Qual Inês Pereira, carregando
sobre o marido ao encontro do amante, “e
mais duas lousas”. Helena Matos explica, Manuel Villaverde Cabral demonstra: nação que é Pero Marques carregando com tudo e mais alguma
coisa, lousas que sejam; o Governo-Costa que é uma Inês Pereira astuciosa e
já experiente a respeito de maridos, preferindo, hoje, o burro, ao cavalo da sua
escolha anterior, António Costa dos tempos antigos
submisso ao cavalo Sócrates, dos tempos de agora montando, impante, no burro-povo,
e mais duas lousas, videirinho
astucioso fabricando o seu próprio destino - e nós o nosso, “pois assi se fazem as cousas” da nossa fábula
perene.
1 -Como é que se sai disto? /premium
Seis anos depois da prisão de Jośe Sócrates, o PS manda
sem moderação, sem oposição e com um PR destituído de noção. Em 2020, Portugal
é um país à disposição dos socialistas.
HELENA MATOS, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 11 out 2020
Procuradoria Geral da República. Tribunal de Contas. Banco de Portugal… Em todas estas instituições o PS assegurou o controlo.
De forma brutal às vezes. E todos os dias, em cargos superiores e intermédios
da administração pública esse assalto prossegue.
Tudo isto lembra os anos Sócrates. Mas
a situação é, em 2020, politicamente muito mais grave do que foi com Sócrates.
Porque agora não há escrutínio. Desta vez
não vai desembarcar nenhuma troika em Lisboa a querer vasculhar contabilidades
criativas; não existem investigações criminais a ameaçar a figura do
primeiro-ministro e, ainda mais importante, não existe alternativa política. Ao
contrário do que acontecia em 2011, a oposição à direita não tem agora líder
nem apoios; o BE e o PCP a quem foi entregue o monopólio do protesto estão
desde 2016 mudos e quedos à espera da sua parte no assalto ao aparelho de
estado e a UE não só agora não nos pede contas como, pelo
contrário, vai pagar-nos algumas nos próximos anos.
A
isto junta-se que, em 2020, em Belém, está Marcelo que vive em função da popularidade e não Cavaco
Silva, que vivia em função do que achava
que devia fazer.
Um
dos momentos-símbolo deste país ao dispor do PS aconteceu esta semana quando
Marcelo Rebelo de Sousa ao dar posse ao novo presidente do Tribunal de Contas
(TdC) começou a invocar a Constituição para justificar a não recondução do
anterior presidente daquele tribunal. Dão-se alvíssaras a quem encontrar na
Constituição o artigo invocado por Marcelo Rebelo de Sousa para justificar a
não recondução de Vítor Caldeira!
A actualidade tornou-se uma sucessão de absurdos que só se entendem à
luz do assalto dos partidos ao aparelho de estado: num dia
descobrimos que o país pode ganhar mais seiscentas freguesias (mesmo que não
seja imediatamente por causa das autárquicas, lá teremos esse “enorme
aprofundamento da cidadania” na discussão do próximo orçamento); no outro somos
informados que António Costa e Rui Rio decidiram que os presidentes das
Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) previamente
escolhidos por eles são eleitos pelos seus pares. Não, não é uma anedota é
mesmo assim: primeiro
Costa e Rio escolhem os futuros presidentes e depois têm lugar as eleições para
eleger os presidentes já escolhidos! Felizmente
que a pátria anda entretida a contar anedotas sobre o Trump e portanto não tem
tempo para perceber que a anedota é ela, a pátria.
Já
o PCP escolheu muito adequadamente para formalizar a última reivindicação dos
comunistas aos seus parceiros socialistas — mais 100 mil funcionários
públicos — um jovem deputado cujo curriculum profissional é uma variante do
clássico “passageiro do paquete Niassa” pois o deputado em questão
além da vida partidária apenas se destaca por ter integrado o Comité
Organizador Internacional do 19.º Festival Mundial da Juventude e dos
Estudantes (Rússia, 2017) seja isso o que for. Para que não nos falte nada neste regresso ao pior do
passado até temos uma “candidatura ibérica” ao Mundial de Futebol de 2030 que o
secretário de Estado do Desporto declarou como “uma coisa absolutamente
extraordinária e importante” A criação
de mais camadas na administração pública a par de legislação mais intrusiva
para as empresas e famílias são à direita e à esquerda as respostas do PS às
exigências dos seus parceiros e à voracidade da sua máquina partidária.
Como é que se sai disto? Em
primeiro lugar, para se sair disto era necessário que os protagonistas
quisessem sair e nenhum deles quer: o PS não quer deixar o governo; Rui Rio não quer ser governo; o BE e
o PCP não podem nem querem deixar de apoiar o PS.
Em segundo, convém não esquecer que nos anos de
Sócrates se falava de asfixia democrática
para dar conta do controlo que então o
PS estendia a toda a sociedade. Em 2020, o
processo de controlo não é menos intenso mas é mais eficaz: vivemos
uma espécie de intoxicação, não se resiste, vamo-nos deixando adormecer.
Em terceiro não sabendo
eu como é que se sai disto sei exactamente o que vai acontecer após tal facto: tudo
voltará a ser inconstitucional como o professor Marcelo explicará.
E em quarto, embora não
seja propriamente uma saída, antes um atalho, que tal
encarar a candidatura à autarquia de Lisboa como o primeiro de vários momentos
de desmontagem do poder socialista?
2 - O "plano" que não é um plano…/premium
Em matéria de "planos" de apoio financeiro
europeu a fundo perdido, já tivemos décadas de obras públicas e outras
iniciativas sem qualquer dimensão sócio-económica reprodutiva e transformadora.
MANUEL VILLAVERDE
CABRAL
PÚBLICO,02 out 2020
A
reinvenção da União Europeia (UE), ao falar em “plano” acerca dos montões de
euros que a Comissão decidiu imprimir e despejar em cima dos países membros
incapazes de gerir a crise económica provocada pela pandemia do coronavírus,
não passa de um efeito remoto da “planificação soviética” do tempo de Estaline e sucessores… De
resto, num país como Portugal, já tivemos, em matéria de “planos” de apoio
financeiro europeu a fundo perdido aos países mais atrasados da União, décadas
de obras públicas e outras iniciativas sem qualquer dimensão sócio-económica
reprodutiva e transformadora. Pelo contrário, os denominados “fundos europeus”
mais não fizeram, do que contribuir para “fossilizar” as estruturas políticas
portuguesas!
Esses fundos regionais
– dezenas de milhares de milhões de euros durante 35 anos! – limitaram-se a sustentar empresas de mediana
e baixa tecnologia, assim como sucessivos programas de alegada “formação
profissional” geridos por sindicatos com poucos sócios e menos dinheiro ainda. Qualquer pessoa minimamente advertida imagina sem
dificuldade, que, ao fim de três décadas e meia, a Comissão Europeia acabou por
perceber que esses rios de dinheiro sem aumento competitivo da produtividade
nacional – antes pelo contrário! – serviam apenas para alimentar as camadas de
aderentes e participantes no novo sistema político comunitário. A anunciada operação monetária da UE não
passa de um desses pseudo-planos regionais em grande formato. Não deixa de ser de notar que o Primeiro-Ministro
português tenha decidido à última da hora prescindir dos “empréstimos” da UE,
ou seja, as verbas sujeitas a juros que viriam aumentar a nossa dívida para além de 150% do PIB anual!
Com efeito, alguém terá explicado ao
Primeiro-Ministro que nenhum desses subsídios europeus fará mais do que tapar
os enormes buracos abertos desde já na economia portuguesa: uma quebra mínima optimista de 10% a recuperar, porventura, em
quatro anos! Isto,
naturalmente, se a promessa de uma vacina eficaz no próximo ano se cumprir, o
que já foi mais certo! Na realidade, o confuso plano inicial atribuído
ao Professor Costa Silva, presidente executivo da petrolífera privada
PARTEX, já mostrava nada ter de consequente nem valorizador dos investimentos a
financiar pela UE.
Tipicamente,
para quem leu o alegado plano e a sua versão governamental, o último
desses projectos nada tem de um plano articulado de investimentos susceptíveis
de aumentar de forma palpável a produtividade da economia nacional! Com efeito, o que têm em comum um mini-TGV
entre Lisboa-Porto e os recursos marítimos dos Açores? À primeira vista, nada! O mesmo acontece com as anunciadas
transições da moda no sentido climático e digital, as quais também não são
pensadas, nem em termos económicos, nem sociais. Não passam de “slogans” na
moda. É certo, que o Governo pretendeu, sobretudo, mostrar um rascunho
qualquer à presidente da Comissão Europeia, a qual, educadamente, estará neste
momento a apresentá-lo aos seus colegas, para os quais a crise se tornou
fundamentalmente monetária –injectar moeda no sistema, valha esta o que valer –
em vez de económica e social, ou seja, uma oportunidade de efectiva mudança.
Que sentido tem, comprar mais camas
de cuidados intensivos, imagino que importando-as do estrangeiro, como a vacina
contra a Covid-19, ou aumentar os ordenados dos funcionários públicos
empregados no sector da saúde? A que correspondem tais iniciativas no plano
sócio-económico e/ou no das modernas transições climáticas e/ou digitais? Um verdadeiro plano é suposto ter um
ponto de partida e uma série sucessiva de resultados que se transformam, por sua
vez, em motores de futuras mudanças, modernizações e qualificações – ou não? Ilustrando o processo errático e propagandístico do
tal “plano”, pergunto o que há de comum entre não sei que aumento das verbas a
transferir para esses mal-afamados “lares de idosos”, onde se concentra metade
ou mais dos óbitos da pandemia, e o aumento das indústrias de mais baixa
produtividade do país, que são o turismo e a construção civil?
Antes
de concluir a desmontagem dessa inabilidade básica do Governo actual para planificar
o que quer que seja e que não se resuma ao aumento das despesas do Estado nem ao
recrutamento de mais funcionários públicos, convém
fazer duas observações. Uma delas foi logo enunciada pela presidente da
Comissão Europeia na sua recente estadia em Portugal. Trata-se do
aparelho judicial, desde os
códigos elaborados por suas excelências os deputados da Nação, até ao
comportamento dos agentes de um sistema cada vez mais exposto à corrupção e ao
favoritismo, como todo o aparelho estatal dominado pelo Governo. O
segundo ponto a salientar, desde já, perante o pseudo-plano apresentado à UE, é a total ausência de participação e de
controle por parte de órgãos minimamente representativos da sociedade
portuguesa, para
além dessa caricatura de partidos políticos que são hoje, simultaneamente, os
donos e os clientes do aparelho de Estado pago por nós.
COMENTÁRIOS:
José Pinto de Sá: Quem fala
assim não é gago! Subscrevo. Gens Ramos: Realmente,
somos bons em açambarcar subsídios; e, o que resulta: habilidade em
distribuí-los: e, o que resulta: mais uns anitos no poder. Victor Cerqueira: Não tem plano?! Claro
que tem. Vejamos; 30% para as famílias e amigos. 30% para as empresas dos
amigos e familiares 30% que se perde com a burocracia e a pequena corrupção sobram
10% que serão aplicados. Não tem
plano? Está mais do que decidido: já andam a gastar por conta
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