segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Videirinho astucioso


Qual Inês Pereira, carregando sobre o marido ao encontro do amante, “e mais duas lousas”. Helena Matos explica, Manuel Villaverde Cabral demonstra: nação que é Pero Marques carregando com tudo e mais alguma coisa, lousas que sejam; o Governo-Costa que é uma Inês Pereira astuciosa e já experiente a respeito de maridos, preferindo, hoje, o burro, ao cavalo da sua escolha anterior, António Costa dos tempos antigos submisso ao cavalo Sócrates, dos tempos de agora montando, impante, no burro-povo, e mais duas lousas, videirinho astucioso fabricando o seu próprio destino - e nós o nosso, “pois assi se fazem as cousas” da nossa fábula perene. 

1 -Como é que se sai disto? /premium

Seis anos depois da prisão de Jośe Sócrates, o PS manda sem moderação, sem oposição e com um PR destituído de noção. Em 2020, Portugal é um país à disposição dos socialistas.

HELENA MATOS, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 11 out 2020

Procuradoria Geral da República. Tribunal de Contas. Banco de PortugalEm todas estas instituições o PS assegurou o controlo. De forma brutal às vezes. E todos os dias, em cargos superiores e intermédios da administração pública esse assalto prossegue.

Tudo isto lembra os anos Sócrates. Mas a situação é, em 2020, politicamente muito mais grave do que foi com Sócrates. Porque agora não há escrutínio. Desta vez não vai desembarcar nenhuma troika em Lisboa a querer vasculhar contabilidades criativas; não existem investigações criminais a ameaçar a figura do primeiro-ministro e, ainda mais importante, não existe alternativa política. Ao contrário do que acontecia em 2011, a oposição à direita não tem agora líder nem apoios; o BE e o PCP a quem foi entregue o monopólio do protesto estão desde 2016 mudos e quedos à espera da sua parte no assalto ao aparelho de estado e a UE não só agora não nos pede contas como, pelo contrário, vai pagar-nos algumas nos próximos anos.

A isto junta-se que, em 2020, em Belém, está Marcelo que vive em função da popularidade e não Cavaco Silva, que vivia em função do que achava que devia fazer.

Um dos momentos-símbolo deste país ao dispor do PS aconteceu esta semana quando Marcelo Rebelo de Sousa ao dar posse ao novo presidente do Tribunal de Contas (TdC) começou a invocar a Constituição para justificar a não recondução do anterior presidente daquele tribunal. Dão-se alvíssaras a quem encontrar na Constituição o artigo invocado por Marcelo Rebelo de Sousa para justificar a não recondução de Vítor Caldeira!

A actualidade tornou-se uma sucessão de absurdos que só se entendem à luz do assalto dos partidos ao aparelho de estado: num dia descobrimos que o país pode ganhar mais seiscentas freguesias (mesmo que não seja imediatamente por causa das autárquicas, lá teremos esse “enorme aprofundamento da cidadania” na discussão do próximo orçamento); no outro somos informados que António Costa e Rui Rio decidiram que os presidentes das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) previamente escolhidos por eles são eleitos pelos seus pares. Não, não é uma anedota é mesmo assim: primeiro Costa e Rio escolhem os futuros presidentes e depois têm lugar as eleições para eleger os presidentes já escolhidos! Felizmente que a pátria anda entretida a contar anedotas sobre o Trump e portanto não tem tempo para perceber que a anedota é ela, a pátria.

Já o PCP escolheu muito adequadamente para formalizar a última reivindicação dos comunistas aos seus parceiros socialistas — mais 100 mil funcionários públicos — um jovem deputado cujo curriculum profissional é uma variante do clássico “passageiro do paquete Niassa” pois o deputado em questão além da vida partidária apenas se destaca por ter integrado o Comité Organizador Internacional do 19.º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes (Rússia, 2017) seja isso o que for. Para que não nos falte nada neste regresso ao pior do passado até temos uma “candidatura ibérica” ao Mundial de Futebol de 2030 que o secretário de Estado do Desporto declarou como “uma coisa absolutamente extraordinária e importante” A criação de mais camadas na administração pública a par de legislação mais intrusiva para as empresas e famílias são à direita e à esquerda as respostas do PS às exigências dos seus parceiros e à voracidade da sua máquina partidária.

Como é que se sai disto? Em primeiro lugar, para se sair disto era necessário que os protagonistas quisessem sair e nenhum deles quer: o PS não quer deixar o governo; Rui Rio não quer ser governo; o BE e o PCP não podem nem querem deixar de apoiar o PS.

Em segundo, convém não esquecer que nos anos de Sócrates se falava de asfixia democrática para dar conta do controlo que então o PS estendia a toda a sociedade. Em 2020, o processo de controlo não é menos intenso mas é mais eficaz: vivemos uma espécie de intoxicação, não se resiste, vamo-nos deixando adormecer.

Em terceiro não sabendo eu como é que se sai disto sei exactamente o que vai acontecer após tal facto: tudo voltará a ser inconstitucional como o professor Marcelo explicará.

E em quarto, embora não seja propriamente uma saída, antes um atalho, que tal encarar a candidatura à autarquia de Lisboa como o primeiro de vários momentos de desmontagem do poder socialista?

PS POLÍTICA  119

 

2 - O "plano" que não é um plano…/premium

Em matéria de "planos" de apoio financeiro europeu a fundo perdido, já tivemos décadas de obras públicas e outras iniciativas sem qualquer dimensão sócio-económica reprodutiva e transformadora.

MANUEL VILLAVERDE CABRAL

PÚBLICO,02 out 2020

A reinvenção da União Europeia (UE), ao falar em “plano” acerca dos montões de euros que a Comissão decidiu imprimir e despejar em cima dos países membros incapazes de gerir a crise económica provocada pela pandemia do coronavírus, não passa de um efeito remoto da “planificação soviética” do tempo de Estaline e sucessores… De resto, num país como Portugal, já tivemos, em matéria de “planos” de apoio financeiro europeu a fundo perdido aos países mais atrasados da União, décadas de obras públicas e outras iniciativas sem qualquer dimensão sócio-económica reprodutiva e transformadora. Pelo contrário, os denominados “fundos europeus” mais não fizeram, do que contribuir para “fossilizar” as estruturas políticas portuguesas!

Esses fundos regionais – dezenas de milhares de milhões de euros durante 35 anos! – limitaram-se a sustentar empresas de mediana e baixa tecnologia, assim como sucessivos programas de alegada “formação profissional” geridos por sindicatos com poucos sócios e menos dinheiro ainda. Qualquer pessoa minimamente advertida imagina sem dificuldade, que, ao fim de três décadas e meia, a Comissão Europeia acabou por perceber que esses rios de dinheiro sem aumento competitivo da produtividade nacional – antes pelo contrário! – serviam apenas para alimentar as camadas de aderentes e participantes no novo sistema político comunitário. A anunciada operação monetária da UE não passa de um desses pseudo-planos regionais em grande formato. Não deixa de ser de notar que o Primeiro-Ministro português tenha decidido à última da hora prescindir dos “empréstimos” da UE, ou seja, as verbas sujeitas a juros que viriam aumentar a nossa dívida para além de 150% do PIB anual!

Com efeito, alguém terá explicado ao Primeiro-Ministro que nenhum desses subsídios europeus fará mais do que tapar os enormes buracos abertos desde já na economia portuguesa: uma quebra mínima optimista de 10% a recuperar, porventura, em quatro anos! Isto, naturalmente, se a promessa de uma vacina eficaz no próximo ano se cumprir, o que já foi mais certo! Na realidade, o confuso plano inicial atribuído ao Professor Costa Silva, presidente executivo da petrolífera privada PARTEX, já mostrava nada ter de consequente nem valorizador dos investimentos a financiar pela UE.

Tipicamente, para quem leu o alegado plano e a sua versão governamental, o último desses projectos nada tem de um plano articulado de investimentos susceptíveis de aumentar de forma palpável a produtividade da economia nacional! Com efeito, o que têm em comum um mini-TGV entre Lisboa-Porto e os recursos marítimos dos Açores? À primeira vista, nada! O mesmo acontece com as anunciadas transições da moda no sentido climático e digital, as quais também não são pensadas, nem em termos económicos, nem sociais. Não passam de “slogans” na moda. É certo, que o Governo pretendeu, sobretudo, mostrar um rascunho qualquer à presidente da Comissão Europeia, a qual, educadamente, estará neste momento a apresentá-lo aos seus colegas, para os quais a crise se tornou fundamentalmente monetária –injectar moeda no sistema, valha esta o que valer – em vez de económica e social, ou seja, uma oportunidade de efectiva mudança.

Que sentido tem, comprar mais camas de cuidados intensivos, imagino que importando-as do estrangeiro, como a vacina contra a Covid-19, ou aumentar os ordenados dos funcionários públicos empregados no sector da saúde? A que correspondem tais iniciativas no plano sócio-económico e/ou no das modernas transições climáticas e/ou digitais? Um verdadeiro plano é suposto ter um ponto de partida e uma série sucessiva de resultados que se transformam, por sua vez, em motores de futuras mudanças, modernizações e qualificações – ou não? Ilustrando o processo errático e propagandístico do tal “plano”, pergunto o que há de comum entre não sei que aumento das verbas a transferir para esses mal-afamados “lares de idosos”, onde se concentra metade ou mais dos óbitos da pandemia, e o aumento das indústrias de mais baixa produtividade do país, que são o turismo e a construção civil?

Antes de concluir a desmontagem dessa inabilidade básica do Governo actual para planificar o que quer que seja e que não se resuma ao aumento das despesas do Estado nem ao recrutamento de mais funcionários públicos, convém fazer duas observações. Uma delas foi logo enunciada pela presidente da Comissão Europeia na sua recente estadia em Portugal. Trata-se do aparelho judicial, desde os códigos elaborados por suas excelências os deputados da Nação, até ao comportamento dos agentes de um sistema cada vez mais exposto à corrupção e ao favoritismo, como todo o aparelho estatal dominado pelo Governo. O segundo ponto a salientar, desde já, perante o pseudo-plano apresentado à UE, é a total ausência de participação e de controle por parte de órgãos minimamente representativos da sociedade portuguesa, para além dessa caricatura de partidos políticos que são hoje, simultaneamente, os donos e os clientes do aparelho de Estado pago por nós.

COMENTÁRIOS:

José Pinto de Sá: Quem fala assim não é gago! Subscrevo.     Gens Ramos: Realmente, somos bons em açambarcar subsídios; e, o que resulta: habilidade em distribuí-los: e, o que resulta: mais uns anitos no poder. Victor Cerqueira: Não tem plano?! Claro que tem. Vejamos; 30% para as famílias e amigos. 30% para as empresas dos amigos e familiares 30% que se perde com a burocracia e a pequena corrupção sobram 10% que serão aplicados. Não tem plano? Está mais do que decidido: já andam a gastar por conta

 

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