPERIENTE: Agora é que JPP se vai meter em sarilhos com as
feministas, a elogiar o texto mais machista de CCB
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