Foi o que me sugeriu este trecho de Miguel Esteves Cardoso, que trata
de um vendaval diferente, (embora também destruidor, contado, todavia, em tom
prazenteiro e sadio) daqueles a que temos sido sujeitos ultimamente, num mundo
tenebroso de picardia, que nos quer tirar a esperança no futuro da nossa Terra
e dos que amamos e nos irão suceder. Por isso lhe peguei, um texto alegremente agarotado,
na simplicidade e isenção habituais das suas opções temáticas. Um descritivo
sóbrio mas vivo, do que deve ter sido bem assustador e incómodo, mas que,
afinal, nos divertiu.
Acabei de ver uma série de fotos enviadas
por João Sena, por email, com o título
“Otoño en Argentina”, de um esplendor paisagístico impressionante, que
serve de corolário pinturesco ao texto de MEC.
O Outono roubado
O Outono tinha a obrigação de ser uma estação com
identidade própria mas pronto, se este ano não lhe deu para aí, ao menos que
sirva de buffer zone entre o Verão e o Inverno.
MIGUEL ESTEVES
CARDOSO
PÚBLICO, 20 de
Outubro de 2020
É
noite. Ouve-se um estrondo. Foi arrombada uma janela. É um intruso. Bate com a
porta. Com toda a força. É malcriado. Parece que está em casa dele. Morremos de
medo. Fugimos lá para cima. O barulho da chuva é como se chovesse cá dentro.
Entramos no quarto. Chove lá dentro.
Foi
a ventania. A janela escancarada parece encolher os ombros. Não pôde fazer
nada. A casa é velha, construída num tempo em que as janelas eram só para os
peneirentos. Foi a ventania que varreu a casa, batendo com as portas, a ver se
nos entalava algum membro.
O
que é que se passa? Estamos no Inverno ou quê? Ainda não passou um mês de
Outono e já o IPMA está a puxar dos cartões vermelhos, furioso com o tempo.
Será que é cedo para invocar o Verão de S. Martinho? Ponha, por favor, os
cornos a Novembro e venha já.
O
Outono tinha a obrigação de ser uma estação com identidade própria mas pronto,
se este ano não lhe deu para aí, ao menos que sirva de buffer zone entre o
Verão e o Inverno.
Estes
vendavais não estão - como agora se diz - com nada. De onde vem isto do “não
estar com nada"? Não será “não vão” ou “não se dão” com nada? Por
causa destes vendavais e de outros que não há maneira de saírem das bocas do
mundo o Verão de 2020 já parece o de 1942, com música do Michel Legrand e tudo.
Não
gosto de Verões em que não sei que um banho de mar vai ser o último do ano.
Qual foi? Nunca hei-de saber. Ainda não estava preparado para a escuridão.
Ainda não estava apetrechado para o frio. Ainda não tenho fome às seis e meia
da tarde.
Atrasem
o mês!
TÓPICOS
METEOROLOGIA OPINIÃO CHUVA IPMA CLIMA OUTONO INVERNO
COMENTÁRIOS
DCM EXPERIENTE: Calma Miguel
,depois da tempestade vem a bonança que lhe permitirá substituir as janelas . Armando Heleno EXPERIENTE: E eu que adoro o
Outono. Aquela melancolia e serenidade são um encanto. E então se for no
Alentejo? Ó amigos, quase desarvoro. Para já, acertei na escolha, apesar de
Portugal estar na moda. Carlos Casimiro da Costa INICIANTE: Obrigado por
voltares ... porque todo o jornal está a cheirar Um bocadinho a mofo... Abraço Fugo EXPERIENTE: A relatividade
das coisas. Eu então anseio porque o mês de Outubro passe e chegue rapidamente
o 13 de Novembro para ir, finalmente, de férias. Só espero que as possa gozar
minimamente, sem ser demasiado manietado pela bicheza. E gosto muito deste
tempo; o vento, a chuva, o nevoeiro, o fresco, os cheiros. Fugo EXPERIENTE: As folhas
caducas, o chão cheio delas, as castanhas assadas. estas este ano estão
belíssimas. Choveu, abriram, e além disso estão a exportar menos. O melhor fica
em casa. Aproveitemos.
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