Nos assuntos sérios ou sórdidos do nosso
dia-a-dia, deles distraídos ocasionalmente, pelas rotinas comezinhas ou mais
intelectualistas de Miguel
Esteves Cardoso, com o seu humor às pinguinhas e os seus conceitos arejados
de um saber antigo e de um sentimentalismo popularucho modernizado:
CRÓNICA
Querido ano de 2020
Um bom filme pode escusar-se a ser
interpretado. Mas um grande filme, como é o caso de Aquele Querido Mês
de Agosto, estimula e convoca interpretações sem fim.
15
de Setembro de 2020
Faltam
alguns dias de Verão para rever o grande filme de todos os Verões portugueses
desde a invenção da electricidade: Aquele
Querido Mês de Agosto. Eu cá vi-o
num dos canais TV Cine.
Foi
acabado em 2012 mas um dos divertimentos de quem ganhou o hábito de ver
regularmente este filme de Miguel Gomes é
tentar descobrir pormenores que não pudessem ser de 2020 ou, para os mais
abstractos, de 1920.
A
arte e a eternidade, benza-as Deus, até que nem se dão bem – que mal tem uma
obra que morre por falta de amor? – mas, quando um artista se está a divertir
tanto como Miguel Gomes, gostam de aparecer pelas costas de quem brinca com
elas.
Fico
de cabelos espetados quando dizem que o cinema de Gomes é antropológico.
Abomino o sincretismo guloso de quem quer que um filme seja também filosofia,
literatura, metafísica, sociologia.
Cada
um traz para um filme o que pode e o que não consegue afastar. O que interessa
em cada filme, interprete-se como se quiser interpretar, é o que lá está.
Um
bom filme pode escusar-se a ser interpretado. Mas um grande filme, como é o
caso de Aquele Querido Mês de Agosto,
estimula e convoca interpretações sem fim.
É
um filme aberto à experiência de cada espectador, com uma generosidade cómica,
empática e afectuosa que recusa toda a distância, sobranceria ou cautela.
Só
é pena que o próprio Miguel Gomes –
uma figura encantadora do Cinema, entre Keaton e Sordi, Tati e César Monteiro,
Gianni Di Gregorio e John Waters, Giuletta Masina e Peter Falk – não tenha
entrado mais.
Mas
ainda vai a tempo.
COMENTÁRIOS:
Maria João Amaral INICIANTE: Muito
boas férias! Goze-as por mim, seja onde for. Ficamos ansiosos pelo seu
regresso, mas para quem eu leio em primeiro lugar, quando abro o Público
on-line todas as manhãs, o descanso e o afastamento são mais que merecidos.
Obrigada por escrever como escreve. 16.09.2020 M ESTEVES CARDOSO INICIANTE: Muito obrigado, Maria João
Amaral! Boas leituras outoniças, Miguel 17.09.2020 Colete Amarelo EXPERIENTE: Tive pouca sorte; Nasci em tempos de contestação, e os
meus pais chamaram-me Colete Amarelo. Desejo-lhe uma férias tão divertidas como
as do Sr. Hulot. 15.09.2020 M ESTEVES CARDOSO INICIANTE: Muito obrigado, Colete Amarelo! Lembro-me de ver As
Férias do Sr Hulot quando ainda não sabia quem era Tati mas acho que me diverti
mais ainda quando soube. Um abraço incontestável, Miguel 15.09.2020 Colete Amarelo EXPERIENTE: Obrigado. Há muito que desejava obter um comentário
seu. Sobretudo para mostrar à minha mulher como se fosse um troféu. Ela
admira-o imenso e tem quase todos os seus livros, livros que, não podia deixar
de ser, eu também li. 15.09.2020 João Carlos Cruz de Jesus INICIANTE: Caro Miguel, quero apenas dizer que vou sentir a sua
ausência... M ESTEVES CARDOSO INICIANTE: É o que todos nós gostamos de ouvir - obrigado por
dizê-lo, João Carlos! Um abraço, Miguel Armando Heleno EXPERIENTE : Não imagino bem o que seja escrever todos os dias, com
compromisso. Umas merecidas férias. M ESTEVES CARDOSOINICIANTE: Obrigado, Armando! Não deixarei de caçar os
comentários dos meus comentadores predilectos! Um abraço sentido, Miguel Diogo Machado INICIANTE: Bem triste que em relação a filmes, pessoas &
etc., se perca tempo e energia monumentais à procura do que lá não está e se
fique sem tempo e energia para perceber a maravilha que temos à frente.
Lembro-me de todos os pormenores da noite em que vi AQMA no King. Como da noite
em que A conheci. Se o deslumbramento que senti à primeira se mantém à décima,
com o bónus de ir descobrindo coisas, isso deve querer dizer alguma coisa.
Acontece-me em mais alguns filmes, poucos. A Sombra do Caçador, The Ghost and
Ms. Muir, Casablanca, O Leopardo, algum Ford, Capra, Lubitsch e os maravilhosos
japoneses. Boas férias! Bem as merece. Nós cá ficamos a sofrer. A ressacar.
15.09.2020
M ESTEVES CARDOSO INICIANTE: Obrigado, Diogo! Identifico-me com a sua lista.
Acrescento Buñuel, Antonioni, Rohmer, Hawks, Keaton, Godard, Cronenberg,
Hitchcock, Ozu, Fellini, Bergman e...muitos outros afinal! Um abraço e bons
filmes, Miguel 15.09.2020 Fugo EXPERIENTE: Até Outubro, então. Um abraço. 15.09.2020
NOTAS DA INTERNET:
EntretenimentoFilmes
Aquele Querido Mês de Agosto
Byeutiago
Junho 10, 2020
Título: Aquele
Querido Mês de Agosto
Título
Traduzido: Our Beloved Month of August
Classificação IMDB: 7,0/10
(1.436)
Realização: Miguel Gomes
Elenco: Miguel Gomes, Sónia Bandeira, Fábio Oliveira
Nacionalidade: Portugal,
França
Ano de
produção: 2008
Género: Drama,
Romance
Temas: Português,
Canes, Férias
Sinopse: No coração de
Portugal, serrano, o mês de Agosto multiplica os populares e as actividades.
Regressam à terra, lançam foguetes, controlam fogos, cantam karaoke, atiram-se
da ponte, caçam javalis, bebem cerveja, fazem filhos. Se o realizador e a
equipa do filme tivessem ido directamente ao assunto, resistindo aos
bailaricos, reduzir-se-ia a sinopse: «Aquele Querido Mês de Agosto acompanha as
relações sentimentais entre pai, filha e o primo desta, músicos numa banda de
baile». Amor e música, portanto.
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