Poderia ser um começo de acção, copiada,
naturalmente de outros modelos europeus e não só. Mas já passou. E amanhã não
haverá mais. Estávamos a falar disso, a minha irmã e eu, da passividade do
nosso povo ante as sucessivas ordens do nosso Primeiro, mais ou menos contraditórias, vendo-o a distribuir as
suas razões, cara cheia por detrás da sua máscara, para a confusão ser maior, e
ambas considerámos que a nossa gente não iria rebelar-se, ante tanto
desequilíbrio de ordens, ora fecha mais cedo, ora já pode abrir, ora impõe máscara
nos ajuntamentos, ora a banaliza, ora diz que não pode mais confinar por via do
depauperamento económico, ora já ameaça fazê-lo, vão-se os anéis fiquem os
dedos, ora permite ajuntamentos ora os proíbe abrindo ou fechando fronteiras
conforme lhe dá na gana… E tudo com a conivência do PR. Mas o povo saiu hoje à rua, e alegrámo-nos
momentaneamente, a minha irmã até gabou a enchente de recalcitrantes nas ruas
de Lisboa. Eu achei que fora mais por espírito desordeiro ou de diversão – de imitação,
sem dúvida - mas não tenho a certeza, comodamente instalada nas minhas dores de
costas, que não me permitem grandes andanças participativas nos eventos de
importância. Demais, velha que estou, mais esperaria qualquer fisgada pelas
costas, para me tirar o pio de vez, em eutanásia por antecipação, por já não ter
o direito de fazer parte dos eventos. No fundo, fiquei contente, pela démarche de resistência, num fogacho de
liberdade, da gente protestante, mas lembro a resistência noutros lados do
mundo e sei que a nossa nada tem de semelhante, mesmo que a economia morresse
de vez…
Manuel Villaverde Cabral põe
essencialmente a tónica sobre o trabalho subterrâneo de A. Costa, tirando
partido de uma pandemia inesperada, para executar outros projectos pessoais e de
grupo, que o beneficiarão, naturalmente, e aos seus meninos do coro.
De novo o dito por não dito /premium
Esta
tragédia da sul-americanização do regime político promovida pelo PS e
comparsas, combinada com a corrosão provocada pela pandemia, arrisca-se a
destruir o sistema partidário saído do 25 de Abril.
MANUEL VILLAVERDE
CABRAL
OBSERVADOR, 22 out
2020
A
única coisa que se pode dizer em favor do Primeiro-Ministro, é que deve haver
muitos políticos pelo mundo fora a darem constantemente o dito por não dito
perante essa recrudescente pandemia que não deixa país algum funcionar
normalmente. António Costa tem sido, com efeito, useiro e vezeiro em dar o dito por não dito desde o início da
pandemia, começando por tentar varrê-la para debaixo do tapete e voltando a
fazer o mesmo a respeito do Orçamento para 2021: agora é a ameaça de se demitir.
Com efeito, há semanas que o
Primeiro-Ministro anda a ameaçar abrir uma crise no país, a propósito de tudo e
de nada, se os outros partidos não fizerem a vontade dele. No limite, perante a pandemia, é compreensível que
os responsáveis hesitem perante as melhores formas de responder à crise
sanitária. Daí a ideia de obrigar toda a gente a usar uma
“aplicação” de telemóvel contra a Covid-19, mas
parece que já recuou na ameaça.… O que já não é aceitável, é que o
Governo continue a negar as dificuldades do SNS para lidar com a nova vaga
pandémica e a recusar apelar aos hospitais privados conforme devia ter feito
desde o início.
Mais grave ainda é, porém, a ameaça
que o Primeiro-Ministro tem vindo a fazer há algum tempo com uma “crise
política”, isto é, com a demissão do Governo no caso de o Orçamento para 2021
não passar no Parlamento, como se isso fosse algo de inaudito, para não dizer
um ataque pessoal. Depois de a
televisão repetir incessantemente a notícia dessa “crise” e de o Presidente
da República se
imiscuir de novo nas relações entre os partidos como se tivesse poderes
executivos, António Costa
vem de novo dar o dito por não dito. Acusa o
BE e o PCP de se aliarem à chamada “direita” para “chumbar” o Orçamento, como
se este valesse alguma coisa perante a crise sanitária e económica que estamos
a viver, mas à medida que o momento da verdade se aproxima… declara, afinal,
que não se demite!
Possivelmente,
conhecendo nós os seus parceiros da “geringonça”, estes acabarão por deixar
passar o Orçamento, já que este só tem valor se os fundos gratuitos
prometidos da UE vierem algures para o ano… Se a
pandemia permitir! E
se o PCP e o BE chumbassem o Orçamento, nada mudaria na prática concreta
perante a pandemia: os lares, teoricamente supervisionados e indirectamente
financiados pelo Estado em benefício de “instituições sem fins lucrativos”,
como as Misericórdias, continuarão a deixar morrer os idosos, os quais
representam metade ou mais dos óbitos provocados directa e indirectamente pela
Covid-19.
Dito isto, o mais grave de tudo nos
anos mais próximos, para além dos danos incomensuráveis que a pandemia deixará
atrás de si, é o facto de o PS ter consumado o seu golpe parlamentar em 2015.
Com efeito, depois dos governos Sócrates e perante os resultados aritméticos
das legislativas de 2015, apesar do bom desempenho do Governo Passos Coelho
perante a terceira virtual bancarrota provocada pelo PS, António Costa não
hesitou em angariar os votos do PCP e do BE, a fim de recuperar o poder e
perante a impotência constitucional do PR cessante.
Acontece,
que no ambiente aparentemente cordial anterior à pandemia, o novo PS
não só desmantelou o bloco PSD-CDS, como iniciou a pulverização do Parlamento,
ao mesmo tempo que aumentou a dívida pública a fim de encher o aparelho de
Estado de governantes e funcionários públicos afins ao partido. O resultado é conhecido e, se não fosse o impacto
da pandemia, já a generalidade dos eleitores se teria seguramente
apercebido que está diante de um projecto político de dominação partidária para
durar enquanto o actual Governo o conseguir. Foi assim que o PS adoptou todas
as modalidades conhecidas de favoritismo, ao mesmo tempo que nos fez pagar com
o aumento da dívida pública a angariação de votos e os apoios privados,
enquanto enchia o aparelho de Estado de empregados e nacionalizava as empresas
falidas com dinheiro disfarçado da UE.
Esta tragédia da sul-americanização
do regime político português promovida pelo PS e os seus comparsas, combinada
com a corrosão provocada pela pandemia, arrisca-se a destruir, sem apelo, o
sistema partidário saído do 25 de Abril. É bom não esquecer, que nunca a Constituição foi submetida ao
sancionamento popular, assim como também nunca o foi a adesão à União Europeia
e aos seus tratados. A isso,
acrescenta-se o facto de o abstencionismo eleitoral, sempre crescente, ser
consequência e causa do comportamento dos partidos. Se e quando o PS cair, o
que não é de excluir se a pandemia se prolongar, não serão novas eleições que
encherão o vazio. Será pior: a luta de todos contra todos!
POLÍTICA ANTÓNIO COSTA PANDEMIA SAÚDE
COMENTÁRIOS
Manuel Magalhães: Mais uma demonstração da desgraça que assola o país provocada pelo PS!!!
António
Sennfelt: Finis patriae?
Joaquim Moreira: Manuel Villaverde Cabral, mais uma vez, estou muito de acordo com esta sua
visão geral. Mas tenho algo a dizer: "Se e quando o PS cair, o que não é
de excluir se a pandemia se prolongar, não serão novas eleições que encherão
o vazio. Será pior: a luta de todos contra todos!" Não vai acontecer!
Como dizia Manuel Carvalho, no seu Editorial de Domingo passado, há uma ilha de paz e sossego onde nada
disto parece acontecer: é o PSD de Rui Rio. Por razões, que vou aqui
citar ou descrever. Para além do que já citei na notícia de ontem, OE2021. PS acusa Rio de abandonar defesa do "interesse
nacional", aqui mesmo no Observador. Dizia ainda aquele autor: Num tempo de gatos assanhados, o PSD de
Rui Rio faz de Garfield.E terminava dizendo: Se
há algo que ele (Rui Rio) provou, é que não pode ser subestimado nas suas
capacidades de ler a política a prazo. Como faz a tartaruga, na fábula
da corrida com a lebre, de forma diferente de muito portuga!
bento guerra: Qual regime democrático? O que conta assentos do Parlamento, para mandar no
país e que o "constitucionalista Marcelo aceitou?
augusto sousa: Muito bem! Mas é tempo de se
iniciar uma "nova" República! Esta já deu e está totalmente
contaminada e baseada numa cultura que já não se adequa às formas de participação
das "pessoas" votantes. Daí o
desinteresse total, se excluirmos os beneficiários do sistema!
VICTORIA ARRENEGA > augusto sousa: Extremamente preocupante: o desinteresse
precisamente na altura em que mais se justificava o envolvimento dos
portugueses. Completamente de acordo que o mapa partidário está em
colapso/alteração. Mas aí a culpa não pertence completamente a António Costa
mas deverá ser atribuída em grande parte aos partidos da direita democrática
que se perderam em divergências internas e não se souberam unir. Veja-se a
perseguição interna a Passos Coelho. PSD e CDS fizeram precisamente o que
António Costa desejava O resultado é o CHEGA. Neste governo há muita coisa
que me perturba: é o abocanhar de tudo o que mexe nomeadamente o poder
judicial, a dependência de partidos que já deram o que tinham para dar (PCP) ou que cada vez mais se
radicalizam (BE) e tudo abençoado pelo desacerto de Marcelo Rebelo de
Sousa, o homem que prova que com papas e bolos se enganam os tolos. Quando
construímos uma casa com maus alicerces, inevitavelmente vai cair. o problema é
que quando cair estamos todos debaixo e vamos levar com os destroços.
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