domingo, 11 de outubro de 2020

Páginas da nossa história social


E política, naturalmente. Da parte de Alberto Gonçalves, que se arrisca, bem como de muitos dos seus comentadores, igualmente lúcidos, neste beco sem saída que é o nosso beco.

No reino dos socialistas: a ditadura é isto /premium

Estamos no ponto em que a Constituição, outrora sagrada, se transformou no bloco de notas do dr. Costa. Apetites de prepotência o PS sempre teve. Nunca teve tamanho à-vontade para consumá-los.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 10 out 2020

Na quinta-feira, enquanto conduzia, ouvi pela primeira vez em décadas o “Fórum TSF”. Naturalmente, dado que o PS terminara de estabelecer uma rede de poder sem precedentes em democracia, o tema em “debate” era a “A pandemia e os desafios da mobilidade sustentável”. Podia ter sido “A pandemia e as inovações na tarologia contemporânea” ou “A pandemia e a aposta nos toalhetes de bebé”, mas era a “mobilidade sustentável”. Curiosamente, e decerto ao contrário do que pretendia a rádio em questão, o programa demonstrou com notável rigor o estado a que chegamos, e do qual não há grandes hipóteses de sairmos.

Apanhei o “Fórum” a tempo de ouvir um professor universitário agradecer à Covid a “oportunidade” de “repensarmos” os nossos hábitos (como a personagem de Belém sugeriu que se repensasse o Natal). O homem estava entusiasmadíssimo com o “novo normal” (palavras dele), leia-se a possibilidade de se trabalhar em casa, e largar o automóvel e o avião, e usar transportes públicos. E bicicletas. E trotinetas. E carros de boi, talvez. O homem queria deixar claro que não se pode voltar atrás. O homem queria leis. O homem queria decretar ali mesmo a inauguração de uma usar realidade sem retorno. O homem carecia de vigilância médica.

Depois do professor universitário, o “Fórum” abriu-se a uma procissão de fanáticos similares. Alguns exigiam abolir os carros não eléctricos. Um, em particular, exigia a proibição dos carros em geral, eléctricos incluídos. Outro exigia um tabuleiro pedonal na ponte sobre o Tejo (com contas feitas: 30 milhões de euros, salvo o erro). Um arquitecto lamentava a maior procura de cursos de engenharia, atendendo a que, cito, “a arquitectura é vida”. E uns tantos apresentaram as suas “start ups”, em busca de subsídios a fundo inevitavelmente perdido. Fatal e finalmente, surgiram vereadores a publicitar as fantásticas “respostas” da “autarquia” no “âmbito” da “mobilidade suave”.

Malucos. Oportunistas. Demagogos. Crianças crescidas. Engenheiros sociais. Zombies anestesiados com convicções grotescas. Candidatos a tiranos. Tipos porreiros que combinam almoçaradas e em suma procuram safar-se na vida. Escutei todos com uma impressão entre o fascínio e a tristeza. E senti, não me perguntem porquê, que já não corremos risco de entrar em ditadura: a ditadura é isto. Quando, para uma vasta maioria da população, a opressão se parece com um modo de vida e não com o inimigo, as ilusões de liberdade não resistem. Havia uma neblina que fazia ainda mais melancólica a paisagem da A1. Os participantes do programa reclamavam ou aplaudiam “investimentos” públicos. “Medidas”. Planos. Imposições. Ultrapassei um automóvel cujo único ocupante envergava máscara, suspeito que com orgulho. Hora e meia de “Fórum” resumiu o país, um lugar periférico onde desnorteados agitam delírios inconsequentes. Onde pantomineiros tentam enganar pasmados iguais a eles. Os cartazes na berma da estrada imploravam: “Anuncie aqui”. É muito fácil subjugar uma sociedade assim.

Sob a limitada figura do dr. Costa, um indivíduo semi-alfabetizado, o PS subjugou Portugal com uma leveza espantosa para quem não conhece os portugueses. Após devorar a procuradoria-geral da República, a presidência da República, o Banco de Portugal, as câmaras, as direcções-gerais, o parlamento, a oposição (desculpem), a quase totalidade dos “media”, a banca, as associações “empresariais”, os contratos estatais, os dinheiros da “Europa”, os salários, o direito de propriedade, a saúde, a privacidade e tudo o que se mexe, não foi a recente tomada do Tribunal de Contas que decidiu o final da frágil democracia em que vivíamos: foi a indiferença que, à semelhança das ocupações anteriores, a tomada do Tribunal de Contas mereceu. A ditadura é isto. Como o fim do mundo de Eliot, por vezes estas coisas não acabam com estrondo e sim em lamúria. O fim do regime nem a lamúria suscitou. Os portugueses assistiram ao processo – crescentemente descarado – com um peculiar sentido de inevitabilidade. E, imagino, de conforto.

O PS manda em tudo e as sondagens dão-no próximo da maioria absoluta. É verdade que as sondagens valem pouco num sistema praticamente de partido único. São, apesar disso, um sinal de que os eleitores não fugiram em debandada para os raros críticos organizados (a Iniciativa Liberal e o Chega, digo eu com excessivo optimismo) ou para a abstenção (que é a do costume). Se amanhã houvesse eleições, o PS ganharia. Se houvesse a possibilidade de o PS não ganhar, amanhã não haveria eleições. A ditadura é isto. Estamos no ponto em que a Constituição, outrora sagrada, se transformou no bloco de notas do dr. Costa. Apetites de prepotência o PS sempre teve. Nunca teve tamanho à-vontade para consumá-los. Hoje, o PS faz o que lhe apetece com extraordinário descaramento, e sem uma brisa de contestação.

Existe alternativa? Com este povo manso e infantilizado, não. Existe esperança? Existe uma possibilidade de saída. Sob o criminoso pandemónio erguido a pretexto da Covid, a rede de compadrio e puro saque montada pelo PS e respectivos aliados tem custos, que a histeria sanitária não justifica e que, um dia, nem os abonos europeus disfarçarão. Ou seja, é inevitável que esta mistura altamente redundante de socialismo, despotismo e ladroagem despeje Portugal na miséria. Ou, na melhor das hipóteses, numa bancarrota que causará saudades das precedentes. Nesse momento, é plausível, embora não obrigatório, que o PS abandone o barco – porque quer e não porque o forçaram. A ditadura é isto. Não sabiam? Sabiam. Sabem. E no fundo gostam.

PS  POLÍTICA  GOVERNO

COMENTÁRIOS

Carolina Nunes: A venezuelização do regime está em marcha: a eternização do PS no poder com Costa a assegurar poder absoluto. E tudo isto com Presidente da República, líder da oposição, BE, PCP, comunicação social e sindicatos a assegurar poder absoluto no bolso de Costa. Nem Maduro controla tanto a Venezuela como Costa controla Portugal, é obra! Obviamente o apodrecimento do regime são foi possível minando duas instituições fundamentais: a Presidência da República e líder do PSD. Só com dois socialistas infiltrados nesses cargos foi possível este controlo do PS sobre tudo e todos que levará ao fim da democracia em Portugal.     João Mota Lopes: Não há problema algum. O povo gosta. Aliás todos gostam... Já nem vale a pena dizer nada. Amandio Teixeira-Pinto: Há pessoas, que tenho de referir pelo nome, pela simples e enorme razão de assumirem dizer o que pensam, sabendo claramente os perigos que correm e as perseguições/punições de que já foram alvo: - Alberto Gonçalves, Helena Matos, José Gomes Ferreira, Camilo Lourenço, Rui Ramos, por vezes JMFernandes (parece estar a acordar de algum sono letárgico), e pouquíssimos mais, sobram-me dedos na mão direita para os contar. Tenho que lhes fazer preito de honra, não necessariamente pelo que dizem (com o qual, de resto, é muito difícil não estar de acordo), mas pelo modo desassombrado como elevam o seu protesto face ao grotesco do viver hodierno, ao discorrer desta gente pequenina e reles (que se enfileira alarvemente para se mostrar e fazer ouvir nas TSFs, nas TVIs, nas "comunicações suciais" mais ordinárias e vendidas que alguma vez se viu), gentalha que temos de ouvir com o sorriso da complacência e da tolerância que nos querem impor, e que se multiplicam em "projectos" e "realizações" pessoais" cheias de uma enorme apetência por deitar a mão ao que é comum, num fartar vilanagem que não tem, nos tempos recentes (a que a minha vida chega), qualquer possibilidade de comparação. "O tempora, o mores", as palavras de Cícer, não chegam para classificar tamanha podridão intelectual, tanta mente abjecta e desnaturada, tanta imbecilidade descabelada, mórbida e infeliz. Está a chegar o tempo em que homens bons vão ser obrigados a fazer coisas más, dizia-me um colega e amigo. Será, mas a verdade que digo para mim é que nunca pensei que alguma vez pudesse viver tempos assim.     Fernando Almeida > Amandio Teixeira-Pinto: Bem haja, pela lucidez e coragem. Esta gente que nos governa" ė perigosa! Apesar de ser muito jovem , na altura, fazem-me recordar tempos do "gonçalvismo". Carolina Nunes > Amandio Teixeira-Pinto: Comentário soberbo! Obrigada.    António Ferreira > Fernando Almeida: Nos tempos do Gonçalvismo ainda houve portugueses com coragem para o enfrentar.
Actualmente assiste-se a tamanha letargia e indiferença, realidade que ajuda a explicar a pretensa audácia com que o Costa tomou conta do sítio.
Fernando Almeida >António Ferreira O problema ė que já não existe quem resista a esta escumalha; Os pequenos agricultores e comerciantes que povoavam as vilas e aldeias ou morreram ou estão nos lares. Quem existe ,ou passa anónimo, ou vende a alma ao diabo "Partido Socialista".Atė,porque quem se mete com o PS leva.Santos Silva, dixit!    Alberto Dos Santos > Amandio Teixeira-Pinto: Completamente de acordo!!     Pedro Ferreira > Amandio Teixeira-Pinto: Excelente comentário. Parabéns!     Amandio Teixeira Pinto > Fernsndo Almeida: Caro Fernando Almeida, gentileza sua, que agradeço. Não enjeito a lucidez que me atribui, porém a coragem que possa ter, nada é a par dos que se expõem em público, e que referi. São eles  que dão o peito às balas. Abraço………….. Verdade Mentira > Amandio Teixeira-Pinto: Como disse Churchill "O vício intrínseco do capitalismo é a partilha desigual do sucesso; o vício intrínseco do socialismo é a partilha equitativa do fracasso" A sociedade só será melhor quando conseguirmos o ponto intermédio destes dois sistemas. Dizer o que se pensa mas não passar das palavras aos actos não serve de nada, quem critica que se apresente para fazer melhor, é muito fácil escrever um artigo sentado em casa a beber uma bebida e em seguida pensar que se é muito bom porque se escreveu umas coisas para um jornal a dizer mal do Marcelo e do Costa, se calhar estas pessoas nem costumam votar.       Amandio Teixeira-Pinto > Verdade Mentira: E você? Conte lá o que tem feito. ……….

antonyo antonyo: Está admirado ? Isto é um país que vive para o futebol e para as novelas ( os jovens para os concertos ) e em que a figura mais seguida nas redes sociais é a mãe do Ronaldo ...        Fernando Almeida > antonyo antonyo: O lastimável ė que a actual "União' Europeia vai cumprir os desígnios do execrável Napoleăo sem armas. O sr Victor Orban e outros ė que são os maus da fita... Fernando Almeida: Resumindo, o' 'eixo "maçónico franco-alemāo vai apoiar Costa até ao limite!       Tiago Queirós: Infelizmente, basta que nos recordemos que, até há bem pouco tempo, a média de conclusão do Ensino Secundário, entre as nações da OCDE, era de aproximadamente 80%; em Portugal, especificamente, esta percentagem situava-se nos 40%. Como podem António Costa, Francisco Louçã, e outras personagens quejandas, vociferar permanentemente contra os «ricos», quando os «ricos» são, rigorosamente, eles próprios?... A retórica socialista sempre foi pretexto narcísico para o açambarcamento do poder por parte de fedelhos frustrados, falhados e imprestáveis - e Portugal não é excepção    Margarida Carvalho: Tal e qual. Obrigado Alberto Gonçalves. Assim que o consigam silenciar também a si, deixarei de imediato de suportar este jornal. O Alberto talvez recorde uma depravada socialista, a quem a seita de assaltantes tinha já reservado o tacho dos 16mil/mês e igual reforma, no Banco que já foi de Portugal, não fora ter surgido melhor teta em Bruxelas, na base de a mesma aparentar ser do sexo feminino, cuja indignidade foi ao ponto de declarar publicamente que o que as pessoas se esqueciam é que o "dinheiro público é do PS". A presente mexicanização e roubo generalizado e às claras, é apenas a evolução natural da mentalidade que define a trupe de gatunos amorais do socialismo e da co-golpista extrema-esquerda. Trata-se de um estádio superior de aperfeiçoamento da célebre "superioridade moral", de todas as "esquerdas". Já não é só o dinheiro público que é do PS, o Estado e toda a sociedade, da comunicação social ao ensino e à "cultura", passando por certos e determinados "juízes e procuradores", é propriedade do gangue socialista-maçónico, e da restante extrema-esquerda, e existe exclusivamente para o servir. Como em repetidos outros momentos históricos, a esquerda volta, assim, a ser o algoz da paz, da liberdade, da democracia e da dignidade humana. Fazendo jus à sua natureza, já só lhes resta aumentar ainda mais a pilha de milhões cadáveres e vítimas que carregam como legado histórico do seu totalitarismo e podridão ética e moral. Independentemente de ideologias, as pessoas de bem, sem dúvida a grandíssima maioria, que está a ser coagida à aceitação da aberração como norma e ao silenciamento, através do ataque moral de brigadas avençadas de fascistas morais, que patrulham cada passo da vida em sociedade, como fazem aqui mesmo, neste jornal, não mais podem tolerar tal miserável e doentio estado de coisas, estribados no falso pretexto de que não vale a pena chatearem-se, que as coisas mudarão ... com o tempo. Onde quer que, no seu dia-a-dia, cada um de nós se depare com este cancro imundo e mortífero, só uma opção resta: dar-lhe luta por todos os meios e até à última gota de sangue.           Pedro Coimbra > Margarida Carvalho: A realidade como ela é. Só dois pequenos acrescentos. Repare que, em Portugal, tal polvo foi estabelecido e está a ser fortalecido diariamente com a cooperação activa do actual PR. A quem seria adequado reconhecer o atributo de Marcelo do laço. Já que é ele quem, em troca dos votos socialistas, de facto e de direito, enfeita com um laço de legitimidade formal o embrulho a que assistimos. Pensar que há ainda quem de fora do sistema pondere voltar a votar em tal sujeito, é inacreditável. Depois, isto é uma coisa que afecta toda a esquerda em qualquer parte do mundo. O seu desejo e ambição é a do partido-único-estado e do poder absoluto e eterno. Nos USA, a actual esquerda radical que infiltrou o PD, como aqui o BE está a fazer com o PS, caso ganhe as eleições, propõem-se efectivar isso mesmo. Mudando as regras do senado, criando novos estados, abolindo o método eleitoral, a constituição dos tribunais etc. Enfim, a ditadura.    Marie de Montparnasse O PS é o partido do português médio, fura-vidas, de olho vivo e pé ligeiro tão comum e em maioria entre nós. Chegou ao poder, que não deixará por nada, exactamente por isso mas mantendo bem vivas e aguçadas as características. dos seus eleitores. Numa conjugação de forças (diria astrais) as oposições de direita e de esquerda, os sindicatos, os empresários, os clubes, o presidente da república, a academia, a igreja, as instituições subjugaram-se a este poder arbitrário e inculto por medo e cobardia em harmonia com "se não os podes vencer, junta-te a eles".    Gil Lourenço Lourenço: O problema não são os portugueses de uma forma geral. Leio bastante acerca de que os portugueses são incultos e sem instrução, etc. Mas pensam que o francês ou o inglês médio é melhor? O problema são as elites. Estas são estruturalmente de esquerda. Já o eram no tempo do Marcelo Caetano e mesmo antes. As universidades e escolas já estavam cheias de ideias de esquerda. Os tais meninos maoistas dos anos 60 que andavam em manifestações e protestos contra o regime de então eram os filhos da burguesia do regime. Por isso é que protestavam porque os pais safavam-nos logo da prisão. Depois vieram criar uma narrativa de combate antifascista. E os que não eram de esquerda, vieram a juntar-se a estes, pelo dinheiro e pelas influências. O próprio Marcelo Rebelo de Sousa era afilhado de Marcelo Caetano e este decepcionou-se com aquele. O Júdice (que na realidade era mais fascista que Marcelo Caetano), quem o ouvir falar agora, até se pensará que foi combatente anti-fascista... É para rir. Até já é condescendente com o comunismo português. Faça-se uma genealogia das elites e teremos uma história do Portugal de agora. Francisco Gonçalves > Gil Lourenço Lourenço: Abstendo-me de considerações sobre o passado, penso que o problema nem sequer é tanto a esquerda ou a direita. É a falta de urbanidade e de cultura do mérito e da honestidade (o que no fundo vem dar ao mesmo). A cunha está disseminada na cultura portuguesa de cima a baixo. Se o jovem não quer pactuar é "chamado à razão" pelos próprios pais. - "Achas que se os outros estivessem na tua posição não aproveitavam? És muito parvo! Se não comes tu, come outro!" É raro ver rebelar-se contra a cunha quem dela pode usufruir, mas a decide repudiar. À nossa escala, todos a procuramos. Nesse sentido, há muito poucas pessoas independentes e tem-se medo de perder o pouco ou o muito que se conseguiu. É raro encontrar-se pessoas que se predisponham a levantar-se em situações de injustiça quando não estão directamente implicadas. "Não te metas ao barulho que ainda sobra para ti!" é dito da nossa cultura e que levamos de casa. Já Einstein dizia que problema maior que quem pratica o mal é quem a ele assiste sem nada fazer. Mas o mais seguro é mesmo tentar passar por entre os pingos da chuva! (Até que um dia sejamos nós as vítimas...) Isso, repito, não é esquerda nem direita. Nós portugueses, mais do que em ideologias de esquerda e direita, votamos em pessoas com quem nos identificamos. E voltamos em chico-espertos e videirinhos porque com eles nos identificamos. Porque é admirável conseguirem fazer o que faríamos, mas a uma escala maior. E para lá chegar seremos os "ass-lickers" que for preciso. Isto dito, por tender a perpetuar a subjugação da pessoa em relação ao Estado, a pessoa como membro do grupo e não como indivíduo, a esquerda potencia muito mais os comportamentos de subserviência que apontei e que na minha opinião, levam ao nosso atraso.       antonyo antonyo > Gil Lourenço Lourenço: Se lê bastante devia saber que ser de direita e ser fascista não são a mesma coisa. Mas dá jeito dizer... Gil Lourenço Lourenço > antonyo antonyo: Nem eu disse tal coisa. Longe de mim. Aliás, até está estabelecido na historiografia, por mais que a esquerda queira fazer disso um estandarte, que o Estado Novo e naturalmente Salazar não foi um regime fascista, foi sim um regime autoritário de cariz conservador. É curioso que os que se reclamavam fascistas, até no seu aspecto, eram os do Nacional Sindicalismo de Rolão Preto, que, como se sabe, não tinham o apoio de Salazar. Curiosamente Rolão Preto foi condecorado por Mário Soares. Quando falei do Júdice que era mais fascista do que Marcelo foi no sentido mais panfletário, que é aquele que a esquerda percebe. Mas é óbvio que Júdice naquela altura era crítico do marcelismo não por estar à "esquerda" de Marcelo mas sim à sua "direita". Mas isso é outra conversa que levaria mais tempo. Embora esta questão da esquerda e direita tem muito que se lhe diga: na Itália fascista os mais radicais eram a "esquerda do movimento fascista", que foram aliás afastados por Mussolini. Aquilo que eu quis subentender foi a forma como Júdice virou (apoiou Sócrates e Medina). E veja-se só: considera que o Chega é mais prejudicial para a democracia do que o BE e o PCP... de duas uma: ou mudou muito ideologicamente ou, ou... Repare que eu não sou daqueles que acham que as pessoas tém de pensar da mesma forma ao longo da vida. Nada disso. Admiro a Zita Seabra porque mudou radicalmente e penso que não foi por oportunismo. Foi por convicção. Se tivesse sido por oportunismo se calhar dava-lhe mais jeito ter ido para o PS como aconteceu a vários do PCP. Mais: para fique esclarecido, não confundo direita com fascismo. Nada disso. Isso é uma estratégia da esquerda e sobretudo da extrema-esquerda. Mussolini até veio do socialismo e do anarquismo. Além do mais, não existe direita, existem direitas.     Francisco Gonçalves: Sim, tem razão. A questão nem é tanto de direita ou de esquerda. A cunha está disseminada: não sendo um problema exclusivamente português, ele é bastante acentuado neste país, e na Grécia, etc. Mas isso é o mesmo que a corrupção. A corrupção faz parte da natureza humana, a questão em Portugal é não haver meios, nem vontade nem uma justiça eficaz para a combater. Veja por exemplo o caso da Espanha. Cristiano Ronaldo fugiu aos impostos e a justiça foi célere. Cá levaria provavelmente anos e ainda iria haver recursos. Se existir um ecossistema propício, a corrupção alastra-se. Disse: “ É raro encontrar-se pessoas que se predisponham a levantar-se em situações de injustiça quando não estão directamente implicadas. "Não te metas ao barulho que ainda sobra para ti!"” Tem toda a razão. Isso talvez se explique porque num país pequeno e com cidades pequenas em que toda a gente se conhece as pessoas têm receio. E por vezes é mesmo para ter receio pois as pessoas são perseguidas. Veja o caso do Presidente de Reguengos de Monsaraz e o controlo que ele faz nessa vila. Mas temos todos que lutar contra isso. Eu próprio já o fiz e não me aconteceu nada. Porque quando se levanta uma voz ela vai sempre ser acompanhada por outras, nem que seja mais uma. “Nós portugueses, mais do que em ideologias de esquerda e direita, votamos em pessoas com quem nos identificamos.” Isto funciona sobretudo nas autarquias. Porque a nível nacional identificamo-nos com os programas (logo com ideologias) e com a mundividência desses políticos. Mas a maioria das pessoas é muito condicionada pelas TVs, logo pelas elites políticas que estão presentes nessas mesmas TVs. E essas elites são sobretudo de esquerda. Marcelo Rebelo de Sousa teve uma grande votação sobretudo porque levou anos a ser comentador. Mas não se esqueça de uma coisa: apesar de tudo Passos ganhou as eleições. Haveria muito mais para dizer. É um tema complexo. Mas concordo em muito consigo. Gil Lourenço Lourenço > Francisco Gonçalves: Falou destes aspecto em relação ao problema português: "É a falta de urbanidade e de cultura do mérito". Curiosamente foi numa zona do país urbana e desenvolvida onde há mais licenciados por metro quadrado que um autarca já condenado por corrupção voltou a ganhar as eleições.    Beatriz: Tento não perder o meu otimismo, agarrando-me à ideia de o tuga mais dia menos dia irá acordar. Porém não vai ser fácil. A somar à falta de independência e imparcialidade dos meios de comunicação social e da sua propaganda, está a acontecer uma doutrinação neomarxista em massa nas escolas e nas universidades portuguesas. Quem me dera poder ser convencida do contrário!     A Gil: "e no fundo gostam" resume tudo. Qualquer ditador que decida por este povo tem o seu apoio. Desde que não seja preciso pensar ou decidir.              André Ondine: Excelente. Só não concordo com a benevolência que tem para com o Sr. Dr. Costa ao “chamar-lhe semi-alfabetizado”. É uma simpatia, claro, e fica-lhe bem, mas exagera no grau de alfabetização do querido líder. De resto, concordo totalmente. É, de facto, sinal de que estamos já numa ditadura inconsciente quando um Habilidoso maquiavélico, com evidentes limitações humanistas, intelectuais e linguísticas, com um prazer sádico pela humilhação dos inimigos (desconhece o conceito de adversário), mal-educado, dono de um cinismo considerável e fruto de uma propaganda manipuladora e ilusória consegue amestrar grande parte dos portugueses e manter um grau de popularidade assinalável que lhe permite não só continuar a sair de casa e movimentar-se junto de pessoas normais como até dirigir um país, ou o que resta dele, na perspectiva aterradora de que o fará enquanto o feitiço durar. E promete durar, estranhamente. Um dos sinais de que o país está doente é que uma percentagem significativa da sua população está disposta a perpetuar o poder de tão sinistra personagem. Da primeira vez que o hábil usurpador foi a eleições perdeu, mas, lá está, usurpou. O povo foi enganado e não teve culpa. Da segunda vez, o povo enganado votou em quem o enganou. Já não é bom sinal. Hoje, um ano após a legalização do usurpador, o povo continua a dar-lhe maioria. É o síndrome de Estocolmo, em que os raptados começam a desenvolver uma paixão pelo raptor / agressor? Talvez, mas é indesculpável e não abona a favor do dito povo. No entanto, a multiplicação do Hábil Chef das Cataplanas (lembro aqui a prestação memorável do Dr. Costa no programa da Primeira-Dama da República, Cristina, na sua breve e tóxica passagem pela SIC, em que o Habilidoso ainda nos confessou que não consegue – ele bem tenta – controlar aquele sorriso cínico e irritante) em personagens derivadas é ainda mais preocupante. Se, por exemplo, o Habilidoso for raptado por extra-terrestres gulosos, quem se segue? Pois é, segue-se Pedro Nuno Santos. Ou Medina Ciclovias. Ou Ana Catarina Mendes. Ou até o Galamba. E isto é preocupante pois, se contarmos com Sócrates e descontarmos o breve período de higienização política proporcionado por Passos Coelho (apesar dos negros anos Relvas), estamos a falar de duas ou três gerações que se viram confrontadas por gente tão pouco recomendável. Estamos num labirinto e não se vê forma de encontrar a saída. E, se olharmos desesperadamente para Marcelo ou para Rio, vemos apenas dois pobres manipulados, que caíram na cantiga do bandido e até acabam cúmplices das mais evidentes ignomínias, como se viu esta semana com o Tribunal de Contas. O Habilidoso deve ter fotos comprometedoras dos dois ou uma coisa parecida, prometendo só as divulgar se eles não fizerem o que ele manda. É a única explicação para tão grave processo de domesticação política e acefalismo repentino.

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