… a tese de Alberto Gonçalves, a respeito de nós, portugueses abúlicos. Ou mansos, tanto faz:
Ah,
que me metam entre cobertores,
E
não me façam mais nada!...
Que
a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que
não se abra mesmo para ti se tu lá fores!......... Mário de Sá Carneiro
… “Delirium tremens”, o caso de Alberto
Gonçalves, na ferocidade da sua crítica inamovível à actuação arbitrária
de A. Costa - AG fechando sistematicamente os olhos aos
outros casos, que vão pelo mundo, que também impõem mascarada, aparentemente
para bem de todos…
O certo é que o retrato sobre Costa lhe fica a matar… a ele,
Costa, é claro.
E o
nosso retrato também, por mim falo, mas não sei se AG se inclui
nalgum deles.
O dr. Costa foi o pior que podia ter
acontecido a Portugal /premium
Há tempos que o regime de
arbitrariedade que o dr. Costa inaugurou se encontra em rédea solta, e de agora
em diante é lícito esperar mais delírios, e delírios mais ilícitos e mais
delirantes.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR, 17 out 2020
Há exactamente cinco anos, enquanto a
esquerda celebrava e parte da “direita” lhe chamava “príncipe da política”,
previ, porque era fácil prever, que o dr. Costa arrastaria o país para uma
ditadura. Há
exactamente uma semana, constatei, porque os sinais não deixavam dúvidas, que a
ditadura do dr. Costa se consumara de vez.
Anteontem, parte da “direita” começou a desconfiar de haver a possibilidade,
vaga, rebatível e provisória, de o dr. Costa possuir uma ligeira, ligeiríssima,
vocação autoritária. Como diria uma criança de dez anos, a sério? Parte da
“direita” parece composta por crianças de cinco. Ou por oportunistas de
quarenta.
Dado
não me interessar pela dimensão caipira da política, desconheço as proezas
do dr. Costa na fase de autarca (dizem-me coisas lindas). Desde que
usurpou as “legislativas” de 2015, com uma aliança cozinhada às escondidas com
dois partidos leninistas, a aversão do homem à democracia é notória, e o seu
recurso à dita meramente instrumental. A tirania está na natureza do dr. Costa,
e não há verniz que a cubra ou engane. Excepto os tontos, que adoram ser
enganados.
Os
tontos, que em cinco anos não repararam na voraz conquista do Estado e da vida
privada pelo PS, desataram a duvidar dos méritos democráticos do dr. Costa esta
semana, a propósito da obrigatoriedade da máscara e de uma “aplicação” que visa
detectar a Covid e afinal só detecta os devotos que a instalam. Pelos vistos, a tomada da PGR, do Banco de
Portugal, do Tribunal de Contas, da Assembleia da República, da Presidência da
República, da Justiça, do ensino, dos “media” e de tudo, tudo, tudo, tudo não
os inquietou nem um pedacinho. Grave
é a máscara e grave é a “aplicação”. Aliás,
grave é a “aplicação”, já que aparentemente meio
mundo não reparou no truque e está disposto a usar a máscara 24 ou 25 horas por
dia logo que não tenha de usar a “aplicação”. O truque é eficaz.
E
o truque é principalmente eficaz perante uma população disposta a engoli-lo. O
dr. Costa explicou isto por diferentes palavras: “As
medidas só são autoritárias se as pessoas não as fizerem [sic] já
espontaneamente”. Ou seja,
ele, coitado, nem gosta de mandar: apenas manda quando não obedecemos, castiga
quando não cumprimos, enfurece-se quando não rastejamos, dóceis, a seus pés. Para
felicidade do dr. Costa, e em prol do bem-comum, o português médio é
obediente, cumpridor e tendente a rastejar.
Por isso a ditadura em vigor não apresenta as marcas extremas de outras
ditaduras. Temos saneamentos. Temos espancamentos (quase consumados pelo
Burgesso Supremo em plena rua). Não temos, por exemplo, fuzilamentos. Fuzilar quem, se 99% da população aplaude a
experiência de engenharia social em que a enfiaram a pretexto da Covid?
Para o dr. Costa, a Covid, um vírus que mata tanto quanto a gripe
num ano em que os portugueses decidiram não morrer de gripe, é de facto um
pretexto. um pretexto para entreter as pessoas
com histeria sanitária e consumar a fase final do assalto socialista Primeiro,
à máquina pública e aos dinheiros de “Bruxelas”. Depois,
um pretexto para testar aquilo que nenhuma ditadura dispensa: a vassalagem
das pessoas a imposições estapafúrdias e crescentemente humilhantes. Em
“Bananas”, de Woody Allen, a proclamação inicial do novo ditador é estabelecer
o sueco como língua oficial. Nestes meses do vírus, com o beneplácito das marionetas
na DGS, no parlamento, nas televisões ou em Belém, o dr. Costa bombardeia
regularmente os portugueses com incontáveis “medidas”, tão grotescas que fazem
a obrigação do sueco parecer razoável. Se uma ditadura pode passar sem
fuzilamentos, não passa sem enxovalhar as massas. E as massas daqui são óptimas
no enxovalho.
É
evidente que, ao contrário do que sugerem os tontinhos, a história da
“aplicação” e das máscaras permanentes não indicia que possamos cair numa
ditadura: é o tipo de delírios de quem já caiu. Há tempos que o regime de arbitrariedade que
o dr. Costa inaugurou se encontra em rédea solta, e de agora em diante é lícito
esperar mais delírios, e delírios mais ilícitos e mais delirantes. As ditaduras não vivem exclusivamente de sombras e
opressão: as macacadas são indispensáveis. Não basta pisar os cidadãos, é
fundamental pisá-los com gozo. Por sorte, a vasta maioria de cidadãos também se
diverte ao ser pisada.
Por azar, a ínfima minoria que não
aprecia o dr. Costa e a medonha arrogância do dr. Costa alimenta a esperança de
sair disto através da acção redentora de um partido. Esquecem-se que em
ditadura os partidos existem na medida em que servem, de alguma maneira, o
poder vigente. Do PSD, ávido pelas migalhas da mesa socialista, ao Chega,
ávido pelas migalhas do PSD e enamorado das polícias que o dr. Costa lança aos
prevaricadores, estas simpáticas agremiações não contam. Não perguntem aos
partidos o que podem fazer por vocês, perguntem o que vocês podem fazer para
não necessitar dos partidos.
Ocorre-me uma resposta: desrespeitar. Ceder a
um poder ilegítimo é colaborar na respectiva legitimação. Perante a prepotência, sobra a
resistência, resistência a sério. Não é
mandar uns piropos no Twitter. Não é aplaudir o senhor de Famalicão que poupou
os filhos dele ao mofo da “cidadania” e em simultâneo manter os próprios filhos
na dita “disciplina”. Não é protestar o uso de máscara na rua e colocá-la com
receio da multa. Não é pagar a multa. Não é evitar chatices. É resistir,
resistir mesmo, individualmente e até às últimas consequências, que no regime
actual são imprevisíveis e previsivelmente desagradáveis. Pelos meus cálculos, cerca de
215 portugueses estarão dispostos a trocar a segurança de um vexame pelos
riscos da liberdade. Sou um optimista, eu sei.
“Senti
muito claramente que era preciso haver um abanão na sociedade”, disse o dr.
Costa há dias, a rir de um povo submisso. Um abanão era útil, sim. Mas isso
implicaria gente com vergonha na cara, e não uma máscara. António
Costa, o Grande Tiranete, foi o pior que podia ter acontecido a Portugal, logo
a seguir aos portugueses.
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