terça-feira, 6 de outubro de 2020

Uma pausa

 

Nos assuntos sérios ou sórdidos do nosso dia-a-dia, deles distraídos ocasionalmente, pelas rotinas comezinhas ou mais intelectualistas de Miguel Esteves Cardoso, com o seu humor às pinguinhas e os seus conceitos arejados de um saber antigo e de um sentimentalismo popularucho modernizado:

CRÓNICA

Querido ano de 2020

Um bom filme pode escusar-se a ser interpretado. Mas um grande filme, como é o caso de Aquele Querido Mês de Agosto, estimula e convoca interpretações sem fim.

15 de Setembro de 2020

Faltam alguns dias de Verão para rever o grande filme de todos os Verões portugueses desde a invenção da electricidade: Aquele Querido Mês de Agosto. Eu cá vi-o num dos canais TV Cine.

Foi acabado em 2012 mas um dos divertimentos de quem ganhou o hábito de ver regularmente este filme de Miguel Gomes é tentar descobrir pormenores que não pudessem ser de 2020 ou, para os mais abstractos, de 1920.

A arte e a eternidade, benza-as Deus, até que nem se dão bem – que mal tem uma obra que morre por falta de amor? – mas, quando um artista se está a divertir tanto como Miguel Gomes, gostam de aparecer pelas costas de quem brinca com elas.

Fico de cabelos espetados quando dizem que o cinema de Gomes é antropológico. Abomino o sincretismo guloso de quem quer que um filme seja também filosofia, literatura, metafísica, sociologia.

Cada um traz para um filme o que pode e o que não consegue afastar. O que interessa em cada filme, interprete-se como se quiser interpretar, é o que lá está.

Um bom filme pode escusar-se a ser interpretado. Mas um grande filme, como é o caso de Aquele Querido Mês de Agosto, estimula e convoca interpretações sem fim.

É um filme aberto à experiência de cada espectador, com uma generosidade cómica, empática e afectuosa que recusa toda a distância, sobranceria ou cautela.

Só é pena que o próprio Miguel Gomes – uma figura encantadora do Cinema, entre Keaton e Sordi, Tati e César Monteiro, Gianni Di Gregorio e John Waters, Giuletta Masina e Peter Falk – não tenha entrado mais.

Mas ainda vai a tempo.

COMENTÁRIOS:

Maria João Amaral INICIANTE: Muito boas férias! Goze-as por mim, seja onde for. Ficamos ansiosos pelo seu regresso, mas para quem eu leio em primeiro lugar, quando abro o Público on-line todas as manhãs, o descanso e o afastamento são mais que merecidos. Obrigada por escrever como escreve. 16.09.2020  M ESTEVES CARDOSO INICIANTE: Muito obrigado, Maria João Amaral! Boas leituras outoniças, Miguel 17.09.2020  Colete Amarelo EXPERIENTE: Tive pouca sorte; Nasci em tempos de contestação, e os meus pais chamaram-me Colete Amarelo. Desejo-lhe uma férias tão divertidas como as do Sr. Hulot. 15.09.2020  M ESTEVES CARDOSO INICIANTE: Muito obrigado, Colete Amarelo! Lembro-me de ver As Férias do Sr Hulot quando ainda não sabia quem era Tati mas acho que me diverti mais ainda quando soube. Um abraço incontestável, Miguel 15.09.2020     Colete Amarelo EXPERIENTE: Obrigado. Há muito que desejava obter um comentário seu. Sobretudo para mostrar à minha mulher como se fosse um troféu. Ela admira-o imenso e tem quase todos os seus livros, livros que, não podia deixar de ser, eu também li. 15.09.2020    João Carlos Cruz de Jesus INICIANTE: Caro Miguel, quero apenas dizer que vou sentir a sua ausência... M ESTEVES CARDOSO INICIANTE: É o que todos nós gostamos de ouvir - obrigado por dizê-lo, João Carlos! Um abraço, Miguel   Armando Heleno EXPERIENTE : Não imagino bem o que seja escrever todos os dias, com compromisso. Umas merecidas férias.    M ESTEVES CARDOSOINICIANTE: Obrigado, Armando! Não deixarei de caçar os comentários dos meus comentadores predilectos! Um abraço sentido, Miguel     Diogo Machado INICIANTE: Bem triste que em relação a filmes, pessoas & etc., se perca tempo e energia monumentais à procura do que lá não está e se fique sem tempo e energia para perceber a maravilha que temos à frente. Lembro-me de todos os pormenores da noite em que vi AQMA no King. Como da noite em que A conheci. Se o deslumbramento que senti à primeira se mantém à décima, com o bónus de ir descobrindo coisas, isso deve querer dizer alguma coisa. Acontece-me em mais alguns filmes, poucos. A Sombra do Caçador, The Ghost and Ms. Muir, Casablanca, O Leopardo, algum Ford, Capra, Lubitsch e os maravilhosos japoneses. Boas férias! Bem as merece. Nós cá ficamos a sofrer. A ressacar. 15.09.2020  M ESTEVES CARDOSO INICIANTE: Obrigado, Diogo! Identifico-me com a sua lista. Acrescento Buñuel, Antonioni, Rohmer, Hawks, Keaton, Godard, Cronenberg, Hitchcock, Ozu, Fellini, Bergman e...muitos outros afinal! Um abraço e bons filmes, Miguel      15.09.2020 Fugo EXPERIENTE: Até Outubro, então. Um abraço. 15.09.2020

 

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Aquele Querido Mês de Agosto

Byeutiago

Junho 10, 2020

Título: Aquele Querido Mês de Agosto

Título Traduzido: Our Beloved Month of August

Classificação IMDB: 7,0/10 (1.436)

Realização: Miguel Gomes

Elenco: Miguel Gomes, Sónia Bandeira, Fábio Oliveira

Nacionalidade: Portugal, França

Ano de produção: 2008

Género: Drama, Romance

Temas: Português, Canes, Férias

Sinopse: No coração de Portugal, serrano, o mês de Agosto multiplica os populares e as actividades. Regressam à terra, lançam foguetes, controlam fogos, cantam karaoke, atiram-se da ponte, caçam javalis, bebem cerveja, fazem filhos. Se o realizador e a equipa do filme tivessem ido directamente ao assunto, resistindo aos bailaricos, reduzir-se-ia a sinopse: «Aquele Querido Mês de Agosto acompanha as relações sentimentais entre pai, filha e o primo desta, músicos numa banda de baile». Amor e música, portanto.

 

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