… na fábula, por a lebre se ter deixado
adormecer. Não vai acontecer por cá, Manuel
Carvalho escusa de se preocupar.
O que nos parece a nós, cá por casa – na
minha, pelo menos – é que Rio vive refastelado,
à sombra da sua bananeira, com o olho semiaberto sobre os procedimentos dos
seus confrades apáticos, mas sobretudo sobre os dos partidos que governam e
onde não joga, mas a que se aferra, esperando a vez e a migalha. Simplesmente,
a lebre não é dessas estouvadas, como a da fábula, e está sempre atenta aos
movimentos alheios, na sua corrida de vencedora, num terreno propício, de
apoiantes cegos, surdos e mudos, num país há muito a saque.
Em dois saltos, a lebre atinge a meta. O
sono dela foi de ficção apenas, para espreitar o ambiente e desferir na ponta
final, feitos os cálculos.
EDITORIAL
O
PSD e a fábula da lebre e da tartaruga
Desiludam-se por isso os que vêem na
atitude de Rio e do PSD uma inaptidão para cavalgar os tempos de instabilidade
e as crescentes fragilidades do Governo. Se há algo que ele provou, é que não
pode ser subestimado nas suas capacidades de ler a política a prazo
PÚBLICO, 17 de
Outubro de 2020
A
menos de um ano depois das últimas legislativas, o sistema político e
partidário está tão frenético que até parece que vamos ser chamados a votos
para eleger um novo Governo no prazo de semanas. Todo o
país político? Não, há uma ilha de paz e sossego onde nada disto parece
acontecer: é o PSD de Rui Rio. Conhece-se a
proposta do Orçamento? Sim, mas para já não é momento de se anunciar
o sentido de voto. Há uma votação sobre o referendo à eutanásia à porta? Sim,
mas o PSD dirá só na véspera como vai votar. Há uma proposta de lei polémica
que propõe, em casos determinados, a instalação
obrigatória da aplicação StayAway Covid? Pois, mas o PSD diz apenas
que defende quatro meses de uso obrigatório de máscaras. Há ruído e protesto
com a substituição do presidente do Tribunal de Contas? Sim, há, mas o PSD não
o alimenta e entra no jogo do Governo pronunciando-se sobre a figura que lhe
vai suceder.
Há um lado bom nesta atitude que leva
o PSD a assobiar para o lado, a acatar sobras do poder em negociações como a das presidências das CCDR, a abdicar do
maior palco para confrontar o Governo que eram os debates semanais, a assumir o
“nim” como pose de Estado, a deixar que terceiros assumam as vantagens e os
ónus de um debate exaltado: o de temperar o clima político. Num tempo de gatos assanhados, o PSD de Rui Rio
faz de Garfield. A opção pela subalternidade não tem
mostrado grandes ganhos nas sondagens, não acabou com o tumulto
interno, não tem permitido a Rui Rio afirmar-se como dono de uma proposta
política alternativa. Mas também tem evitado que se desgaste.
E isto acontece não por falta de
jeito ou por incompetência. Pelo
contrário: Rui Rio
é conhecido pela sua frieza e por uma proverbial capacidade de jogar no tempo
longo. Ele sabe
que o Governo de António Costa
está a ser desgastado pela mais terrível crise que o país enfrenta em muitas
décadas. E,
acredita, manter-se discreto, colaborante e indiferente à guerrilha política
que sobe de tom é a melhor forma de esperar que o poder lhe caia nas mãos.
Desiludam-se, por isso, os que vêem na atitude de Rio e do PSD uma inaptidão
para cavalgar os tempos de instabilidade e as crescentes fragilidades do
Governo. Se há
algo que ele provou, é que não pode ser subestimado nas suas capacidades de ler
a política a prazo. Na fábula da corrida entre a lebre e a tartaruga,
ele será sempre uma tartaruga.
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